sábado, 28 de fevereiro de 2009

Autorizado aborto em menina estuprada pelo padrasto



Desde o início da semana, a imprensa pernambucana vem noticiando o caso de uma menina de 9 anos, que vinha sendo violentada desde os 6, e que se encontrava grávida de gêmeos, numa gestação de 15 semanas e de alto risco. O padrasto, autor do crime, encontra-se preso e confessou que também abusava da outra filha, de 14 anos, da sua companheira.

Previsto por lei (estupro e por constituir risco para a vida da gestante), o aborto, consentido pela família, foi realizado hoje, sem que houvesse necessidade de autorização judicial.

Só estou aqui, na moita, esperando alguma manifestação contrária à intervenção. Gostaria de saber qual é o argumento que alguém, movido por qual credo for, tem para justificar a não-interrupção de uma gravidez dessas.


Update: a interrupção da gravidez ainda não foi feita (01/03).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Homem de regata



Para não dizerem que estou muito despeitada ultimamente - de Gracyanne, devo estar invejando seu Belo marido, duplo kkk twist carpado -, vou citar um tipo masculino que eu simplesmente abomino: homem de regata! A visão do apocalipse, a invasão de todas as bestas-feras saídas das profundezas do inferno!

A composição da personagem é de fácil identificação: camiseta regata, cujo maior objetivo estético é realçar os bíceps saradões (muitas vezes apenas na imaginação da criatura), cordão de prata - ouro é mais jeca ainda - e, para arrematar, a pochete. Ah, a pochete, versão moderna da não menos horrorosa capanga, é o toque final, o ápice da cafonice. Não posso esquecer da tatuagem: geralmente tribal ou algum ideograma, que será traduzido com uma certa dose de mistério e sapiência a quem interessar possa.

Essa exceção só confirma a regra:




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Barbarizando na avenida






Ter que ouvir da bunita Gracyanne (auto-explicativo) aí de baixo que essa quantidade de músculos foi conseguida à base de 90 minutos diários de musculação plus exercício aeróbico plus alongamento plus alimentação balanceada é um insulto até a mais mediana das inteligências. Não existe mulher na face da terra que tenha constituição genética e carga hormonal suficientes para chegar a um corpo desses sem fazer uso de anabolizantes. Fora o visual de Conan, dá para perceber claramente quando uma criatura está fazendo uso de bomba: a voz fica mais grave (vulgo Zefão), o formato do rosto sofre alteração (o queixo fica mais proeminente e, em alguns casos, os incisivos centrais superiores se afastam), fora o aumento da agressividade e de otras cositas más que, para um bom entendedor, meio clitóris basta. Conheço uma moça que fez uso de anabolizantes há 20 anos e parou, mas até hoje sofre com excesso de pêlos no corpo: tem de se depilar, fazer sobrancelha e bigode todos os dias! E nem estou falando nos riscos de câncer de fígado e outros.

Conan, a Bárbara:





Quem me conhece sabe que freqüento academia assiduamente e amo musculação, mas, a menos que se esteja competindo em fisiculturismo, um corpo desses é desnecessário. Na verdade, passa até uma certa idéia de poder, muito mais pela masculinização das formas do que pela beleza em si. Chama atenção? Claro, mas pelo exagero. Sem contar que na hora do samba, cadê o gingado? E quem disse que esse amontoado de músculos permite?

Sou partidária da liberdade de se fazer o que quer com a própria vida. Se a pessoa se acha bonita assim, vá fundo, afinal, gosto não se discute, no máximo, lamenta-se. Mas o fim da picada é dizer que a montanha de músculos foi obtida mediante exercícios e alimentação natural. Uma pinóia. E o que tem de incauta arrebentando a coluna nas academias de bairro para ficar com um corpo natural desses, não está escrito.


Mais uma aberração na avenida que atende pela singela alcunha de Valesca Popozuda:




terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Dueto da Victoria's Secret



Abstraia-se da cafonice das roupas que sobrará um casal perfeito, pura química e entrosamento. E, sim, Seal é o cara. ;)




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Polícia encontra droga escondida em imagem de santa em SP



Como já dizia Marx, A religião é o ópio da humanidade.

Oscar 2009






Está certo que Jessica Alba Biel é linda, mas não tinha ninguém pra avisar que ela esqueceu o guardanapo do jantar pendurado no vestido?


