sábado, 30 de maio de 2009

Curtinhas



Você sabe que está envelhecendo quando, numa mesa de bar, conhece todas as piadas, mas ninguém entende as suas.

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A um passo do ateísmo, dou a última chance a Deus: se você me livrar de mim mesma, negócio fechado.

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Alguém pode me explicar por que Susan Boyle é a exceção e não a regra?

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Só hoje, depois de 42 anos, descobri que as sereias eram metade mulher, metade pássaro. Meu mundo caiu.

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sexta-feira, 29 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mais um equívoco



"Quero pedir desculpas pela informação errada que eu dei. Eu nunca pedi auxílio-moradia, mas por um equívoco, a partir de 2008, me informaram que realmente estava sendo depositado na minha conta o auxílio-moradia. Eu já mandei retirar isso."

Essa foi a declaração que José Sarney, digníssimo Presidente do Senado brasileiro, deu sobre o recebimento irregular de auxílio moradia.

Acho que só eu, que não tenho um gato pra puxar pelo rabo, notaria uma quantia de R$ 3,8 mil sendo depositada indevidamente na minha conta durante um ano...

E vejam como ele se refere à quantia: isso... Donde se deduz que é uma merreca mesmo diante de mais outros equívocos que devem cair, todo mês, na conta do ilustre representante do nosso Senado.

Mas o que reconforta é saber que, depois dessas desculpas, nada de mais sério acontecerá a esse senhor, fica o dito pelo não dito e a conta vocês sabem quem paga...

Um dia é do touro






Não vou dizer que tive pena. Não esperem de mim nenhuma compaixão pela espécie humana numa situação dessas. Torço sempre pelo touro, mesmo apreciando um bom cupim e uma picanha ao ponto, sem capa de gordura. Hipocrisia? Não, falta de coerência mesmo. Fazer sentido quase sempre é um exercício entediante.

Aviso importante



Agora que aprendi a colocar .pps no blog, não ficará pedra sobre pedra. Aguardem que toda moral vitoriana e toda culpa burguês-judaico-cristã serão abaladas nos seus mais recônditos alicerces. :P

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Dona Lindu - o parque mais famoso do Recife



Mais um post da série Vamos conhecer Pernambuco:





Saiba mais sobre o parque fazendo uma rápida pesquisa no Google. Se bem que a paródia do Quanta Ladeira e o vídeo são bastante elucidativos...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pinacoteca de Igarassu






Com 24 obras em estilo barroco, dos séculos XVII e XVIII, a Pinacoteca de Igarassu é o quinto acervo de arte barroca da América Latina e o oitavo do mundo. Construída no que era o dormitório dos noviços do Convento de Santo Antônio, a Pinacoteca, em 2001, emprestou ao Museu Guggenheim, de Nova Iorque, quatro dos seus mais bonitos quadros.

Você, que é pernambucano(a), conhece a Pinacoteca? Já pagou dois míseros reais para ver o seu acervo? Sabia que nele muito da história de Pernambuco é contada? Não? Mas vou logo avisando: a Pinacoteca é bem quente, dependendo da época do ano e da quantidade de pessoas presentes, chega a sufocar. Deveria ser climatizada, não? Que tal se ao invés de pagar a merreca lá de cima, você desse um pouco mais? Outra idéia também seria divulgar a existência da Pinacoteca entre seus amigos, não só para os que vêm de fora querendo conhecer o nosso Carnaval e que tais, mas os daqui também. Outra pedida seria cobrar da Fundarpe mais divulgação. E cadê o secretário de Turismo do nosso estado numa hora dessas?

Então, ao invés de escrever e-mail choroso reclamando que eu detono Pernambuco no blog, você deveria ter consciência de que aquilo que chamam de cultura popular nada mais é do que o seu recorte oficial. Isso que se acredita serem as raízes da nossa cultura, nada mais é do que a sua pasteurização, coisa pra turista ver. Não seria mais bacana se você deixasse esse discurso bairrista e meia boca de lado e começasse realmente a conhecer Pernambuco?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Canção popular



O Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE, em parceria com a revista Crispim (www.revistacrispim.com) promoverá, no próximo dia 28 de maio, a partir das 19:00h, um debate sobre o tema Canção popular. Os editores da Crispim conversarão com Conrado Falbo (músico e aluno do Programa de pós-graduação em Letras da UFPE) e Peron Rios (professor e pesquisador).

