terça-feira, 30 de setembro de 2008

Enquete



Aguardem, em breve, a enquete Betty Faria.

Mini Miss Mundo



Vocês acreditam que ainda tem gente incomodada com os posts que escrevi sobre o Mini Miss Mundo? Imbecis mandando desaforo pelo email aqui do blog, outros tentando clarear as minhas idéias sobre o evento, outros xingando mesmo? Só que tem um pequeno detalhe: não mudo um milímetro sequer a minha opinião sobre o fato e não é por intransigência, não, é por convicção. Sacaram a diferença?
E se é pra baixar o nível, bora: beleza por beleza, minha filha é muito mais bonita. Só que com uma diferença: nós não a estamos colocando à venda.





Cansei dessa bosta toda.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Olhando pra lente da verdade



Bruno disparou:

Eu gosto muito da Playboy. E a primeira coisa que eu abro pra ver são as mulheres peladas. A revista vende por essa simples razão: homem gosta de ver mulher pelada. Simples. Homem também gosta de falar de outras mulheres, gosta de azarar mulheres, enfim, homem, entendido culturalmente, *sem nenhuma exclusão das minorias sexuais, gosta de mulher. e não unicamente da sua.
Eu achei legal a Kenia tocar nesse assunto, mas ela só tangenciou a questão mais delicada. Então, como sei que ela me permite, vou perguntar às mulheres: E se "seu" homem, seu marido, tivesse ido a uma festa e "ficado", ou melhor, bebido, dançado, transado com OUTRA mulher. Você acabaria o relacionamento? Você "ficaria" com OUTRO homem pra se vingar? Ou você pensaria assim: é, homem gosta de mulher. Normal. Eu tenho que descobrir o que eu gosto para não ficar me incomodando com o outro quando ele realiza os seus desejos.
Beijos.
Bruno



Convido não só as mulheres, mas também os rapazes, a responder a pergunta de Bruno.


Bruno, veja se estou certa na minha interpretação do que você escreveu: *sem nenhuma exclusão das minorias sexuais=sem menosprezar as minorias sexuais?

Enquete



Aguardem, em breve, a enquete Betty Faria.

domingo, 28 de setembro de 2008

A primeira comunhão a gente nunca esquece...



Ontem passei por uma loja de artigos religiosos católicos e vi, logo na entrada, trajes para primeira comunhão. Imediatamente relembrei a minha. Eu tinha uns sete anos. Foi um acontecimento: usei um vestido comprido e branco e uma tiara linda, de flores, no cabelo. Ao contrário de outros trajes que tive de usar em outras ocasiões específicas, lembro que deste gostei muito. Por ter crescido com meus avós, convivi com imagens de damas antigas e suas saias compridas e armadas, seus chapéus e demais penduricalhos, essa parte foi fácil e até prazerosa, portanto.

E a coisa toda se passou na escola, veio um padre com confessionário e tudo. Recordo também a expectativa, o medo da confissão, de errar as orações. Um verdadeiro ritual de passagem.

Meus pecados, na época muito singelos, foram dois: Padre, eu quebro as minhas bonecas - por acidente e desembestamento, nada de sadismo, vejam vocês -, e respondo à minha avó. Um pai-nosso e uma ave-maria.

Fico pensando se fosse hoje... Bem, uma vez no inferno, o negócio é abraçar o capeta.

sábado, 27 de setembro de 2008

Morre Paul Newman






A fonte que eu consultei diz que ele morreu hoje e, num parágrafo posterior, ontem, sexta-feira. Fica só a foto e a lembrança desses maravilhosos olhos azuis. Fonte, nem de água mineral, dá mais pra confiar...

Tem amiga bem resolvida e gaiata quem pode!



RE: Você se garante?
Alowra!
Menina, eu até que me garanto rssss mas sem sair de casa num dá pra arranjar é nada, por mais gostosa que eu seja rssss
Léo disse que eu sou linda e maravilhosa, num arranjo ninguém pq ando muito exigente e tb pq num saio... mas filho num vale, né?
Mas é verdade mesmo, se num saio mais de casa... o cara é que num vai bater na minha porta, assim é demais! rssss
Mas é sério, eu num tenho aquela paranóia de dizer q num quero mais, eu quero sim, só q agora eu quero uma coisa séria, pra valer.
Não faço tipo de ficar sozinha pra sempre.
Mas vamos aguardar, né?
Lembrei de Paul, pouco antes de te conhecer, qdo era assediado por um bando de malucas e ele confidenciou que estava cansado daquilo e que só queria se dedicar exclusivamente à mulher da vida dele. :)
Eu estou nessa fase rsssss
Mas veja bem, não a mulher da minha vida :P
é ômi mermo!
Beijos
R.



Reprodução de email devidamente autorizada.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Você se garante?



Falando em revista de mulher pelada, já aconteceu de uma conhecida minha ficar horrorizada porque eu deixo meu marido assinar a Playboy. A pessoa ficou indignada mesmo, como se eu estivesse empurrando Paul para a devassidão ou dando autorização para ser traída.

Particularmente, essa questão nunca me incomodou. Paul coleciona a Playboy desde moleque - uma das histórias que ele conta é que vendeu a de Luciana Vendramini a preço de ouro -, essas coisas. Sem contar que eu adoro as entrevistas, as dicas de gastronomia, cinema, etc.