Agora, tem gente que morre de medo de errar e bota um pretinho básico, sem graça e ainda faz cara-de-cu-tenho-mais-o-que-fazer-da-vida, como se estivesse fazendo um favor à humanidade em mostrar a cara. Né por nada, não, mas essa mulher é uma descompensada. Um dia vocês me darão razão.





O melhor do vestido de Heidi Klum foi o acessório: seu marido Seal...




Rihanna não vive sem uma boa umbrellada






Ao que tudo indica, depois de ter sido espancada pelo namorado, a cantora Rihanna está em vias de reconciliação com o rapaz. Bastaram uns presentinhos de aniversário - um colar de diamantes e outros mimos - para que ela sentisse a falta do troglodita na festa de aniversário. Eu não estou dizendo? Quando aparecer morta, vão achar ruim e passar uma semana inteira enchendo o saco com os melhores momentos da carreira da criatura, sua juventude desperdiçada e mais um monte de idiotices. Aí eu pergunto: Carnaval mesmo pra quê, hein? Ah, uma umbrella na cara dos dois!



Não vejo a hora disso acabar logo. Real life de volta, sabem como é?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Trouxa não é apenas um embrulho de roupas...



O caso de Paula Oliveira é emblemático porque demonstra claramente o que a mídia, ávida por repercussão, pode fazer com a opinião pública. Ao divulgar uma notícia sem a devida apuração, ela, com seu poder de (de)formação de opinião, faz com que uma série de equívocos seja perpetrada.

Em primeiro lugar, realçando o sentimentalismo em detrimento da lucidez, ela joga um fato que tem uma grande carga de apelo emocional e cria um verdadeiro circo, onde questões como feminismo, xenofobia e doença mental se misturam num samba do crioulo doido (ai, esqueci dos politicamente corretos de plantão, gente!) e quando a verdade aparece, pega todo mundo com as calças na mão.

E faço a mea-culpa também. Apesar da minha desconfiança inicial, que não chegou nem a ser desconfiança porque o emocional tratou de varrê-la da minha cachola, deixei-me levar e, confesso de novo, mais tocada pelo ataque à uma grávida do que por qualquer outro aspecto possível da questão. Não escondo de ninguém que depois da maternidade, virei um coração ambulante nessas questões que envolvem os filhotes de todas as espécies. Ou seja, sou público-alvo neste aspecto como devo ser em tantos outros.

E da mesma forma que me tocou pelo viés de fêmea que sabe a dor e a delícia de ser o que é na arte do padecimento no paraíso, também conhecido como maternidade, a inflamação seguiu adiante na forma de ufanismo - sim, nosso país e povo, tão bons, são tratados como lixo no exterior, quando aqui tratamos tão bem os estrangeiros, somos um povo hospitaleiro por vocação (balela!) -; de militância feminista - como assim? Só porque se trata de uma mulher, ela está sendo desacreditada pelo discurso masculino e machista, no qual a voz da mulher é sempre... blablablá... -, e assim por diante, cada um alardeando seu admirável discurso, de acordo com as crenças e posicionamentos embasados em anos de teorias marxistas, freudianas e que tais, sem contar com uma série de outras espantosas possibilidades, que passavam por elucubradíssimas teorias da conspiração, mas que não chegam à constatação óbvia, mas nem por isso ululante, de que nós, que nos dizemos tão pós-qualquer coisa, tão qualificados a julgar e a entender tudo e todos, especialmente depois do auxílio luxuoso de São Google, somos, na verdade e pelo bem dela, um bando de idiotas teleguiados, que está perdendo, e não é aos poucos, a capacidade crítica.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Pulgas e neonazistas



Esta semana está sendo corrida demais para mim, por isso a ausência aqui no blog e nos de vocês também, mas vai dar uma melhorada nos próximos dias. Pelo menos, assim espero. :)

Mas mudando de assunto, uma coisa que me chamou atenção desde o começo no caso da advogada pernambucana agredida na Suíça foi a destreza com que os supostos agressores conseguiram marcar perfeitamente, de maneira nítida, siglas do partido ao qual supostamente pertencem.

A menos que ela estivesse desacordada - em momento algum li referência a essa possibilidade -, como alguém conseguiria marcar à faca o corpo alheio de modo a sair tudo tão direitinho? Tudo bem que ela poderia estar sendo ameaçada com outra faca na garganta, por exemplo, mas o normal seria que ela se contorcesse de dor, não é?

Já vi fotos de pessoas atacadas à faca e, honestamente, quem ataca, não ataca tão superficialmente, costuma deixar marcar mais profundas.