A música erudita e a música popular são tão diferentes uma da outra o quanto pensamos? Ainda é pertinente o reiterado debate sobre o estatuto literário das letras das canções populares? Que desafios teóricos a pesquisa sobre canção popular cria para o pesquisador e crítico? Existe um conceito satisfatório do que seja música popular? Há formas poéticas que são mais adequadas à canção do que outras? O que é performance e como este conceito pode nos ajudar a entender a realização das canções?

Estes e outros temas estarão na pauta do nosso debate, que não somente contará, como cantará: além dos debatedores, teremos a presença das cantoras Adryana BB e Aparecida Silvino que, junto com Conrado Falbo, mostrarão um pouco das suas canções.

PPGL & CRISPIM: Canção popular
Data: 28 de maio, a partir das 19h.
Local: Livraria Cultura.
Convidados: Conrado Falbo & Peron Rios + Adryana BB & Aparecida Silvino

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Olha, que isso aqui tá muito bom...



As chuvas já começaram e daqui a pouco volta a se repetir o mesmo de todos os anos, ano após ano, religiosamente: deslizamentos de barreiras, mortes e as autoridades jogando a responsabilidade de lá pra cá - pra cá, não, que eu não tenho nada a ver com isso... Só faltam dizer que a culpa é do morador do morro que, podendo morar num Moura Dubeux, se manda para uma zona de risco só para sair nas capas dos jornais, pense num povo abusado!

Mas morar em Recife tem lá seus encantos. Você pode, sempre que quiser, por exemplo, dar um pulinho na praia de Boa Viagem (ou da Boa Viagem, como nossos amiguinhos de outras regiões costumam chamar) e olhar aquele marzão bonito, tomando uma água de coco geladinha. Só tenha cuidado com sua carteira, seu celular e sua vida, fique esperto e não vá querer você também se amostrar em manchetes de jornal. Não se engane, no outro dia você já era: virou notícia velha e o show não pode parar.

E o negócio não tem hora para começar, não. Muito menos pra terminar. Ser assaltado e levar uma bala na cara não é mais parte da programação noturna da cidade: qualquer hora é hora e o palco é itinerante.

No entanto, tem nego que ama isto aqui, que não sai por nada neste mundo. Sair, sai, sim. Basta um dia ele ou alguém de sua família ser a vítima. Aí ou ele acorda, faz as trouxas e se muda para Miami ou Afogados da Ingazeira, ou vai fazer passeata pela paz, perdoar o assassino porque ele é produto das desigualdades sociais e blablablá e virar notícia também. Se tiver pedigree, pode dar sorte e aparecer por dois dias consecutivos nos nossos digníssimos tablóides.

E nem estou falando das ruas porque estas continuam como sempre: sujas, igualmente cheias de cocô de cachorro e demais degredados - como é que a prefeitura, que desde tempos imemoriais está nas mãos do PT, não faz um trabalho social decente, penso cá com a minha companheira, a ignorância.

Mas isso são apenas detalhes. Já está chegando o São João e na nossa megalomania bairrista não há espaço para mais nada que não seja o forró sacanagem e as tradicionais gentes da fina sociedade local torcendo o nariz e migrando para a chic Gravatá, onde são cultivadas as tradições e o legítimo pé de serra.

O melhor é, então, deixar de besteira, afinal, o que é o caos diário diante do fato de termos o Maior São João do Mundo?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Xô, Peta!






Quando uma organização que trata de um assunto sério como é a defesa e o tratamento ético dos animais permite que uma inverdade seja usada para dar sustentação à sua causa, perde o meu respeito. Aproveitar-se do pânico alheio para qualquer fim, seja ele nobre ou não, é uma tremenda duma escrotice.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Momento fotogenia






Definitivamente, o ângulo não me favoreceu.

Mia Couto



Acho meio pernóstico isso de dar uma dica pelo simples fato de ninguém estar pedindo, ô abuso. Mas descobri Mia Couto há pouco e estou gostando muito.


Meia culpa, meia própria culpa


Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o meu nome: Maria Metade.

