terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ik ben trots op haar/ Mãe é bicho idiota mesmo...



Se mudar de cidade e alterar a rotina de uma criança de sete anos é complicado, imaginem mudar para um país cuja língua lhe é totalmente estranha e onde ela terá de começar basicamente do zero em termos de amizades, adaptação na(s) nova(as) escola(s) etc. Não foi fácil. Aliás, foi extremamente difícil tanto para ela quanto para nós. E o processo, apesar de já ter superado a fase inicial, ainda não terminou.

Sim, porque a pior coisa na vida é ver um filho sofrendo e não podermos fazer nada além de consolar e encorajar com a promessa de que depois as coisas vão melhorar. É osso. Cansei de me questionar sobre a decisão que tomamos de mudar para cá, foram muitos dias de insegurança, receio e angústia.

E a barra que ela enfrentou também não foi pequena.

Mariana sempre foi uma menina ultra comunicativa e com enorme facilidade de fazer amigos. Bastava que fôssemos almoçar em um restaurante com recreação infantil para que a criatura arrumasse três ou quatro amiguinhos e difícil mesmo era conseguirmos ir embora sem antes ouvir uns 137 só mais cinco minutos, mãe/pai.

Morávamos em um condomínio cheio de crianças, onde Mariana tinha bastante amigos e amigas, muitos deles tendo crescido junto com ela.

A escola é um capítulo à parte: Maricota começou a frequentá-la aos 2 anos e três meses, amava as tias, os amigos e amigas, a best friend Luísa. No último dia de escola, teve uma linda despedida, foi um chororô triste. Eu preferi não participar, ao invés de ir, mandei uma carta para a diretora explicando que eu não tinha condições emocionais de segurar a barra e ainda me manter equilibrada para resolver as muitas broncas pendentes antes da nossa vinda para cá -- pra vocês terem uma ideia, nosso voo saiu às 22h e às 15h do mesmíssimo dia, estava eu no consulado (em Recife) pegando os últimos carimbos com o cônsul...

Nessa carta, que escrevi para ser lida pela professora de Maricota na despedida, falei de cada funcionário da escola e de sua importância na vida da nossa filha. Ela, no entanto, não chorou nem nada: apenas consolou as amiguinhas e a tia. A ficha não tinha caído ainda.

Chegamos nas férias de outono. Amparada pela companhia do primo, ficou achando que estava aqui a passeio. O bicho pegou mesmo quando as aulas começaram e os desafios apareceram. No entanto, ela nunca se queixava diretamente, dizia que estava tudo bem, embora tivesse crises de choro diárias. Nessas horas, o coração apertava porque sabíamos que era a falta de tudo que lhe era familiar, seus amigos e amigas, sua rotina, suas pequenas certezas.

O pior dia foi quando, numa dessas crises de choro, pela primeira vez ela perguntou ao pai por que ele tinha lhe feito isso, por que tinha lhe tirado todos os amigos... O pai morreu, né? Rapidamente, Fernanda Montenegro assumiu o babado e falou que no Brasil também tinha coisas ruins, uma delas era o fato de papai viver sempre viajando a trabalho. Mariana consolada e eu uma noite sem dormir... Detalhes.

E assim os meses foram passando, até que ela começou a falar holandês com desenvoltura e perdeu o medo de pedir para brincar com criaturas da sua idade -- antes ela só interagia com crianças de 1 ou 2 anos --, e apesar de ainda dizer que não tem muitos amigos, não está mais infeliz.

Eu já tinha comentado aqui que ela frequenta a escola da nossa cidade uma vez por semana, devendo mudar para ela, em definitivo, lá pro fim de outubro. Pois bem, descobrimos que numa rua transversal à nossa mora um coleguinha de escola, com o qual ela se dá super bem. Hoje Maricota está passando o dia na casa dele e ele já veio visitá-la também.

E assim a vida segue o seu curso natural, com suas dificuldades, claro, mas cheia de pequenas e valiosas conquistas.

Mariana e R., aqui em casa, jogando Wii. Ele não é a cara do Charlie (Charlie e Lola, Discovery Kids)?




sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Por detrás das tulipas e dos tamancos...