Assim que a notícia foi divulgada, essas dúvidas passaram pela minha cabeça, mas diante da comoção proveniente do fato da moça ter perdido os bebês, pus as pulguinhas de lado.

Mas, me digam, não é estranho?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Malandro é malandro...






Um dos meus desenhos favoritos da infância era Manda-Chuva (Top Cat, Hanna-Barbera) - vocês lembram dele e da sua turma, que viviam fugindo do guarda Belo? Pois bem, o chefão do bando de gatos, como o próprio nome já diz, era esperto e sempre se dava bem no ramo da malandragem.

Não sei até que ponto esse desenho animado contribuiu para a formação do povo brasileiro no quesito Malandro é malandro, mané é mané ou quanto o mesmo tenha dado uma força na implementação da Lei de Gerson e demais mazelas tão grandemente atribuídas ao homo brasilis nas teses antropológicas defendidas nas cátedras das nossas universidades ou nas suas similares menos castiças nas rodas de bar, mas a verdade é que eu gostava do gato falastrão e bandoleiro.

Uma das cenas que mais recordo é a que Manda-Chuva e Batatinha, um gatinho gorducho e baixinho (o da extrema direita, roxinho), com jeito de criança e inocência idem, juntavam-se para dividir um saco cheio de moedas. E Manda-Chuva começava a partilha:

- Um pra você, um pra mim.
- Dois pra você, um, dois pra mim.
- Três pra você, um, dois, três pra mim...


E assim seguia o espertalhão se dando bem às custas do bobo Batatinha.

Eu, que tinha uns seis ou sete anos, percebia a malícia, mas não deixava de achar graça. Até hoje acho e muitas vezes repito-a, de brincadeirinha, quando vou dividir algo com Mariana que, claro, apita na hora sem deixar de rir da trapaça.

Daí que eu fico pensando como é que hoje, na vida adulta e lidando com adultos, algumas pessoas acham que podem fazer certas jogadas sem que os outros percebam. E olhem que às vezes até conseguem, não pela burrice, mas pela boa-fé alheia, o que torna tudo mais lamentável ainda. Só que, felizmente, comportamentos assim se sustentam por pouco tempo. Então o desenho do gato malandro e com ausência de escrúpulos não deixou de ser altamente didático, não é mesmo? Para quem cresceu achando que é mais fácil se dar bem passando por cima dos outros, o desenho pode até ter sido um incentivo, pode até ter dado uma mãozinha, mas para quem prefere se defender da esperteza alheia, foi um excelente aprendizado. Afinal, malandro pode ser malandro, mas mané é quem quer.

domingo, 15 de fevereiro de 2009



O curso agora engrenou (para desengrenar com o Carnaval, claro). Já tem muita coisa para ler, resenhar, pesquisar e como uma leitura puxa outra, a cabeça fervilha de idéias. No entanto, as disciplinas mais interessantes do curso, que têm mais a ver com literatura, começam só lá para o meio do ano. De momento, só instrumental da área de pedagogia. Zzzzzzzzzzzzzzzzzz. Por favor, as pedagogas amigas que não se melindrem, é que a vontade de já cair direto nas teorias do conto, do drama, de literatura e afins é tanta que não tem como não achar este começo chatinho, apesar de saber da sua importância.

À medida que o ritmo de estudos for se acomodando, volto a postar com mais regularidade e visitar vocês, certo?

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Estava agorinha dando uma olhada nas notícias on-line e me deparei com a reportagem sobre um toureiro colombiano que, segundo o jornal, deu show em Medellín porque seu olé fez com que o touro caísse com os chifres cravados no chão:





Aí eu pergunto: show de quê, mesmo? Só se for de brutalidade e ignorância. Já está mais do que na hora de acabar com essa estupidez - da mesma forma, abomino as vaquejadas, farras do boi e afins - que só se sustenta em nome de uma suposta tradição cultural. Maltratar animais é crime e nada pode justificar essa prática. É por isso que quando um touro acerta um toureiro em cheio, eu acho é pouco!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009






Porque hoje estou sem palavras. Já a sede...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pelas ruas que andei



Sempre que ando a pé pelo meu bairro ou pelo centro da cidade, tenho a impressão que nós, pedestres, somos as presas e os automóveis, os predadores. Parece que ao motorista o que interessa é seguir adiante e o pedestre é um mero detalhe, um empecilho que, além dos demais veículos, faz com que o seu objetivo, que é chegar a um determinado ponto, seja retardado.