Fosse eu invocada por voz de macho. Fosse eu retirada da ausência por desejo de alguém. Me tivesse calhado, ao menos, um homem completo, pessoa acabada. Mas não, me coube a metade de um homem. Se diz, de língua girada: o meu cara-metade. Pois aquele, nem meu, nem cara. E se metade fosse, não seria só a cara, mas todo ele, um semimacho. Para ambos sermos casal, necessitaríamos, enfim, de sermos quatro.

A meu esposo chamavam de Seis. Desde nascença ele nunca ascendeu a pessoa. Em vez de nome lhe puseram um número. O algarismo dizia toda a sua vida: despegava às seis, retornava às seis. Seis irmãos, todos falecidos. Seis empregos, todos perdidos. E acrescento um segredo: seis amantes, todas actuais.

Das poucas vezes que me falou, nunca para mim olhou. Estou ainda por sentir seus olhos pousarem em mim. Nem quando lhe pedi, em momento de amor: que me desaguasse uma atenção. Ao que retorquiu:
- Tenho mais onde gastar meu tempo.

Engravidei, certa vez. Mas foi semiprenhez. Desconcebi, em meio tempo, meio sonho, meia esperança. O que eu era: um gasto, um extravio de coisa nenhuma. Depois do aborto, reduzida a ninguém, meu sofrer foi ainda maior. Sendo metade, sofria pelo dobro.

Pede-me o senhor que relate o sucedido. Quer saber o motivo de estar nesta cadeia, desejando ser condenada para o resto deste nada que é a minha vida? O senhor que é escritor não se ponha já a compor. Escreva conforme, no respeito do que confesso. E tal e qual.

Pois, conforme lhe antedisse: a verdade não confio a ninguém. Verdade é luxo de rico. A nós, menores de existência, resta-nos a mentira. Sovi pequena, a minha força vem da mentira. A minha força é uma mentira. Não é verdade, senhor escritor?

Por isso, lhe deitei o aviso: eu minto até a Deus. Sim, Lhe minto, a Ele. Afinal, Deus me trata como meu marido: um nunca me olha, o Outro nunca me vê. Nem um nem outro me ascenderam a essa luz que felicita outras mulheres. Sequer um filho eu tive. Que ter-se filhos não é coisa que se faça por metade. E metade eu sou. Maria Metade. Agora, o que aspiro é ficar em sombra perpétua. Condenada por crime maior: apunhalar meu marido, esse a quem prestei juramento de eternidade. É por causa desse crime que o senhor está aqui, não é assim?

Pois lhe confesso: aqui, penumbreada nesta prisão, não sofro tanto quanto sofria antes. É que aqui, sabe, acabo saindo mais que lá em minha casa natal. Vou onde?
Saio pelo pé de meu pensamento. Por via de lembrança eu retorno ao Cine Olympia, em minha cidade de outro tempo. Sim, porque depois de matar o Seis reganhei acesso a minhas lembranças. É assim que, cada noite, volto à matiné das quatro de minha meninice. Não entrava no cinema que me estava interdito. Eu tinha a raça errada, a idade errada, a vida errada. Mas ficava no outro lado do passeio, a assistir ao riso dos alheios. Ali passavam as moças belas, brancas, mulatas algumas. Era lá que eu sonhava. Não sonhava ser feliz, que isso era demasiado em mim. Sonhava para me sentir longínqua, distante até do meu cheiro. Ali, frente ao Cinema Olympia, sonhei tanto até o sonho me sujar.

Regressava a horas, entrava em casa pelas traseiras para não chorar ante os olhos sofridos de minha mãe. Minha fatia de tristeza era uma ofensa perante as verdadeiras e inteiras mágoas dela. Regressava depois do quarto, olhos recompostos, fingindo uma alegriazita. Minha mãe se apercebia do meu estado, desembrulho sem prenda. E me dava conselho:
- Sonhe com cuidado, Mariazita. Não esqueça, você é pobre. E um pobre não sonha tudo, nem sonha depressa.

Vantagem da prisão é que todo o dia é domingo, toda a hora é de matiné das quatro. É só meu sonho dar um passo e eu já vou sentando minha privada tristeza no passeio público. Volto onde eu não amei, mas sonhei ser amada. É só um passo e eu atravesso o passeio público. E não mais precisarei de invejar o sorvete, o riso, a risca no penteado.