Antes de sair do Brasil, sempre ouvi dos amigos que moravam fora que uma das piores coisas do processo de viver no exterior, além da saudade da família, dos amigos e dos antigos costumes, claro, era a convivência com outros brasileiros porque, com poucas exceções, é cobra engolindo cobra, muita competitividade, muita falta de solidariedade etc.

No que me toca, ainda tenho muito pouco tempo aqui (seis meses) para falar sobre o assunto, porém como observar não paga imposto (ainda), tenho cá as minhas impressões.

A principal delas diz respeito à antiguidade em solo holandês. Isso mesmo, morar aqui por um determinado tempo, o suficiente para se ter o visto de cinco anos -- se tiver a cidadania holandesa, então, a coisa se agrava --, desencadeia um fenômeno curioso: existe algo em terras de Oranje que age sobre os genes da criatura e a torna mais holandesa do que os próprios holandeses! O ser conhece e sabe mais da vida na Nederlândia do que os próprios. Impressionante!

A ponto de as próprias holandesas se sentirem assim, sei lá, meio do Paraguai...

Dentre os principais sintomas dessa anomalia está a amnésia: a pessoa esquece completamente o quanto sofreu com o idioma, para conseguir o primeiro emprego, para dar conta das exigências do governo, enfim, esquece como chegou aqui...

Na cabecinha dela (ou pelo menos na imagem que ela tenta lhe vender...), a coisa é bem diferente:

Pois é, é muito sucesso, minha gente, vamos combinar.

De modo que ela, além de não se lembrar de nada do que passou, ainda esquece que, sim, o seu prazer de estar descobrindo as coisas aos poucos é genuíno e merece, no lugar de desdém, encorajamento.

Fico me perguntando o quê leva alguém a se transformar em algo assim. Muitas vezes o sofrimento, ao invés de transformar as pessoas em seres humanos melhores, faz com que elas se tornem mais mesquinhas, rancorosas e egoístas. Taí mais um clichê quebrado. É como se o progresso das demais as incomodassem, quer seja por medo de uma concorrência (muitas vezes imaginária) profissional e/ou pessoal, quer seja pela pura necessidade de se sentir superiores mesmo, tamanho deve ser o sentimento de inferioridade que carregam. Quem vai saber?

Claro que se estabelecer em um país estrangeiro com êxito é uma coisa muito importante e digna de admiração, ainda mais quando sabemos que precisamos lutar em dobro para conseguir todos os objetivos aos quais nos propomos. No entanto, grande parte desse brilho se perde justamente quando a falta de humildade se instala. E o mais melancólico nisso tudo é saber que essas pessoas terminam se transformando em um híbrido despatriado: por se acharem melhores do que os seus patrícios, jogam fora as suas origens, mal sabendo que, para os locais, por mais que elas se "integrem", serão sempre estrangeiras...




quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A primeira DR



Pois é, apesar das trocentas recomendações, Mariana só se segurou no primeiro dia. No dia seguinte à chegada de Dropje, ela já não se controlava mais e ficava nos calcanhares do gato a todo instante. E parecia que o danado estava gostando, pois, quando não estava dormindo (e eu em cima pra ela não acordá-lo...), estava do lado da criatura humana.

E assim se passaram dez anos os dias, até que ontem o par entrou na primeira crise: o gato vomitou. Até aí nada anormal, todo gato vomita os pêlos que lambe e ela sabe disso. Só que ele vomitou no quarto dela, perto da cama (nem preciso dizer quem limpou, né? Detalhes...) e a menina é enjoada com cheiro ruim, nojeira, essas coisas. Mas tudo bem, entendeu que faz parte, embora tenha ficado meio chateada.

Só que, desde ontem, o gato aparenta estar meio de saco cheio de tanta perseguição e tem se escondido debaixo de nossa cama, o único lugar que ele sabe ser à prova de Maricota -- se bem que ela tenta, mas como a cama é grande e ele sempre fica numa quina meio inacessível, vai se safando...