Honestamente, não sou o tipo de pessoa que tomaria uma atitude dessas. Não me sinto incomodada, preterida ou menosprezada. Claro que tem muito retoque nas fotos, mas também tem muita mulher linda, poderosa. E isso me afeta? Não! Não tenho como objetivo de vida ser a mais bonita nem a mais gostosa da face da terra. Não é preciso abrir uma revista desse tipo para ver mulher bonita. Se fosse assim, era viver em eterna paranóia, não? Porque em qualquer lugar que você vá, há mulher bacana. É certo que não se vê nenhuma pelada em shopping ou andando na rua, mas o poder da imaginação existe e não deve ser subestimado.

Claro que me cuido, uso meus creminhos, freqüento a academia com disciplina mesmo porque a atividade física faz parte da minha rotina desde sempre, mas não vivo obcecada por beleza, minhas prioridades são outras. E também estou numa etapa da vida (segundo casamento, já há um ano na turma dos enta y otras cositas más) que ou eu me oriento de maneira razoável com relação a determinadas prioridades ou vou ser muito infeliz. Porque beleza e juventude não duram para sempre, a lei da gravidade é implacável e se você não se prepara para isso, vai ser uma pessoa infeliz, rancorosa, despeitada, amarga. Vi de perto um exemplo desses, mas é assunto para outro post.

Mas e a mercantilização do corpo da mulher? A coisificação do feminino e tal? Sinceramente? Se tem quem pose e quem compre, paciência. É uma exposição adulta, consentida e, na revista em questão, rentável para quem faz. Muita gente se vende de maneira mais discreta, socialmente aceita e, muitas vezes, mais obscenamente do que se expusesse o próprio corpo. Sim, porque essa mesma criatura que se doeu pelo fato de eu não impedir a entrada da revista aqui em casa, vive uma relação neurótica com o marido: tem medo até da sombra de uma saia cuja dona seja, segundo a sua avaliação, atraente.

Quem quiser que ache ruim, mas não sou moralista, não nesses termos. Guardo determinadas ressalvas para assuntos que realmente possam afetar a minha vida de forma concreta e não no nível da imaginação. De modo geral, o casal já faz concessões para manter a relação equilibrada, agora vou eu implicar com a Playboy de Paul? Ah, faça-me o favor.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Out of order



Alguns aparelhos elétricos aqui de casa resolveram fazer greve conjunta e, pra variar, tratar com assistências técnicas é uma coisa estressante, que requer calma, paciência e uma boa dose de resignação, itens que andam em baixa na pessoa que vos escreve.

Você liga para a assistência e informa o problema. Tem sorte se a criatura do outro lado da linha entender o que você diz de primeira. Depois, você agenda o dia da visita do técnico. Se você só pode recebê-lo à tarde, ele vem de manhã e vice-versa. O que alega? Ah, eu estava num atendimento aqui perto e resolvi passar. Isso todo cheio de direito e indignado porque deu com a cara na porta. Pode? Claro que sim, e parece até que deve...

Hoje mesmo vinha um. Ligou logo cedo dizendo que estava chegando. Desligou. Ligou de novo, meio segundo depois, para lembrar da taxa de visita (oh, sim, 25 pilas fora o conserto em si). Até agora o cretino não chegou e eu estou esperando sentada porque em pé cansa.

Aí quando eu ligo para a assistência botando fogo pelas ventas, e a atendente, com a voz mais calma da face da terra, diz que vai reagendar a visita e colocar uma observação sobre o horário - só agora, flor? -, eu só penso em morar no meio do mato, cercada de bichos por todos os lados, porque lidar com gente, meu povo, é coisa que eu já não agüento mais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

De mulher pra mulher...






Parece que a revista Playboy está querendo repetir o ensaio fotográfico (1985) com a atriz Claudia Ohana.
Ela continua lindinha como sempre, né, gente?





Vai, Claudia, topa. O povo aqui do Leite de Cobra te apóia e incentiva:




terça-feira, 23 de setembro de 2008

Testemunhas de Jeová



A Missão, parte III





Você poder ser hare krishna. Você poder ser kardecista. Você pode ser ateu. Você pode ser budista. Você pode ser católico. Você pode ser agnóstico. Você pode ser muçulmano. Você pode ser evangélico. Você pode ser judeu. Você pode ser xintoísta. Você pode ser até testemunha de jeová. Você pode fundar a sua igreja, o que pode ser até um bom negócio. Como dizia Baby quando ainda não era do Brasil, baseado em mim você pode fazer quase tudo...

Só não venha invadir o meu espaço. Só não queria me fazer de idiota porque isso não se faz. Só não minta, só não venha com estratégias porque isso me exaspera. Já fui abordada, via interfone, por representantes comerciais das Testemunhas de Jeová, vocês lembram disso. Na primeira investida, foi a tal Ana não-sei-das-quantas falando de um grupo de estudos em inglês. Depois dois gaiatos juntos, os quais foram despachados no ato, via porteiro, nem me dei ao trabalho de ouvir o que quer que fosse. Hoje o telefone toca, era a mesma Ana. O número aqui de casa! A mesma conversa falaciosa de grupo de idiomas, projeto cultural. Dessa vez, dei nome aos bois. De novo, Ana? Que mané grupo, minha filha, você é Testemunha de Jeová à procura de fiéis para sua seita. Diga a que veio sem estratagemas, é mais honesto, pelo menos esse mérito eu poderia apreciar em vocês. Você tem vergonha de ser Testemunha de Jeová, Ana? Pensando bem, eu, no seu lugar, teria. Que outro motivo além de vergonha, ou falta dela, alguém poderia ter para invadir a casa dos outros assim, mentindo, em nome de Jeová ou de quem quer que seja?

domingo, 21 de setembro de 2008

Uma mini miss...