E quando estou do outro lado, dentro do carro, percebo que o pedestre quase sempre tem uma relação de animosidade para com o motorista. Mesmo que este último esteja certo, os olhares de raiva e os xingamentos são constantes. É difícil mesmo encontrar cortesia e respeito de ambos os lados.

Aí é inevitável comparar a falta de respeito para com o pedestre que vejo aqui em Recife com o que já vi em algumas cidades brasileiras e do exterior: basta apenas que o transeunte ponha o pé na faixa a ele destinada para que os automóveis parem. E dessa comparação vem a tristeza de saber o quanto a nossa cidade, que é uma das que mais atrai turistas, especialmente nesta época do ano, está atrasada no que diz respeito à cidadania, ao respeito pelo semelhante e, sim, à educação doméstica.

Aqui as bicicletas andam na contramão, fora da faixa da direita, não respeitam os sinais de trânsito e quando você reclama porque quase foi atropelada por uma, a resposta que recebe foi a que tive que ouvir dia desses: Isso aqui é Brasil, moça. Será que o ciclista pensou que eu era de fora porque eu estava querendo o impossível dele? É péssima a sensação de remar contra a maré o tempo todo, de exigir que as coisas sejam feitas como deveriam e não como é mais fácil ou mais vantajoso para o esperto da vez. Como fazer uma pessoa dessas entender que está errada?

Esse ciclista, além de mal-educado, tem um sentimento bastante negativo com relação ao nosso país. Ao dizer que Isso aqui é Brasil, ele demonstra conformismo e a idéia de que aqui não tem jeito. Quantas vezes nos pegamos falando ou pensando o mesmo? Além, claro, da falta de vontade de mudar, de sair da posição de mais forte e dar a vez a quem está em desvantagem material, neste caso, eu, que era pedestre. E também talvez porque sabe que na próxima esquina ele é quem deve obedecer à lei da selva, e não do trânsito, quando tiver que enfrentar um automóvel ou uma motocicleta.

Tampouco o pedestre é a única vítima da história porque muitas vezes atravessa a rua com o sinal fechado, joga lixo no chão e, mesmo tendo passarelas e faixas à sua disposição, prefere fazer o caminho mais curto a ser otário e perder tempo. Aí, depois que ocorre um acidente no qual o motorista não tenha tido culpa, o que acontece? A população quer linchá-lo. E é neste momento que ele se torna culpado diante da lei: porque fugiu e não prestou socorro à vítima. Você esperaria para ser linchado?

E nisso as coisas fogem do controle mesmo. As leis, por mais bem-intencionadas que sejam, passam a não valer muito diante da distorção a qual nos acostumamos chamar de realidade. E isso cansa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

As mortes de Eluana






Depois de ter vivido em estado vegetativo por dezessete anos, morreu, agora a pouco, a italiana Eluana.

Em meio a uma disputa que envolve religião e política (ou seria mais adequado falar em oportunismo?), o pai da moça vinha lutando há anos pelo direito de suspender a alimentação da filha e assim poder pôr fim ao seu sofrimento.

Sem receber alimentação e hidratação há três dias, às 20h10 locais (17h10 de Brasília), a moça se foi. Mas o seu caso reacendeu a discussão em torno da eutanásia. Tema espinhoso que suscita muita polêmica porque mexe num vespeiro danado que é a questão do direito de interromper uma vida. E na base da discussão, os dois antagonistas de sempre: religião versus razão.

Particularmente, sou favorável à eutanásia. Entendo perfeitamente o desejo desse pai de acabar a agonia da filha, que mesmo não sentindo dores, tampouco sentia a vida e todas as possibilidades que as pessoas em pleno gozo das suas faculdades físicas e mentais desfrutam. E não deve ter sido uma decisão fácil de ser tomada, não. Sua luta pelo direito de Eluana morrer começou dois anos depois do acidente de carro que a vitimou.

Aí eu pergunto: alguém tem o direito de julgar esse pai? Quem poderia recriminá-lo porque ele decidiu dar um basta numa situação irreversível? Alguém poderia dizer a esse homem que esperasse por um milagre? Você teria coragem de exigir isso dele? Eu, não.

E o que tem sido explorado para condenar a eutanásia no caso dessa moça basicamente é o fato de terem sido retiradas a alimentação e a hidratação. Era este o argumento que até então vinha sendo usado por quem defendia a permanência de Eluana, morta, no mundo dos vivos e que agora vai ser mais explorado ainda: mataram uma pessoa de fome e sede.