Hoje, quando voltamos do dentista (meu tratamento), ela chegou toda cheia de amor pra dar e foi acordar o gato. Ele, que não gostou da graça, correu pra debaixo da cama. Aí a revolta se apossou da pessoinha: correu pro quarto, pegou o quebra-cabeças de 200 peças, abriu o tapete do puzzle e começou a montá-lo, mas não sem antes fazer uma barricada na sala pro gato não chegar junto e danou-se a reclamar:



Esse gato agora vai ver quem vai fazer carinho nele. Pode ficar debaixo da cama que eu nem ligo. Pode devolver ele agora, mãe. Mas, Mariana, ele está se escondendo porque você não dá paz e ele precisa dormir. Quem manda ele trocar a noite pelo dia? E se ele quer paz, vá de volta pra casa dele. Pensem numa DR infeliz e unilateral (como quase todas, rá!)! E eu quase me estourando de rir, mas fazendo a séria porque se eu risse, ela ia ficar com mais raiva ainda.

E o gato, claro, continua debaixo da cama.



Só estou admirada que ele não tenha ainda dado nenhuma mordida ou arranhada. Mas a paciência dele deve estar por um fio. A minha, no seu lugar, estaria.




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O primeiro tombo de bike a gente nunca esquece...



Uma hora ia acontecer, claro. Quando saiu do Brasil, com quase 7 anos, Mariana ainda andava de bicicleta com rodinha. Isso porque, infelizmente, Recife não é dos lugares mais seguros pra se andar de bike na rua, de modo que ela preferia o patinete, uma vez que era o que o espaço no nosso condomínio permitia. Deixou, então, pra tirar as rodinhas aqui.

As crianças holandesas praticamente nascem em cima de uma bicicleta: tão logo começam a andar, já ganham uma bicicletinha de madeira para ir treinando equilíbrio, essas coisas. E claro que nós não queríamos que ela se sentisse um ET por não andar de bicicleta, né?



Maricota, como sempre, foi super rápida no gatilho: na primeira vez que foi treinar, com algum receio, lógico, já tirou de letra e saiu desembestada. Quase na frente do apartamento tem duas quadras imensas e foi lá que a criatura teve as primeiras lições:



Daí que a etapa seguinte naturalmente foi ir pras ciclovias: Paul e ela fizeram uns dois passeios antes de irmos os três por aí sem lenço, mas com documento. E ela foi super bem e confiante. Mas sempre naquele esquema um olho no peixe, outro no gato: Paul na frente, ela no meio e eu na retaguarda. Isso até a última sexta-feira...

Decidimos subir a ponte de Ijburg (bairro de Amsterdam construído numa ilha artificial aqui perto de Diemen). A ponte se chama Nesciobrug -- em tradução livre: Ponte do Estúpido (mentira, Nescio é o nome do arquiteto, super famoso por essas bandas, que tocou o projeto):



Vendo assim, todo mundo logo pensa: esses dois são uns irresponsáveis! Nada, gente, o que assusta mesmo é a altura/tamanho da ponte. Em cima, é super tranquilo e a ciclovia é segura. Confesso que quem quase fez nas calças fui eu, mas isso não é novidade.

Então, o acidente aconteceu depois que descemos a ponte. Entramos em um parque cuja ciclovia era imeeensa e quase sem movimento. Asfalto lindinho, árvores e depois da descida espremidos, resolvemos fazer o quê? Apostar uma corrida, claro. Mariana, que não perde pra basculho, danou-se a correr na frente. Eu e Paul entramos na onda e a ultrapassamos. Quando ouvi, foi só o estouro atrás de mim. Parece que ela não reduziu a velocidade na hora de mudar de marcha e alguma coisa travou, não sabemos ao certo.

O que vi foi a criatura chorando, estirada no asfalto. Larguei a minha bike no meio da ciclovia e corri pra socorrer. Ela estava com os dois cotovelos bem ralados, além do joelho. Quando ela se levantou, Paul viu que ela quebrou um pedacinho do dente. Pra quê! Fiquei nervosíssima, tenho o maior cuidado com os dentinhos dela e foi logo com um permanente. Nisso, uma família de ciclistas passou por nós no momento em que eu estava lavando e limpando os ferimentos -- sim, bolsa de mãe tem coisas inimagináveis... A turma viu que não tinha sido muita coisa e seguiu, mas a avó, que me viu chorando, parou e veio perguntar, se, de verdade, não precisávamos de nada. Achei muito bacana da parte dela.