Pouco restou da minha cidadezinha. Onde era terra sem gente ficou gente sem terra. Onde havia um rosto, hoje há poeira. O trilho das goiabas se asfixiou no asfalto. Nem a chuva tem onde repousar. A cidade se foi assemelhando a todas as outras. Nessa parecença, o meu lugar foi falecendo. Nessa morte foi levada minha lembrança de mim. A única memória que me resta: a migalha de um tempo, o único tempo que me deu sonhos. Sob vigilância de minha velha mãe, eu cuidava de não sonhar tudo, nem depressa. Ainda que fossem metades de sonhos, esses pedaços ainda me adoçam o sono, deitada no frio da cela.

O senhor não está aqui por mim. Mas por minha história. Isso eu sei e lhe concedo. Quer saber como sucedeu? Foi em tarde de cinza, o céu descido abaixo das nuvens.
Eu pretendia era revirar página de um despedaçado livro. Descosturar-me desse Seis, meu marido. Eu queria me ver separada dele para sempre, desunidos até a morte nos perder de vista. Até não ser possível morrermos mais.

Naquela vez, já a decisão me havia tomado. Fui recebê-lo na porta, a roupa abotoada por metade, o punhal escondido em minha mão. Chovia, de lavar céu. Eu mesma me aguei aos olhos de Seis. Brinquei, provoquei, mostrei o cinto distraído, desapertado. Provoquei com perfume que minha vizinha me emprestou.
- Você quer-me molhada pela chuva.
- Quero-lhe é mais molhada que chuva.

Então, quase derrapei em minha decisão. Estava-se emendando fatalidade? É que, por primeira vez, meu marido me olhou. Seu rosto se emoldurou, único retrato que comigo guardo. Para disfarçar, revirei a chuinga entre os lábios, fiz adivinhar o veludo da carícia. Mas o gesto já estava fadado em minha mão e, num abrir sem fechar de olhos, o meu Seis, que Deus tenha, o meu Seis estava todo pronunciado no chão. Decorado com sangue, aos ímpetos, mapeando o soalho.

Relatei o sucedido, tudo de minha autoria. Mas não confesso crime, senhor. Não. Afinal, não fui eu que lhe tirei vida. A vida, a bem dizer, já não estava nele. O que sucedeu, sim, foi ele tombar sobre o punhal, tropeçado em sua bebedeira. O Seis, meu Seis, se convertera em meia dúzia. A condizer com a minha metade de destino.

Não o matei. E disso tenho pena. Porque esse assassinato me faria sentir inteira. Por agora, prossigo metade, meio culpada, meio desculpada.

Por isso lhe peço, doutor escritor. Me ajude numa mentira que me dê autoria da culpa. Uma inteira culpa, uma inteira razão de ser condenada. Por maior que seja a pena, não haverá castigo maior que a vida que já cumpri. E agora, por amor dessa mentirosa lembrança, o senhor me abra a porta do Cine Olympia. Isso, faça-me esse obséquio, lhe estou agradecendo. Para eu, finalmente, espreitar essa luz que vem de trás, da máquina de projectar, mas que nos surge sempre pela frente. E sente-se comigo, aqui ao meu lado, a assistirmos a esse filme que está correndo. Já vê, lá na tela, o meu homem, esse que chamam de Seis? Vê como ele, agora, no escurinho da sala está olhando para mim? Só para mim, só para mim, só.


(In: O Fio das Missangas)

domingo, 17 de maio de 2009

Instantâneo



(Cais José Estelita, Recife)


Meio-dia
sol a pino
céu azul de poucas nuvens
maré baixa, maré lenta
meio peixe, meio homem
o pescador arrasta a rede

se houve peixes, não sei,
segui em frente, quase à força
empurrada por minhas monotonias

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Confissões aborrecentes de uma mariazinha






Está todo mundo ouriçado com a entrevista que Maria Mariana, aquela com cara de pintinho ciscando no lixo, que escreveu o idiota Confissões de adolescente, deu para a revista Época. Qual o espanto? Por que a indignação diante das falas da moça? Já não era de se esperar que sandices como as que ela falou na entrevista pudessem sair de sua cabecinha? Se a idéia de casamento dela é entender o ato de catar as cuecas deixadas no chão pelo marido com uma prova de resistência e paciência, se ela acha que amamentar é merecimento, que depressão pós-parto é castigo, que é o parto normal que confere à mulher a condição de mãe e mais umas tantas imbecilidades que quem quiser pode ler aqui, tudo isso é problema dela, ora.