Desde que começou essa história do Mini Miss Mundo e se instalou a polêmica aqui no blog, tenho lembrado de um caso que ocorreu nos Estados Unidos, em 1996, envolvendo uma mini miss. A criança, com 6 anos na época, foi encontrada morta no porão da sua casa, espancada, estuprada e estrangulada, não sei se vocês lembram. O crime foi amplamente noticiado e, inicialmente, a polícia suspeitou dos pais, mas depois foi constatado que ela foi assassinada por um pedófilo. A mãe morreu um tempo depois, aos 49 anos, de câncer.

Sempre que eu lia sobre o concurso de Mini Miss Mundo ou alguém vinha aqui defendê-lo, esse caso me vinha à mente, só que eu não dispunha de tempo para pesquisá-lo. Hoje estou trazendo algumas informações sobre JonBenet Ramsey, uma menina realmente linda, que teve um fim tão trágico. Mesmo havendo dúvidas sobre a autoria (o DNA do acusado não coincide com o que foi encontrado nas roupas da menina), o mesmo confessou o crime, embora alegando que a morte de JonBenet fora acidental.





Durante toda a discussão sobre o concurso aqui no Leite de Cobra, muito falamos sobre a infância roubada e quase nada sobre a questão, atualmente alarmante, da pedofilia. E o que realmente me deixa indignada é alguém vir aqui se queixar porque expus fotos da mini miss gaúcha como se fosse uma criminosa e essa mesma
pessoa não atentar para o fato de que a própria família está expondo a criança nos programas de TV, nas revistas, na mídia on-line. Como falei antes, nos comentários, será que esses pais não cogitam a possibilidade de as fotos dessa criança estarem servindo de inspiração para pedófilos?

Obviamente que a pequena JonBenet poderia ter sido morta por um pedófilo enquanto estivesse brincando, como uma criança normal, no jardim da sua casa. Mas não teriam a exposição, a maquiagem, as roupas inapropriadas para uma criança contribuído para o que lhe aconteceu? Eu não tenho dúvidas quanto a isso.

Leia um pouco da história de JonBenet Ramsey aqui e aqui.




quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mini Miss Mundo



Eu nem ia mais tocar nesse assunto, mas como ainda tem gente que insiste em dizer que isso é coisa séria e merece ser estudada e analisada com profundidade, além de algo extremamente natural para uma criança ainda na primeira infância, vou publicar a matéria que saiu na Veja, gentilmente enviada pela Lovely Potato.
A matéria visa a reforçar e ampliar a nossa percepção do quão profundo e edificante é esse universo paralelo.

VEJA
Edição 2078
17 de setembro de 2008

A menina mais bonita do mundo

Aos 5 anos, a loirinha Natália, vencedora de um concurso
internacional de miss, brinca com bonecas e leva a vida
quase como toda criança – quer dizer, com viagens, batom
e uns retoques no cabelo


Sandra Brasil

Fotos Lailson Santos e Álbum de Família





BARBIES E BELEZURA
Natália faz pose: ela vai bem na escola e adora brincadeiras; também distribui autógrafos e encara a passarela, como na foto à direita, no Equador, de vestido longo, faixa e coroa

Natália Stangherlin faz luzes no cabelo, só sai de casa maquiada e tem uma coleção de vestidos de festa. Em viagens profissionais, leva cabeleireiro e maquiador próprios. Natália tem 5 anos e dois segredos que serão revelados ao fim desta reportagem – mas, se todo mundo for ler primeiro, perderá a graça. Ela acaba de ser eleita a menina mais bonita do mundo, em concurso de miss em que venceu 22 outras pequenas mas aguerridas concorrentes, da América Latina e do Caribe. O título bordado na faixa, em inglês, foi abiscoitado no concurso Miss Niña Mundo em Guaiaquil, no Equador. Sob os aplausos ansiosos da mãe, Daniela, e dos assessores estéticos, a miss de 1,20 metro desfilou de maiô, traje típico, fantasia para show de talentos e traje de gala – este, um longo azul bordado com 8 000 cristais. Nos vinte dias que antecederam o desfile, preparou-se com uma maratona de oitenta horas de ensaio que teve aconselhamento inclusive de Evandro Hazzy, administrador de empresas gaúcho que se especializou em concursos de beleza e hoje se intitula "missólogo" (veja quadro). "Natália aprendeu a cativar os juízes olhando nos olhos deles e jogando beijinhos", diz Daniela, 32, que desenvolveu uma linguagem em códigos para aprimorar a presença da filha na passarela. "Quando ela passa por mim e eu digo ‘borboletinha da mamãe’, é para sorrir. Se eu falo ‘princesa da mamãe’, é para encolher a barriga e arrumar a postura", explica. No Equador, a técnica foi infalível. "Os jurados gostaram da simpatia e da elegância dela", afirma o equatoriano Cesar Montece, organizador do Niña Mundo. O tipo de comentário que Natália recebe com a mesma superior naturalidade com que distribui aos fãs cartões em que aparece em poses de modelo, sorrindo e fazendo biquinho com a boca.