Confesso que balancei um pouco com essa perspectiva, que não deixa de ser verdadeira até certo ponto. Mas alimentar uma pessoa como a única forma de mantê-la viva, sem que haja por parte dela qualquer manifestação de entendimento e interação é tirar realmente uma vida?

No lugar do pai de Eluana, inicialmente eu iria esperar que um milagre acontecesse. E não entro no mérito de milagres serem possíveis ou não. Entro, sim, na visão aterradora do desespero de querer que o mundo não desabasse me levando o que há de mais precioso. Eu também seria, não sei por quanto tempo, egoísta: iria querer minha filha ao alcance dos meus olhos, mesmo que ela não pudesse me ver, ouvir e sentir. Ia querê-la ligada a mim nem que fosse apenas para que eu pudesse despedir-me dela um pouco a cada dia. Mas uma hora chegaria em que eu compreenderia que minha filha não estava mais ali. Seu sorriso, sua voz e seus sonhos já tinham partido, ao passo que ela jamais sairia de dentro de mim, por mais que seu corpo fosse definitivamente reconhecido como morto. Seria muito egoísmo da minha parte mantê-la viva pela minha covardia em lhe dizer adeus.

Sei que o debate envolve idéias como a de alma, direito de vida e morte e mais uma série de conceitos de caráter religioso que tendem a fazer com que os ânimos se exaltem e a razão seja obliterada. Não tenho conhecimento suficiente para dissertar sobre direito canônico e nem pretendo discutir ou criticar a fé alheia. A minha opinião sobre o caso de Eluana é puramente racional: eu, como mãe, agiria da mesma forma que o seu pai agiu. Ele, para mim, foi quem mais sofreu nesses anos todos e sua decisão deve ser respeitada.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Segura a coisa que eu chego já



Não sei como ficará o ritmo das postagens aqui no blog já que as aulas na pós começaram na última sexta-feira. Estar de volta à sala de aula na condição de aluna tem um gostinho de renovação muito bom e as expectativas com relação ao curso (literatura brasileira) e aos professores são grandes, espero que ambos os lados estejam satisfeitos no final.

Não será de admirar que eventualmente o Leite de Cobra reflita este momento, mas como eu sei que a maioria que freqüenta o blog curte literatura, acredito que vai ser bacana também. Prometo não abusar da boa vontade de ninguém detonando crises de narcolepsia, viram? :P

E como a vida aqui insiste em começar plenamente depois do Carnaval, vamos de marchinhas, frevos, maracatus, afoxés e demais demonstrativos da cultura momesca pernambucana. Nem preciso dizer que já estou de saco cheio mesmo antes de começar, né? Isso todo ano, durante quase quarenta anos, convenhamos, enche mesmo. Uma coisa é turistar, vir pra cá umas duas vezes e amar, achar tudo folclórico, armorial e demais paradinhas mudernas. Outra coisa é conviver com a cidade e a região metropolitana em pleno caos muito antes do fato em si... Mas não deixa de ser um bom feriado e em pelo menos um ou dois dias ainda conto sentir o aroma sensual e refrescante das ladeiras de Olinda, lá pelas 15h, numa temperatura amena de uns 30°. À sombra. E obviamente encontrar os amigos e tomar uma geladinha entre um bloco e outro. ;)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Publicidade com responsabilidade



Para encerrar o assunto que foi iniciado com o vídeo Criança, a alma do negócio e a discussão sobre a publicidade direcionada ao público infantil, gostaria de enfatizar que não houve nenhuma tentativa de demonizar a área, mas, sim, de alertar para o poder, muitas vezes abusivo, que ela tem. E que é nosso dever de pais e responsáveis orientar nossas crianças para que elas cresçam com senso crítico e possam fazer suas escolhas baseadas em necessidades reais e não impostas. Esse é um exercício diário de lucidez e paciência que requer de nós atenção extra, além de disponibilidade, claro.

O que não quer dizer que toda publicidade seja ruim, abusiva. Lembro de uma campanha da Dove, bem recente até, em que ela apresentava várias mulheres de diferentes idades e formas físícas: tinha negras, morenas, loiras e ruivas (não recordo se havia orientais). E eram mulheres absolutamente normais: gordinhas, magrelas, gostosonas e magras do tipo modelo. E todas aparentando estar de bem com a vida e com seus corpos.

