sábado, 10 de janeiro de 2009

Manhãs de sábado



Hoje, quando acordei, por alguns momentos vieram-me à boca antigos sabores, como muitas vezes me assaltam cheiros do passado, coisas que surgem assim do nada, mas que têm o poder de me levar de volta a um tempo e espaço que fisicamente não existem mais.

Na casa dos meus avós, o café da manhã do sábado era sempre o melhor. Porque minha avó trazia muitas coisas fresquinhas da feira. Porque não havia o horário da escola e nós podíamos, os três, comer aquelas coisas das quais eu gostava tanto (muitas ainda gosto). Porque, em dias muito quentes, tomávamos o nosso café da manhã na mesa da varanda que dava para o quintal, ladeada pela jardineira da minha avó.

E eram tantas as delícias: café com leite (trazido na porta pelo leiteiro), tapioca com manteiga, cuscuz com leite de côco, queijos de coalho e manteiga, carne assada, pelo menos dois tipos de bolo (quase sempre Souza Leão e bolo caseiro, daqueles simples), ovo frito, que era a especialidade do meu avô Belmiro: as bordas das claras chegavam a queimar, mas as gemas ficavam meio moles. Havia também bolachas, pão fresquinho e assado, inhame e macaxeira e frutas: banana, mamão e laranja.

Uma mesa farta, uma mesa nordestina, com toda certeza. Uma pequena celebração semanal. E se era mês de junho, as comidas de milho reinavam: munguzá, pamonha e canjica, milho cozido e o bolo de milho se juntava ao Souza Leão.

São lembranças, cheiros e gostos de saudade, comida e felicidade. Minha avó não parava de falar da vida, dos afazeres, dos problemas, dos amigos e dos familiares. Meu avô muitas vezes ouvia tudo calado ou falando apenas o indispensável, como era do seu feitio. E eu, se já soubesse que tudo que é bom dura tão pouco, teria respirado mais fundo aqueles cheiros, teria prestado mais atenção ao barulho da louça, teria mordido a crosta do pão assado com menos pressa, teria olhado para eles com mais ternura. Teria amado mais e desejado menos o mundo lá de fora.

10 comentários:

Anônimo disse...

Que mesa gostosa, que deliciosa lembrança. Dá pra sentir os cheiros e gostos junto com você. Um café da manhã virtual e cheio de lembranças. :-)

Lucard disse...

Nossa, bateu uma fome agoraaaaaaaaa.
Num sei por que mas lembrei da Menininha Claybom.
Nhac Nhac Bom

Anônimo disse...

vc sabe q eu adoro esses seus textos q falam da sua infância,seus avós,enfim,dessas lembranças tão doces q são os retratos das nossas histórias.
E dá pra sentir o gosto e o cheiro de tudo junto com vc.

Bjos e []s

Ivette Góis

DJ AC disse...

Putz! Como também tenho essas lembranças... Você nem imagina! Tempos de outrora onde éramos felizes e não sabíamos...

Beijos minha mestra!

Anônimo disse...

Me emocionei com esse seu texto...

Tá, tá... devoestar na TPM... mas me emocionei... tb me lembrei domeu tempo de criança...

Beijos Kenia.

Tatiana Mendonça

Anônimo disse...

Engraçado...
Tb amo o sábado pela manhã. Nada contra "o sábado à noite" mas é que além de meu relógio biológico bater mais acelerado de dia, eu curto mesmo a preguicinha do sábado pela manhã.
Não tem nada gostoso e saudoso assim pra relembrar nos meus sábados, a não ser que sempre acordo desacelerada. Bem mais do que no domingo e não sei porquê.
No mais... curto muito ler essas suas lembranças!
Qto às delícias é pura sacanagem esses pormenores nessa riqueza literária toda. Principalmente em relação ao bolo Souza Leão que é meu maior pecado.
O nome disso é castigo chinês.:P
Parabéns pelo post.
bj
R.

Beth/Lilás disse...

Ai, que texto delicioso em todos os sentidos!
Realmente, damos pouco valor aos tempos em que somos felizes ao lado de quem nos ama de verdade!
Falando nisso, vou lá prá cozinha dar lanchinho pro marido que só de ler prá ele, ficou com fome. haha
bjs cariocas

Anônimo disse...

Bonito texto. É incrível como esses cenários ficam vivos, quase se materializando em outra dimensão. A vida é mto louca.

Sweet! disse...

Ah, cafés da manhã nordestino e em família. Mesa farta de manhã, adoro!
Sempre q posso os reproduzo em casa, recomendo, especialmente nas férias. Agora q estamos tds os dias juntos neste mês de janeiro.
Bjokas!

Marco Yamamoto disse...

Comecei a ler seu post e já estava pensando em reclamar da tortura culinária que vc estava fazendo. Continuei lendo e me deparei com um um final que me pegou de surpresa.

Confesso que correu uma lágrima e me lembrei dos meus saudosos avós.

Eu trocaria todos os sabores deliciosos pela chance de olhá-los novamente, com mais ternura...