Natália desfila em concursos de beleza infantil desde os 2 anos e meio e acumula meia dúzia de títulos. Só de vestidos longos estilo princesa tem doze, guardados num armário feito especialmente para eles. Seu patrocinador é o pai, Fabiano Stangherlin, 29, dono de uma rede de supermercados em Santa Maria, tradicional pólo de imigrantes italianos. A vidinha no circuito da beleza infantil é exigente. Para chegar em primeiro lugar no concurso do Equador, Natália ficou em segundo no Mini Miss Rio Grande do Sul no fim do ano passado, mudou de saltinho e bagagem para o Mini Miss Santa Catarina; ganhou, concorreu no Mini Miss Brasil em Salvador em julho, ganhou e, de lá, partiu para a glória em Guaiaquil. "Já devo ter gastado uns 70.000 reais nesses desfiles", calcula Stangherlin. "Mas vale a pena. Nossa filha fica feliz e a Dani, realizada." Confirmando plenamente o clichê, a mãe concretiza na filha os próprios sonhos, sem a menor tentativa de disfarçar a projeção. Quando criança, Daniela cobiçava uma vaga de paquita no programa de Xuxa. Na adolescência, fez alguns trabalhos como modelo e tentou ser miss Santa Maria, mas só chegou a Rainha das Piscinas. Atualmente, estuda marketing, trabalha com o marido e disputa corridas de carro – além, claro, de ver e fazer Natália brilhar. "Como toda mãe acha a filha linda, recorri ao Evandro, que é especialista em misses, para saber se deveria investir na beleza da minha. A resposta foi animadora, segui em frente e o resultado está aí. Ela é a minha Barbie tamanho grande", diz.

Em Santa Maria, Natália brinca e vai à escola como qualquer criança de sua idade. Louca por bonecas, assiste a desenho animado, faz balé clássico e está na 1ª série do ensino fundamental. "Ela é cativante, participativa, está alfabetizada e só não tem ainda fluência na leitura. Quando falta, damos aula de reforço", elogia a diretora, Silvia Teixeira. Come tudo que criança gosta, principalmente se for pizza de mussarela, e tem uma babá exclusiva – há outra na casa para cuidar do irmão, Mateus, 2. É, claro, vaidosíssima. "Ela mesma pede para refazer as luzes no cabelo quando a raiz mais escura aparece", informa a mãe, que a leva ao cabeleireiro desde os 2 anos. Também usa apliques para aumentar o volume, tanto de cabelo solto quanto de rabo-de-cavalo. Em matéria de maquiagem, prefere marcas francesas, como Lancôme e Dior. Sabe passar batom, mas pede ajuda no resto. Na infalível bolsinha, carrega um celular cor-de-rosa, um vidrinho de perfume, gloss para os lábios e um grampo. Grampo? "É para prender na roupa a faixa de miss", explica.

Concursos infantis de beleza são uma novidade relativamente recente no Brasil e estão se tornando populares, em especial na Região Sul, onde existem ao menos dez competições, dirigidas a meninas de 3 a 13 anos. "Temos um cadastro com 2 000 nomes", diz a empresária Daniela D’Avila, de Curitiba, responsável pela organização de seis concursos infantis nacionais e por levar candidatas brasileiras a competições internacionais. "O Niña Mundo, que a Natália ganhou, está na lista dos doze mais importantes." A psicanalista Isabel Khan Marin, professora da faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, faz alguns alertas. "A criança pode passar a acreditar que é a melhor em tudo e ser excluída do grupo em que convive", diz. Além disso, a miss em potencial "só vai encarar como brincadeira, como deve, se seus pais fizerem o mesmo, o que raramente acontece". Não é preciso ser especialista para perceber os riscos emocionais que uma criança corre ao ser submetida a julgamentos por critérios estéticos. Contrariando os clichês, no entanto, Natália parece uma menina perfeitamente feliz. É a mãe, Daniela, que demonstra certa dor no coração ao admitir que agora a menina chegou "ao ponto máximo" e está na hora de "dar um tempo nos concursos" – o pai ouve e sorri com o jeito de quem não acredita numa palavra. A própria Natália, à clássica pergunta sobre o que quer ser quando crescer, responde: "Quero ser igual a minha mãe e trabalhar no supermercado". E, quando o sono chega, pede: "Mãe, dá meu b-i-c-o". Ela acha que, soletrando, pessoas estranhas não vão entender que quer a chupeta – seu primeiro segredo. O segundo é que ainda toma mamadeira. Amparada por ambos, dorme como um anjinho.


D-E-P-R-I-M-E-N-T-E!


Update: A novela ainda está rendendo aqui.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Licença poética



Hoje conheci uma mulher. Conversávamos sobre como está cada dia mais difícil encontrar pessoas com o mínimo de educação, de delicadeza. Que muitas vezes ficamos mudas, com cara de tacho diante de uma grosseria simplesmente porque não esperávamos por ela. E depois dá aquela raiva, aquele sentimento de impotência por não ter reagido à altura. Mas quer saber? Viver sempre armada à espera de revidar o primeiro coice também não é vida. Melhor administrar a raiva e a impotência, fazer o quê?

Então essa mulher me contou a última que lhe ocorreu, de como foi ofendida pela síndica do seu prédio. E de como chorou por causa disso. Porque está muito fragilizada. Há pouco tempo, perdera a mãe. Uma semana depois, o irmão. E, por conta do choque com esse segundo falecimento, sua filha, que mora fora do país e estava grávida, perdeu o bebê. Na bucha: mãe, irmão e neto, o primeiro filho de sua filha. E como se não bastasse, teve de tomar uma decisão difícil: ficar e enterrar o irmão ao invés de estar com a filha. Ela não sabe ainda se a moça entendeu sua decisão.