Lógico que qualquer um pode pensar que essa também foi uma forma de atingir mais segmentos e vender mais. Claro, mas não só isso. Sabonete, que eu saiba, é um produto que todo mundo usa. Está certo que a marca é uma das mais caras do mercado e que tem um público específico de consumidores, mas eu acredito que uma mulher que tenha baixa auto-estima por causa de seu aspecto físico e que pertença a esse público alvo não deixaria de usá-lo porque não gosta do que vê no espelho, concordam? O legal foi que a propaganda mostrou mulheres normais, comuns e não apenas modelos magérrimas ou celebridades. O diferencial, para mim, foi esse. Ou seja, além de vender o peixe, claro, reforçou a idéia de que você pode (e deve!) se sentir bem e bonita dentro dos seus padrões.

Com relação à propaganda abusiva, seja ela direcionada ao público infantil ou adulto, gostaria de deixar aqui uma dica que me foi dada por uma amiga publicitária e advogada sobre como denunciar propagandas que julgamos inadequadas.

Um belo dia, eu estava vendo TV - acho que Mariana tinha uns dois anos - e dei de cara com o comercial do chiclete Buballoo salada de frutas. No filme, umas três crianças entravam numa lanchonete e pediam salada de frutas. Nisso, aparecia um gato, personagem que representava a marca, e dizia, com ar esperto e descolado, que o bom mesmo era o chiclete de salada de frutas! Um desserviço completo! Nem preciso tecer mais comentários, não acham?

Comentei o ocorrido e a minha indignação numa lista de discussão da qual eu fazia parte (e ainda faço) e Paê colocou a pá de cal no assunto: disse que Sam, seu filho, que antes adorava salada de frutas, agora só queria saber do bendito chiclete.

Foi aí que nossa amiga acima citada, Renata Holder, deu a dica da denúncia. Fomos lá e registramos nossa queixa. E não é que, pouco tempo depois, a parte do comercial em que o gato falava na troca da salada pelo chiclete foi cortada??

Por isso repasso para vocês o caminho das pedras para denunciar comportamentos abusivos na publicidade.

A denúncia deve ser feita ao CONAR - Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, no formulário que tem lá no site da entidade, logo na primeira página (no finalzinho, "Reclamações Sobre Propaganda"): www.conar.org.br

Lembrando que o CONAR é um órgão não-governamental, e o máximo que ele pode fazer é recomendar a alteração ou sustação do anúncio, além de "puxar a orelha" da agência e do anunciante. Essa recomendação geralmente é cumprida.

Mas a denúncia ao CONAR não exclui uma outra ao Ministério Público, que pode aplicar sanções mais pesadas, como multa, dependendo do teor do anúncio.

É isso aí, gente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

I'm a Barbie girl in a Barbie world...



E não é que a Barbie está fazendo 50 anos, gente? Tirando as pernas finíssimas, que dificilmente equilibrariam um tronco real e os peitos desproporcionais, que mais serviriam para vergar de vez a coluna, até que a bichinha está bem conservada, hein?

Brincadeiras à parte, não sei se vocês lembram que no vídeo Criança, a alma do negócio, um dos comentaristas fala sobre as bonecas do tipo Barbie e alerta para uma inversão de imagens: antes, as meninas brincavam com bonecas e exerciam a maternagem (Rubrica: psicanálise. Técnica empregada na psicoterapia, esp. das psicoses, que busca estabelecer entre terapeuta e paciente, no simbólico e no real, uma relação semelhante à que existiria entre uma "mãe boa" e seu filho; fonte Houaiss). Com as bonecas acima citadas, esse processo não mais acontece porque ele é substituído pela projeção: a menina brinca com a Barbie não como sua mãe, mas, sim, como uma representação do que ela quer ser.

Além da imposição do padrão estético caucasiano e da magreza como ideal de beleza, existe um choque do real com o imaginário que é devastador: uma menina de quatro anos, por exemplo, construir uma auto-imagem baseada nessa distorção. E por mais que se diga que não, as coisas estão aí para serem vistas mesmo e que cabe aos pais educar e blablablá, o negócio todo parece bem alinhavado e coerente, dentro de uma coerência que visa só a atender um lado, o que vende: a menina de quatro anos se vê como uma Barbie, portanto, vai precisar da maquiagem da Barbie, da sandália de salto da Barbie, do celular da Barbie e de quantos mais produtos forem lançados em nome da boneca. Amém.