Se alguém quiser comprar o livreco onde ela elenca seus insights esquizóides, azar. Eu acredito na possibilidade e na existência de espaço para qualquer um falar o que quer. E não entro mais - ou tento não gastar energia à toa - em polêmicas vazias. De um lado, uma criatura falando bobagens. Do outro, um alguém refutando seus argumentos. Um querendo sobrepor o seu discurso ao do outro. Cada um querendo demonstrar por A+B que o seu ponto de vista é o mais acertado, engajado, ajustado, politizado, humanizado, original, revolucionário... Pra quê? Isso muda em que medida o fato de a moça encontrar quem lhe compre o livro e a tosquice das suas idéias? E se alguém comprar e gostar e aplicar as teorias marianísticas à sua vida e se sentir bem? Será um ser obscuro a mais, que não conhece a luz, o jogo ideológico que subjaz ao texto, que não terá futuro? Ai, isso me dá sono.

O fato é que já não me espanto com coisa nenhuma que vejo, ouço ou leio. É simples e nem dói: você vê, ouve, lê. Estabelece relações pessoais e intelectuais com o que vê/ouve/lê. Se houver cabimento, elucubre sobre o assunto. O que você viu/leu/ouviu compensou o seu empenho físico (sentar a bunda numa cadeira em frente a um computador, por exemplo) e intelectual? Caso positivo, acrescente esse novo saber ao seu conhecimento de mundo e à forma como você atua nele. Negativo? Não perca mais tempo, simplesmente boceje e siga em frente.

Amarrando o bode pela boca



Ontem comi açúcar demais, resultado: acordei de bode, mal-humorada, irritada, lenta. Não sei como alguém pode se entupir de doce e achar isso normal, não sentir nada. Tinha um amigo que, no seu tosco radicalismo macrobiótico, sempre me perguntava se eu queria gozar pela boca. Ele é que estava certo. E eu não aprendo nunca.

domingo, 10 de maio de 2009

Palavras






(Nunca fui feita de silêncios e se algum dia disse o contrário, enganei mais a mim do que a você, por algum propósito, mesquinho, ou por me querer sozinha, ao largo).


Palavras silenciosas, ditas, mal ditas, pensadas, caladas e proscritas.
Com palavras e mesmo na ausência delas, parafraseio o mundo
nomeio, mesmo que imprecisamente,
aquilo que sinto, vejo e desconfio.
E daquilo que desconheço a carne, a feitura e as urgências, vasculho entre as palavras que tenho,
um modo menos árido de lidar com as estranhezas.
Com palavras fujo da loucura, da incipiência, das longas horas, dos dias curtos, do que é do outro e me tira o sono
quando pretendo entendê-lo.
Palavras unidas a outras palavras, encadeadas, com pretensões de fazer sentido.
Ou palavras jogadas numa superfície qualquer, desde que plana.
Palavras como dados
E mesmo misturadas, confusas e desligadas,
sempre um fio se acha que as condense, que as faça frase, expressão de algum sentido ou de um desatino estudado.
Porque palavra é intenção. E intensidade. Para cima ou para baixo, monossilábica de pressas
ou desejante de um tempo maior que as faça eco.
Palavras são pretextos
textos e contexto
Mas sempre palavras, palavras, palavras
Eu, que sigo nomeando meu ao redor de quase certezas
Não acho às vezes palavra certa,
aquela uma, única, que preencha o escuro da minha mudez
E aí me perco, lanço ao mar tarrafa e esperas
E mais palavras vêm, generosas, intrometidas, desabusadas,
E mais eu me afogo no emaranhado das suas pernas, dos seus sexos, dos seus apelos, da sua parentença
Aí me calo, me fecho e levo-as todas
E na toca que é a armadilha do meu silêncio
Eu as trituro, disseco, devoro e descarto
E volto a ser eu
Um ser cheio de palavras
mas de muito pouca exatidão.

sábado, 9 de maio de 2009

Green Wheels






Nessas férias, vi um projeto muito legal na Holanda, que se chama Green Wheels - não sei se outros países o adotam. Pelo que entendi, o esquema é o seguinte: os carros, facilmente identificáveis como vocês podem ver acima, são usados por associados que, ao aderirem ao programa, pagando, claro, recebem uma identificação e um cartão, o qual é utilizado como chave desses carros. Para utilizá-los, o cliente liga ou consulta o website do grupo informando sua localização para que saiba onde está o veículo mais próximo. Depois de usar o carro, é só deixar no mesmo local. Legal, né? Uma excelente alternativa para quem precisa mas não deseja comprar um carro e ter a preocupação de conseguir um local para guardá-lo, pois nem todas as moradias têm garagem e, quando têm, muitas vezes são vendidas como um imóvel à parte (bem carinho, por sinal). E nem se está falando nos impostos e manutenção do carro...