Aí chega alguém do nada e porque acordou do lado errado da força, resolve descarregar sobre a pessoa o peso do seu azedume e falta de educação. Uma criatura dessas se permite, não? Acha que nem o céu é o limite. De modo que, mesmo tendo eu sido criada a pão-de-ló pela minha amada avó e tendo também essa carinha de moça fina e por vezes imbecil, também me concedo o direito, também me permito a licença poética de mandar uma criatura dessas se foder.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O dia em que visitei Beslan






E aquela imagem não sai da minha cabeça.
Destroços, fumaça, corpos, medo. Sede e destruição. E aquela imagem que não me sai da cabeça.
Crianças seminuas, soldados, sangue, crianças ensangüentadas, homens e mulheres atônitos. Destroços. E aquela imagem que teima em não sair da minha cabeça.
Perplexidade, choro derramado e preso, gente aos pedaços, famílias dilaceradas. E aquela imagem que não me sai da cabeça.
Mesmo depois de quatro anos, aquela imagem ainda queima na minha cabeça.

Uma mulher de preto.
Jovem mãe que acaricia a filha morta.
Seu rosto marcado pelas lágrimas e sofrimento permanece tranqüilo no gesto de carinho em meio aos corpos de tantos outros filhos cujas mães talvez também sejam corpos inertes nas macas manchadas pelo sangue e pelo ódio secular.
A outra mão apóia a garganta como que para conter o grito de clamor que ela sabe ser inútil diante do fato que está consumado.
O que se passa na cabeça dessa mulher? Que pensamentos seriam os de quem vê um filho, o único talvez, assim arrancado de modo tão estúpido e covarde da vida que mal começara?
O que pensa essa mãe ao acariciar o rosto da filha morta? Talvez lembranças da tenra infância, do primeiro sorvete, do piquenique no campo. Do seu primeiro dia de aula.
O que há por trás desse rosto insondável, que apenas abre de si para o mundo um sofrimento contido e resignado?
O que e por quem chama essa mãe cuja parte do coração dorme ali, sem vida e cor, num chão que outrora foi palco de brincadeiras e risos infantis?
O que pensa essa mulher que teve seu rosto e seu corpo vestidos de negro expostos para o mundo inteiro, como um símbolo dessa tragédia inimaginável?
Sua solidão invadida e exposta ao mesmo tempo que se revela, esconde um momento de dor que é único e intransferível.
Essa mulher está ali, diante da sua própria morte, contemplando e tocando o seu próprio rosto, como na brincadeira das bonequinhas russas que, ao serem abertas, vão dando lugar a bonequinhas cada vez menores.
Ali está uma mãe que vê na sua filha todas as outras crianças que foram levadas, todas as outras mães que pranteiam seus filhos e netos e sobrinhos e maridos.
Uma dor secreta, mas insofismável, contida porque não há espaço suficiente no mundo todo para cabê-la...
Que possamos todos um dia descansar em paz.


No início deste mês, o massacre de Beslan completou quatro anos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Momento de epifania






Esse coque nunca me enganou.

a Kiss is just a Kiss






Sim, eu morria de medo de Gene Simmons. E olha que no auge do Kiss eu não era uma criancinha. Mas o pior é que até hoje me sinto completamente agoniada quando vejo alguma apresentação da banda. E a cisma é só com Gene Simmons, não tem jeito. Paul até já me mostrou fotos dele à paisana, com a família, cachorrinho, gatinho e papagaio, mas não dá, é maior do que eu. E eu gosto de rock pesado. Portanto, é totalmente pessoal.
O que não faz a tradição judaico-cristã com a cabeça já destrambelhada de uma criatura...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Atenção, fêmeas!



Melhor definição de ideal match do orkut alheio: Fêmea original de fábrica, bonita, inteligente, determinada, fértil, humilde, sincera e temente à DEUS.


Só faltou pedir pra já vir ovulando.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

La represión, compañeros...



Uma pessoa de Santa Maria/RS escreveu o seguinte comentário no post Mini Miss Mundo:

Gustaria de parabenizar pela reportagem, mas creio q no podemos generalisar.
Penso q, primero debemos conozcer, saber, pk li otras entrevistas e esta menina, estud en una escola particular, ten una babá,segoda las mestres da escola, elaé una das melhores alunas da clase,mesdmo sendo una menina rica e s de un bueno corazon, e segue los passo dos pais, na pascoa dia da criança,natal doando roupas brinquedos aos menos favorecidos,os pais son personas muy esclarecidas,formados,grandes mpresarios, e que mismo tendo motoristas,facen questao de um leva na escuela e lo otro busca, e q a menina pareceume mucho madura con personalidad muy fuerte, e de principios religiosos, muy claros.Entonces penso q muchos comentarios no dejam de ser buenos,gran alertas a muchas mães, mas tenemos q preocuparnos mas es con los padres q matam, padres q ,principalmente nas regiões nordeste,norte do Brazil, obrigam sus fillos a prosttuiremse, eso si e que devemos preocupar-nos,otros fracendo os fillos roubarem,enfin una serie de atrocidades q inducen as crianças.
Perdonemme pero este e meu pensamiento e tengo certeza de muchas mães.Penso q, ao colocarmos una foto de una menina linda como esta en site e las personas si quedarem analisando dando pitacos,sen saber como é la vida dela,asi eso si, é que debia ser proibido estão expondo una menina delcinco años ,como si ela e los padres tuviesen cometido o maior crime,qdo no es verdad, penso q deberia ser analisado entonces por personas, profisionales,abalisadas, e no nos personas comuns, vamos canalisar esta nuestra buena vontad en ajudar las crianças, expondo ,crianças en la rua,prostiuitose,pedindo pasando necessidads,mães q matam,crianças orien del fome,salud,del frio.
Esta es mi opinião. LLauriti (Estan expondo una foto da menina, como si fuera ,una bandida, cuidado penso q eso no es cierto,perdoneme)



Em primeiro lugar, um esclarecimento: não sou jornalista e o que escrevo aqui não está vinculado a nenhum site de notícias. Não sou paga para escrever - bem que eu gostaria -, escrevo sobre o que penso. Este é um blog de conteúdo pessoal, confessional, no qual emito a minha opinião e as pessoas que o freqüentam fazem o mesmo.