Ah, sim, e antes que venham me dizer que tem Barbie negra, morena, asiática e marciana e que assim todas as etnias estão valorizadas e a criança pode ser identificar e não se sentir marginalizada, eu digo que isso não é favor e fruto da consciência e da globalização e que we are the world, we are the children etc. São fatias de mercado a mais para consumir e com a ilusão adicional de que estão sendo valorizadas.

Na minha infância, a boneca da vez era a Susi. E eu tive não só a Susi, como o Beto, a Susi ciclista e mais as roupas de ambos, que eram compradas na antiga e extinta Viana Leal, no centro do Recife. Até bem pouco tempo, quando a minha avó era viva, revi esses bonecos e uma coisa me impressionou: comparada com a Barbie e até mesmo com o modelo atual da Susi, a antiga boneca era muito mais carnuda, tinha um corpo normal, de uma mulher magra, mas não anoréxica.

Aí eu pergunto: a questão é só os pais colocarem limites e educarem suas crianças? Acredito que isso seja a base e o dever de casa de quem se propõe a botar filho no mundo. Mas será que o bombardeamento de mensagens que levam a esse tipo de consumo inconseqüente pode deitar e rolar em nome da liberdade de expressão? Sim, porque liberdade de expressão virou o passe da hora para justificar toda e qualquer coisa.

Não quero mudar o mundo, não quero brigar com as minhas amigas publicitárias, não quero dizer que a culpa de toda e qualquer sacanagem do mundo é da TV e da publicidade. Apenas entendo que senso crítico e ética são pontos que devem nortear nossa vida pessoal e profissional. Não é porque está na TV e a campanha foi feita pelo papa da publicidade internacional ou tupiniquim que eu devo achar que é lindo e maravilhoso. Existe uma mensagem que subjaz a esse texto e ela, no fundo, se resume a compre! A peça pode ser linda, bem-feita, sutil etc., mas ela não pode me cegar a ponto de putz!, eu preciso disso porque senão a minha vida acaba agora,
embora a idéia seja essa mesmo: tira a tua bunda do sofá e vai comprar!

Da mesma forma e para não dizerem que tirei a semana para espinafrar a publicidade, também não é porque eu tenho um livro nas mãos e saiba que o(a) autor(a) suou para publicá-lo e tem seu nome na listinha dos mais lidos da Veja, que a obra é boa.

Simplesmente não consigo engolir as coisas só porque elas parecem ser boas, porque o filho da minha amiga tem, porque apareceu na novela das oito, porque isso aparentemente vai elevar a minha auto-estima. É essa a diferença e é essa a mensagem que a publicidade tenta nos meter goela abaixo: que você será único e exclusivo e que o mundo te tratará melhor, Fernandinho.

Não, o mundo não te tratará melhor e você será mais um que usará a mesma roupa, o mesmo tênis, o mesmo cabelo, o mesmo perfume. Você, na sua ilusão de exclusividade, virou uma criatura pasteurizada e lugar-comum, é só olhar ao redor que dá para perceber. No máximo, você vai ser bem tratado e aceito na tribo que não vive sem as roupas X, os sapatos Y e o perfume Z. Seu micro-mundinho que lhe dá segurança e a sensação de conforto. Seja diferente sendo igual, assim você não terá problemas. Zona de conforto total flex.

No entanto, não estou pregando uma vida de zero consumo, morar no mato, sem luz, telefone, TV, internet e demais bens de consumo, antes que me façam essa proposta irrecusável... O que eu gostaria de pontuar é que não existe almoço de graça e que comprar ou não, consumir ou não, deveria ser um direito exercido mediante uma necessidade real e não imposta de maneira muitas vezes desonesta. A sensação é aquela: ah, hoje estou deprimida, vou no shopping gastar e logo, logo passa. Não passa. O buraco volta porque não era a bolsa, o batom ou o CD que você queria de verdade... E é com essa sensação de desconhecimento, de alheiamento de si que a engrenagem se move. Porque pensar é artigo cada vez mais de luxo e, obviamente, pouco estimulado. Melhor ter. A eterna guerra da essência contra a aparência. Idiotices que existem pra quê, mesmo? Ah, apenas para você ser o do contra, o radical, o porra-loca, o alternativo. Melhor mesmo é c-o-m-p-r-a-r e ser feliz como as famílias de comercial de margarina.