A decisão era seguir direto pro dentista e rezar para o centro dentário estar aberto (a minha dentista, por exemplo, está de férias). E quem disse que ela queria descer a ponte pedalando? Medo, né? Fomos andando e depois da ponte seguimos normalmente de bicicleta até o dentista, que fica já na divisa da nossa cidade com Amsterdam, no outro lado de onde estávamos. Felizmente, tinha dois dentistas atendendo. Nisso, meu cunhado chegou com o carro pro caso de estar fechado e precisarmos procurar outro centro em Amsterdam.

Felizmente, foi pouca coisa, a raiz aparentemente não sofreu nada e daqui a duas semanas, iremos para fazer o preenchimento do pedacinho que caiu.



O dentista que a atendeu falou que daqui a três meses vai examinar de novo a raiz apenas por questão de precaução. Alívio, mas não sem culpa. Porque mãe SEMPRE se culpa por tudo de ruim que acontece com os filhos e eu não sou mesmo uma exceção. Coisas do tipo onde eu estava mesmo com a cabeça pra deixar essa corrida?, ai, ela poderia ter morrido etc. foram alguns dos meus instrumentos de tortura, claro. Mas passou, felizmente.

O resto do dia, ela passou assim, só capitalizando o evento, o tema da manha reinando:



Desde sexta que ela não quer saber da bike, disse que iria passar quatro dias sem pedalar. O que não vale agora é deixar o medo dominar porque bicicleta aqui é um prolongamento do corpo. Na próxima vez, mais atenção, apenas isso. E não dar sopa pro azar...





domingo, 7 de agosto de 2011

Com vocês, o senhor Gato!



Diretamente da maison van Dongen, temos a grata satisfação de vos apresentar ele, o tão aguardado, aquele sobre o qual planos e mais planos foram feitos. Sim, o inigualável Sr. Gato, também conhecido como Dropje, Preto, Poesje, Gato Chato da Porra:



Chegou ontem de manhã, todo desconfiado, de mala e cuia, tadinho. Como vocês podem ver, ele já é um senhorzinho. E Mariana debaixo de 357,6 recomendações pra não aporrinhar o bichinho nestes primeiros dias, nos quais ele está reconhecendo o terreno e aceitando a sua nova condição de presidiário.

A vantagem de ele ser um animal adulto é que aprende as coisas facilmente, já sabe onde ficam o seu toilet, na varandinha de trás, e a sua caminha, na sala de estar.



Meu medo era acordar hoje com a casa batizada, mas, felizmente, isso não aconteceu. Fui assuntar lá e não vi o número 2: ou ele enterrou ou está guardando pra hora da revolta. Aguardemos. Pelo menos ele já usou pro xixi porque tinha umas serragens do lado de fora.

Uma hora vai ter de sair, né?



E sendo ele preto e as almofadas do sofá brancas e de pano, óbvio que ele preferiu dormir lá. Hoje, a caminha dele vai pra cima do sofá (a parte de cima, o pole é pra ele coreografar e afiar as garras, espero).



Hoje ele já está bem mais tranquilo, já tirou várias sonecas e parece que este aí é um dos seus favoritos pro soninho de beleza:



Para ver o mundo e refletir sobre ser a liberdade o mais valioso bem de um ser, ele se aboleta aqui:



Nem sei se já contei aqui sobre alergia à picada de insetos, mas, sim, Mariana e eu temos. Meus cunhados, sabendo disso, passaram remédio contra pulga e carrapato, de modo que Dropje, além disso, está vermifugado e vacinado, enfim, com a saúde mais em dia do que os três reunidos. Menos, do que Paul e eu juntos, vai. No entanto, o mais curioso é que eu comecei a me coçar desde ontem... O que não faz a cabeça psicótica da gente, hein?

E, como não poderia deixar de ser, o amor se instalou nesta casa! Até livro infantil sobre Gatos a criatura pegou ontem na biblioteca, já que ela é toda trabalhada no tema da intelectualidade... Hoje, depois de ler o livrinho, está dando baile em mim e no pai sobre o que devemos ou não fazer com um gato, as suas preferências e os abusos, o comportamento felino, enfim, estamos criando uma cobrinha pra nos morder...



Aguardem porque mais novidades virão, com certeza.