Talvez por não ter fluência na língua portuguesa, única razão que justifica uma leitura tão rasa do post - ou será que a criatura escreveu em espanhol achando que aqui não sabemos que língua é essa? -, LLauriti inventariou as qualidades da menina em questão e da sua família, chegando a sugerir que eu chamei uma criança de cinco anos de bandida. Delírio total!

Como escrevi no comentário, o mote para o post foi o concurso de Mini Miss Mundo, mas se lido com calma e sem bairrismo (sim, a menina é da mesma cidade de LLauriti), o que mais se falou foi sobre a questão da infância roubada, da insistência em valorizar a aparência, que é o que mais se vê por aí.

Se você, LLauriti, se dá o direito de interpretar o meu texto e os comentários dos demais de acordo com a sua perspectiva, também posso fazê-lo ao dizer que não é apenas aqui no NE ou N que as crianças são exploradas, prostituídas e assassinadas. Da mesma forma que você deu uma voltinha no Google e veio falar bobagem aqui, faça uma pesquisa e veja como aí na sua região tanta coisa acontece. O mundo é mais largo que a sua porteira, LLauriti.

Mas o que achei mais engraçado nisso tudo foi essa pessoa dizer que teríamos de ser abalizados e profissionais para darmos nossa opinião sobre o caso. Uma chacota, hein? Eu quero lá saber quem é fulano ou beltrano, LLauriti? Minha opinião sobre o concurso é essa, qual é o problema? Tenho de ver o evento como algo lindo e maravilhoso por quê? Continuo achando esse tipo de comportamento imbecil independentemente do nível sócio-econômico da família. Mas isso sou eu, entendeu, pessoa? Se você acha o máximo, parabéns! Só não venha dizer que é pitaco a opinião de quem não concorda com essa baboseira toda.

E antes que eu me esqueça, na falta de coisa melhor, vá chupar gelo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Minúsculos Assassinatos...



Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

(Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948)

E ela diz, bem aqui:





Já tem na Cultura aqui de Recife e o de cima é meu e ninguém tasca.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Dias assim



Tem dias que você acorda e o seu coração está tão pisado, tão mutilado que você nem sente o passar das horas tão concentrada que está em não deixá-lo arrebentar por completo. E respirar fundo já não dá conta, você toda já não dá conta, a vida é grande demais para se dar conta. Você se enrodilha num canto e olha impotente para a verdade áspera, com uma agonia sem nome, com um grito entalado na garganta e espera uma simples palavra que poderia mudar tudo, mesmo sabendo que ela nunca virá.

Miguxa sabe que zinha é uma filha da puta que me sacaneou (e sacaneia quando tem oportunidade) desde a pedra lascada. Miguxa sabe que zinha usa as pessoas e depois joga fora sem cerimônia, bem graduada que foi na escola da calhordice. Miguxa sabe de tudo, de tudo mesmo. Miguxa soube do meu desespero e da minha impotência diante da possibilidade de perder o melhor que tive na vida e sabe que zinha contribuiu para esse momento fazendo com que ele fosse mais devastador ainda. Miguxa sabe. Miguxa entende de vampirismo também, mas se faz de desentendida. Miguxa insiste em trazer notícias de quem abriu um fosso no meio do mundo e escorregou nele para sempre. Sim, Miguxa, você também é uma grandissíssima duma filha da puta.

Falando em passarinho, vi uma propaganda massa de toalha na televisão. Manhãzinha, quarto iluminado, a moça se arruma para ir pro trabalho. Daí que entram uns passarinhos pela janela e arrumam a cama e trazem a bolsa da moça e fazem mil coisinhas, aquela cena mesma da Cinderela. E a musiquinha suave tocando e a felicidade no ar. A moça vê tudo pronto, está na hora de sair. Com cara de peste, bate palmas com força afugentando os passarinhos janela afora. Adorei. Fiz a minha catarse. Cansei de ser passarinho.

E Vizinho de Cima está tão calmo, quieto e reflexivo que, de dois, um: ou está viajando ou eu sou boa de praga mesmo.

Ah, os passarinhos estão indo e voltando, já virou casa da mãe joana para alegria geral.