Claro que as fábricas precisam produzir e se produzem, precisam vender. Aí entra a publicidade, com suas lindas e elaboradas campanhas. Beleza. Só não queiram me dizer que é coisa fácil resistir e não comprar, mesmo sem ter condições. Na íntegra do vídeo, são entrevistadas uma mãe e uma filha. A menina é aquela que na versão curta diz que não sabe por que quer se maquiar, que ainda não descobriu a razão disso, lembram? Pois bem, o vídeo maior mostra a entrevistadora se despedindo das duas em frente um a casebre sem acabamento, com os tijolos à mostra, provavelmente de dois cômodos, num terreno baldio, onde as duas moram. Isso é bacana? Eu não acho. Mas isso vai da consciência de cada um, claro.

E, sim, minha filha tem bonecas Barbie, que, infelizmente, é um dos presentes mais recebidos nos seus aniversários e eu, como não sou uma ogra, não devolvo ou jogo na cara de quem deu. Mas sabem o que me dá prazer e a me faz constatar que estou no caminho certo? É ela ganhar, brincar umas horinhas e depois deixar pra lá porque prefere andar de bicicleta, patinete, ir às aulas de natação ou brincar com os animais quando vai à fazenda da avó. Ah, ela também não resiste a bons livros infantis, os quais já lê desde o ano passado, aos quatro anos de idade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Criança, a alma do negócio



Para quem tem filhos pequenos e precisa travar lutas diárias contra a TV e a publicidade. O vídeo abaixo é uma amostra de como a coisa é intrincada e maldosamente direcionada a criar, desde cedo, uma massa alienada de consumidores. A solução? Limite as horas em frente à TV e, se possível, esteja junto, fazendo uma leitura crítica do que a sua criança vê. Use uma linguagem direta, franca e objetiva. Bom senso é uma coisa que se cultiva e o tempo é agora.





O vídeo na íntegra é longo, mas quem puder, veja, porque é muito interessante:





Grande dica da Bodega.


Update: Bastante pertinente e bem contextualizado este comentário, apesar de anônimo:

Essa fórmula é bem conhecida: faça o que eu digo mas não faça o que eu faço!

Madonna ícone e ao mesmo tempo iconoclasta, que vive da imagem e da venda dela, proibe seus fiilhos de verem tv. Legal né? Os filhos dos outros podem inclusive consumir a sua imagem e tudo que está por trás, mas os dela não.

Assim são os publicitários, fazem propaganda de refri pros filhos dos outros, os deles, não tomam.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Delícias da Amazônia






Paul chegou sábado passado de Manaus e trouxe as belezinhas aí de cima: licor de cupuaçu e esses maravilhosos bombons recheados com frutas da terra. Não sei se vocês sabem que morei três anos em Belém e simplesmente adoro tudo que vem do norte - exceto a banda Calypso, claro.

Mesmo conhecendo a maioria dos sabores, teve outros novos para mim, como o cubiu e o camu-camu (pensem numa coisa gostosa: o azedinho dessa fruta maravilhosa contrastando com o discreto doce do chocolate...), que são típicos da floresta amazônica. Atualmente, o açaí e o cupuaçu são bastante apreciados no restante do país, mas quando morei em Belém, há vinte anos, nada disso era conhecido por aqui.

Fora os sabores que citei, os recheios são de buriti, bacuri, acerola (tem origem nas Antilhas, América Central e norte da América do Sul), castanha-do-pará e de caju.

Lógico que a esteira da academia está gritando esta semana, né? Também estou em fase de distribuição dos últimos bombons sobreviventes. Alguém se habilita? :P



"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer". Assim mesmo. Eu estava lá."

(José Saramago, in "As Pequenas Memórias", Cia das Letras)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Enquete Marcelo Faria



Porque depois de tanto tempo e tanta revolta dos rapazes, que foi expressa das mais diversas formas (raiva, desprezo, silêncio, inveja, despeito e depressão), eis que a Enquete volta.

Gostaria de pedir que os moçoilos mandem sugestões, mas que o façam via e-mail para a minha excelsa pessoa, porque por aqui estraga a surpresa, tsá?

E para me redimir com a ala masculina que freqüenta o Leite de Cobra, hoje tem uma piriguete, moça bonita, inteligente e esforçada. Mas deu um trabalho daqueles para arrumar fotos dela com meio metro de pano no corpo, viram? Por isso, compareçam e votem.

Baranga of the week

Sabrina Sato


Já esquentando os tamborins (ou seria a cuíca?) para o Carnaval:





Fechação básica na Barra:





Tchaubeijomeliga:





Tão meiga...








Cara de prisão de ventre:





Momento inusitado - Sabrina com (pouca) roupa:














Marcelo faria.