Pelo tempo que este blog passou sem atualizações, posso garantir que assunto é o que não falta. Coragem de blogar, no entanto, são outros quinhentos, vamos combinar, a mão de escrever meio que se perde pela falta de uso.
A começar pelo susto que tomei com a nova configuração do Blogger, não sei ainda dizer se foi para melhor ou não, vamos ver como me saio em relação a ela.
No entanto, quero falar sobre um assunto que me deixou assim, assim durante a semana que passou. Depois da pancada que levei na cabeça (literalmente) aqui em casa -- a porta do armário da cozinha na minha testa, amor à primeira vista, avassalador --, veio a lapada metafórica, aquela que mostra que o buraco, meus bens, é sempre mais embaixo.
A mãe de um colega de classe de Mariana, lá da escola de estrangeiros de Amsterdam, egípcia, doida de pedra, porém domada pelo catolicismo ortodoxo, além de dona de um coração enorme, diga-se, me contou a história que eu tentarei reproduzir a seguir.
Além do coleguinha egípcio 1, filho dessa minha amiga, tem um outro coleguinha egípcio 2 na turma da Mariana. Longe de ser um menosprezo numérico, prefiro não citar o nome dos meninos. Pois sim, ultimamente, eu tinha visto essa minha amiga com o irmão mais novo do menino 2 pra cima e pra baixo, direto mesmo.
Pensei cá com os meus botões: vai que ela está dando uma força para a mãe do menino 2, que está grávida de quase 9 meses, e como o menininho tem menos de 3 anos, ainda pede colo e tal, a minha amiga está quebrando um galho.
Tu pensas o óbvio, Kenia Mello! Quarta-feira passada, a minha amiga explicou o que estava acontecendo.
O pai do menino 2, que é da idade de Mariana, é fumante. Sim, e daí? Daí que, segundo a criatura me contou, um belo dia, ele, ao brincar com o menininho, deixou o cigarro cair dentro da camiseta do filho. O cigarro quebrou e saiu fazendo estrago no peito da criança. Na creche, as cuidadoras viram e acionaram a polícia, Resultado: os pais perderam a guarda do filho e como não têm parentes aqui na Holanda, tiveram de recorrer aos pais do menino 1, que estão com o menininho vivendo em casa, e os pais podendo visitá-lo apenas nos fins de semana. Em dezembro, a sorte da criança (e dos pais, óbvio) será decidida.
Eu, particularmente, achei essa história do cigarro quebrar meio esquisita, perguntei para a minha amiga se não tinha sido violência mesmo e ela me garantiu que os pais são pessoas boas. Who will know?
Por um lado, compreendo parcialmente a iniciativa das cuidadoras: ao ver a criança com o corpo queimado, é lógico que deveriam se pronunciar, chamar os pais, esclarecer o fato. O que me pergunto é se esse comportamento, de chamar a polícia imediatamente, aconteceria se os pais fossem holandeses. E se a história se passou mesmo assim, de acordo com a versão dos pais? Tremenda de uma injustiça, não?
O que eu vejo é a mãe todo dia na porta da escola, barriga pela boca, esperando o filho mais velho agarrada com o caçula, e depois vendo-o ir embora com a amiga que, generosamente, o está acolhendo em sua casa.
Coisas da vida que redirecionam nosso olhar tornando-o um pouco mais duvidoso de que a justiça seja cega. Tomara que ela não seja surda também.