Ah, o cartão também dá direito a abastecer sem pagar porque a gasolina gasta no percurso é debitada na mensalidade do seu pacote.

sexta-feira, 8 de maio de 2009



Escovei os dentes com Hipoglos. E o dia está só começando...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Notinha de esclarecimento



No post de ontem, não me referia aos políticos de carteirinha e às chuvas do NE. Estava, umbilicalmente centrada, falando em outro tipo de cerumano, político por natureza, mas não por profissão, aqueles de quem, por um motivo ou por outro, a gente depende, por mais ativos, altaneiros, empreendedores, virados na febre tifóide que sejamos. Sim, tem coisas que não dependem do nosso aguerrido esforço, mas, sim, da boa vontade alheia. Era a isso que eu me referia. E antes que chegue alguém dizendo que eu reclamo de barriga cheia, já mando, de antemão, à merda. Porque o fato de eu ter feito uma viagem muito legal, com zero de incidentes, tudo nos conformes e até além do esperado, não anula a existência de milhões de pepinos na volta e ter também de lidar com atitudes de pessoas que eu, estando no lugar delas, jamais tomaria. Simples. Além do mais, está na minha natureza reclamar. E muito. E ainda vou reclamar mais até a minha chateação passar. Melhor assim do que voar no pescoço de alguém, concordam? E tenho dito.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Frase do dia



Uma das piores merdas da face da terra é depender da (falta de) boa vontade alheia.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Monástica






Depois de quase um mês morando num apartamento mobiliado com o básico abro parêntese para a seguinte cena: preparando o café da manhã da criaturinha, ouvi o abismado comentário. Mãe, você esquenta o leite no fogão??!! Cadê o microondas?? Eu, a própria mulher de Neanderthal, sendo mordida pela cobrinha que estou criando... Fecho parêntese, com os armários ocupados apenas por roupas que realmente usávamos, abro parêntese de novo: meu ex-marido dizia que havia roupa no armário de quando eu tinha doze anos - não foi à toa que virou ex... Fecho parêntese, com a dispensa e a geladeira com comida para, no máximo, três dias, cheguei mais uma vez à conclusão óbvia de que passamos grande parte da vida acumulando coisas que muitas vezes não servem para absolutamente nada. No meu caso, como vivi grande parte da minha vida com meus avós, cresci cercada de objetos cheios de histórias, lembranças e nostalgias, meio que tento reproduzir essa sensação de enraizamento, talvez para compensar um pouco a minha natureza tão pouco presa a determinados padrões de relacionamento familiar. Mas faço isso em luta interna, conflito mesmo, porque sei que tudo é de passagem e na hora de seguir o que deve ser o em frente, dá um trabalho dos diabos decidir o que tem importância e o que pode ir para o lixo. Fora o desgaste emocional... De modo que, passada a turbulência das coisas a fazer, o próximo passo é incluir sacos de lixo de 50l (são os maiores?) na lista de supermercado. Preciso aproveitar essa fase de desapego monástico e botar pra quebrar. Não vai ficar pedra sobre pedra. Já imagino dois pares de olhos arregalados, mas aqui em casa a diversão sempre foi garantida.

segunda-feira, 4 de maio de 2009






Sol de primavera abre as janelas do meu peito, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender...

Gripe Porcina






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Cheguei hoje, 1 da matina. Vôo tranqüilo. Malas já desfeitas. Jet lag na cabeça. Um livro para ler, dois contos e dois textos de Antonio Candido. Para a próxima sexta. Para o próximo sábado. Contas a pagar. Baratas para matar. Calor miserável. Coisas para organizar. Supermercado para fazer. Enfim, não sei quando dou notícias. Fui. Bom dia para todos. Uma excelente semana. E voltar pra casa é sempre uma merda.