domingo, 7 de setembro de 2008

Coisas Frágeis - Neil Gaiman






Os Outros

- O tempo é fluido por aqui – disse o demônio.
Ele soube que era um demônio no momento em que o viu. Assim como soube que ali era o inferno. Não havia nada mais que um ou o outro pudessem ser.
A sala era comprida, e do outro lado o demônio o esperava ao lado de um braseiro fumegante. Uma grande variedade de objetos pendia das paredes cinzentas, cor de pedra, do tipo que não parecia sensato ou reconfortante inspecionar muito de perto. O pé-direito era baixo, e o chão, estranhamente diáfano.
- Chegue mais perto – ordenou o demônio, e ele se aproximou.
O demônio era esquelético e estava nu. Tinha cicatrizes profundas, que pareciam ser fruto de um açoite ocorrido num passado distante. Não tinha orelhas nem sexo. Os lábios eram finos e ascéticos, e os olhos eram condizentes com os de um demônio: haviam ido longe demais e visto mais do que deveriam. Sob aquele olhar, ele se sentia menos importante do que uma mosca.
- O que acontece agora? – ele perguntou.
- Agora – disse o demônio com uma voz que não demonstrava sofrimento nem deleite, somente uma horripilante e neutra resignação – você será torturado.
- Por quanto tempo?
O demônio balançou a cabeça e não respondeu. Ele percorreu lentamente a parede, examinando um a um os instrumentos ali pendurados. Na outra extremidade, perto da porta fechada, havia um açoite feito de arame farpado. O demônio o apanhou com uma de suas mãos de três dedos e o carregou com reverência até o outro lado da sala. Pôs as pontas de arame sobre o braseiro e observou enquanto se aqueciam.
- Isso é desumano.
- Sim.
As pontas do açoite ganharam um baço brilho alaranjado.
- No futuro, você vai sentir saudade desse momento.
- Você é um mentiroso.
- Não – respondeu o demônio. – A próxima parte é ainda pior – explicou pouco antes de descer o açoite.
As pontas do açoite atingiram nas costas do homem com um estalo e um chiado, rasgando as roupas caras. Elas queimavam, cortavam e estralhaçavam tudo o que tocavam. Não pela última vez naquele lugar, ele gritou.
Havia duzentos e onze instrumentos nas paredes da sala, e com o tempo, ele iria experimentar cada um deles.
Por fim, a Filha do Lazareno, que ele acabou conhecendo intimamente, foi limpa e recolocada na parede na duocentésima décima primeira posição. Nesse momento, por entre os lábios rachados, ele soluçou:
- E agora?
- Agora começa a dor de verdade – informou o demônio.
E começou mesmo.
Cada coisa que ele fizera que teria sido melhor não ter feito. Cada mentira que ele contara – a si mesmo ou aos outros. Cada pequena mágoa, e todas as grandes mágoas. Cada uma dessas coisas foi arrancada dele, detalhe por detalhe, centímetro por centímetro. O demônio descascava a crosta do esquecimento, tirava tudo até sobrar somente a verdade, e isso doía mais que qualquer outra coisa.
- Conte o que você pensou quando a viu indo embora – exigiu o demônio.
- Pensei que meu coração ia se partir.
- Não, não pensou – contestou o demônio, sem ódio. Dirigiu seu olhar sem expressão para o homem, que se viu forçado a desviar os olhos.
- Pensei: agora ela nunca vai ficar sabendo que eu dormia com a irmã dela.
O demônio desconstruiu a vida do homem, momento por momento, um instante medonho após o outro. Isso levou cem anos ou talvez mil – eles tinham todo o tempo do universo naquela sala cinzenta. Lá pelo final, ele percebeu queo demônio tinha razão. Aquilo era pior que a tortura física.
Mas acabou.
Só que, quando acabou, começou de novo. E com uma consciência de si mesmo que ele não tinha da primeira vez, o que de certa forma tornava tudo ainda pior.
Agora, enquanto falava, se odiava. Não havia mentiras nem evasivas, nem espaço para nada que não fosse dor e ressentimento.
Ele falava. Não chorava mais. E, quando terminou, mil anos depois, rezou para que o demônio fosse até a parede e pegasse a faca de escalpelar, ou o sufocador, ou a morsa.
- De novo – ordenou o demônio.
Ele começou a gritar. Gritou durante muito tempo.
- De novo – ordenou o demônio quando ele se calou, como se nada houvesse sido dito até então.
Era como descascar uma cebola. Dessa vez, ao repassar sua vida, ele aprendeu sobre as conseqüências. Percebeu os resultados das coisas que fizera; notou que estava cego quando tomou certas atitudes; tomou conhecimento das maneiras como inflingira mágoas ao mundo; dos danos que causara a pessoas que mais conhecera, encontrara ou vira. Foi a lição mais difícil até aquele momento.
- De novo – ordenou o demônio, mil anos depois.
Ele agachou no chão, ao lado do braseiro, balançando o corpo de leve, com os olhos fechados, e contou a história de sua vida, revivendo-a enquanto contava, do nascimento até a morte, sem mudar nada, sem omitir nada, enfrentando tudo. Abriu seu coração.
Quando acabou, ficou sentado ali, de olhos fechados, esperando que a voz dissesse: "de novo". Porém, nada foi dito. Ele abriu os olhos.
Lentamente, ficou de pé. Estava sozinho.
Na outra ponta da sala havia uma porta, que, enquanto ele olhava, se abriu.
Um homem entrou. Havia terror em seu rosto, e também arrogância e orgulho. O homem, que usava roupas caras, deu alguns passos hesitantes pela sala e parou.
Ao ver o homem, ele entendeu.
- O tempo é fluido por aqui – disse ao recém-chegado.

Tradução: Michele A. Vartuli

Os Outros é um dos contos de Coisas Frágeis.

sábado, 6 de setembro de 2008

Bem-te-vi






Apareceu um hoje, pouco depois das sete da manhã. Foi e voltou. Passou direitinho pela tela, bebeu água. Mariana não viu, estava dormindo. Ficou radiante com a notícia. Durante a semana notei que ela desanimou um pouco, mas agora está cheia de certezas e planos. Espero que venham outros. Agora eu espero junto.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mini Miss Mundo



Eu, como mãe de uma menina, não poderia deixar passar a notícia desse concurso em branco. Mesmo sabendo que em muitos casos a família toda incentiva a loucura, infelizmente, na maioria das vezes, é da mãe que parte a obsessão em transformar a criança em celebridade - modelo, atriz ou tudo ao mesmo tempo agora, como diriam os Titãs.

E dá um dó olhar essas meninas maquiadas, vestidas como adultas e, o pior, com olhares, gestos e poses de mulheres feitas. Não deixo de pensar no que foi a minha infância e no que nós, remando contra a maré, tentamos fazer para que Mariana tenha uma infância normal também, na qual ela possa brincar, descobrir o mundo e fantasiar... como criança. E não é fácil, não, porque os apelos, os mas a mãe de fulaninha deixa e mesmo as críticas, vindo de onde menos esperamos, parecem estar sempre à espreita. No fim, sou eu quem vê chifre em cabeça de cavalo, quem quer colocar a menina numa redoma perfeita e mais outras tantas pérolas que já tive de ouvir. Mas no dia que acontece qualquer coisa, de quem é a culpa? Para o mal, sempre, da mãe. Para o bem, ah, aí tem muita gente que se intitula co-autora.

Voltando à questão do concurso, só posso concluir que uma mãe que submete sua filha a horas e horas de espera para fazer um reles teste, que acha o máximo a criança papagaiada de adulta, vestida e maquiada como tal apenas para aparecer dez segundos num comercial de supermercado de bairro ou, na melhor das hipóteses e dos devaneios, numa ponta da novela das 6 ou seja de que horário for, só pode ser muito estúpida.

Não vêem nada de mais em incutir numa criança, desde a primeira infância, um estilo de vida que privilegia unicamente a aparência. E a grana, claro. Crescem menininhas chatas, preocupadas com futilidades, com a marca da roupa, com a necessidade de serem sempre as mais populares, bonitas, enfim, aquele modelo de mulherzinha sobre o qual eu já tinha falado aqui e que me causa bastante aversão.

São mulheres que vivem completamente fora da realidade, que não lêem jornais e não vêem (ou fingem) como é crescente o número de casos de abusos sexuais contra crianças. Que preferem ignorar que a internet e os demais meios de comunicação exigem atenção redobrada porque uma criança sem supervisão é presa fácil tanto para o consumo desenfreado quanto, no pior dos casos, para o assédio moral e sexual.

Muitas vezes, um sonho frustrado é o que impulsiona uma mãe dessas. Já que não pôde ser modelo/atriz/apresentadora/BBB/mãe de filho de jogador de futebol, canaliza todos os esforços, se necessário passa até fome para garantir o sucesso da filha. Depois, quando ela ficar velha para a passarela, pode decidir o que fazer da vida, foi a resposta que uma mãe deu numa entrevista que li há um tempo, quando a repórter perguntou sobre o futuro de uma menina que tentava a sorte como modelo. Uma maravilha, não?

Não vou nem me atrever a falar em estudo, em ter uma carreira de gente normal porque isso é coisa de classe média ou de quem pensa pequeno, não é, gente? O bom mesmo é a fama, o glamour, o mundo das celebridades. Caso de internação psiquiátrica, isso sim.





Essa cena é uma verdadeira banana na cara desse mundinho fake.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

In spite of me






Obrigada por tudo. Mutu.

Mini Miss Mundo






Me digam só o que é que a família de uma criança dessas tem na cabeça. Já sei, eu leio seus pensamentos: merda.

Adelaide, minha anã paraguaia.


Eu volto a falar sobre o assunto.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Barato no brejo






Em Ponta Porã (MS), a Polícia Rodoviária Federal localizou 300 gramas de cocaína em absorvente íntimo. Realmente, foram fundo nas investigações.

Soterramento



Não entra na minha cabeça como é que alguém mantém um relacionamento quando não admira seu companheiro. Não estou nem falando em amor, tesão, respeito e afins porque, nesse caso, o desdém com o outro salta à vista. Fica aquele hábito de depreciar, de ridicularizar o parceiro, que eu acho vergonhoso. Ora é a aparência física o alvo da chacota, ora é a falta de inteligência, a inabilidade para trabalhos domésticos, para tomar decisões rápidas, enfim, só vem à luz o lado B do outro.

Aí eu pergunto: qual a finalidade de conservar uma relação baseada no soterramento alheio? Se ele é tão ruim assim por que não partir para outra e deixar que encontre alguém que consiga enxergar pelo menos uma única qualidade? Sim, porque o fulano deve ter alguma. E tem. Desconfio que a maior delas é servir para evidenciar a superioridade de quem o pisoteia, porque sem isso, ah, ela não existiria.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sonhos de passarinho



Moramos no vigésimo terceiro andar e, naturalmente, todas as janelas e varanda têm tela. Há algum tempo, Mariana disse que queria um passarinho. Argumentei que ele não seria feliz preso e ela concordou. Mas não desistiu da idéia. Disse que queria fazer um ninho no parapeito da janela do seu quarto. Expliquei que a mãe pássaro não aceita ninhos prontos porque prefere ela mesma escolher o melhor local para os seus filhotes.

Diante de sua decepção e choro, sugeri, meio sem pensar na pequena possibilidade de sucesso, que colocássemos um daqueles bebedouros de passarinho na varanda. Ela adorou a idéia. Mas tive de explicar que ela deveria ter paciência, pois, como nosso apartamento é muito alto, talvez demorasse para vir algum passarinho. Ela disse que esperaria. E eu me calei diante da sua convicção. Quem sabe eles não vêm atraídos pelo cheiro da água docinha e da esperança?