sexta-feira, 28 de março de 2008

Fitna, filme de Geert Wilders

Foi lançado ontem, na Holanda, o filme Fitna, de Geert Wilders, que sob a sua ótica, mostra os efeitos da islamização não só na Holanda, mas no ocidente.

Geert é deputado pelo PVV (Partij voor de Vrijheit - Partido pela Liberdade), agremiação política de direita. Dentre seus projetos está a moratória que proíbe a imigração de mais pessoas oriundas de países de maioria muçulmana. Por ser uma moratória, ela não significaria de imediato a proibição da entrada de tais imigrantes na Holanda, mas, sim, uma suspensão até que análises políticas mais acuradas fossem realizadas. Essa proposta não foi aceita pelo parlamento.

Fitna tem 15 minutos de duração e é nitroglicerina pura. Nem preciso dizer que Wilders já tem uma fatwa* sob sua cabeça. Por muito menos, as charges dinamarquesas de Maomé causaram inúmeros protestos no mundo islâmico que, por sua vez, geraram discussões acaloradas sobre liberdade de imprensa, religião, limites para a imigração etc., só para ficar em algumas das muitas possibilidades que o tema suscita.

A questão da imigração muçulmana na Holanda foi recentemente abordada no imperdível Infiel, da escritora somali naturalizada holandesa Ayaan Hirsi Ali. No livro, Ayaan fala sobre sua infância islâmica, sua mutilação genital, a posição da mulher no mundo islâmico, seu casamento forçado e a fuga para a Holanda. Mas o que é realmente interessante no livro é a análise que Ayaan faz dos dois mundos com a autoridade de quem viveu em ambos.

Com a ajuda do cineasta holandês Theo van Gogh, Ayaan, abraçando a causa da mulher muçulmana, lançou o curta Submission (tradução literal do árabe "Islam") no qual aparecem corpos nus de mulheres e neles estão escritos trechos do Alcorão que mostram como a mulher tem que se comportar e o que deve sofrer caso desobedeça.
Ayaan já tinha sua fatwa decretada há algum tempo. Theo recebeu a sua por causa disso. E a dele se cumpriu: foi brutalmente assassinado a tiros e depois degolado em Amsterdam.

Além de mostrar Ayaan e Theo, Fitna exibe cenas fortes de atentados. Nenhum canal de televisão holandês aceitou mostrar o filme sem editá-lo, concessão que por sua vez também não foi aceita por Geert. Na Internet, vários provedores também se negaram. Mas ontem Fitna caiu na rede.

Vejam o filme:






* fatwa - determinação judicial proferida por um tribunal islâmico, que nesses casos citados proferiu a pena de morte.

Update:
Fitna foi tirado do site LiveLeak devido a ameaças que o staff sofreu. Vou tentar pegar no YouTube.

Update2:
No YouTube o vídeo está incompleto e com as legendas predominantemente em holandês. Sigo procurando em outros sites.
Para quem sabe manejar o Torrent, a maior parte dos sites especializados possui torrents deste filme para download.

Update3:
O filme agora está disponível no Google Vídeo:


18 comentários:

Augusto Valença disse...

Geert Wilders é um demagogo de direita que está polarizando (e infantilizando) o debate político na Holanda com táticas que certamente deixariam Goebbels orgulhoso. A "Judenfrage" dos nazistas está se transformando em "Muslimfrage", graças a oportunistas como esse, que certamente não estão vinculados a grupos, entidades ou partidos que lutam pelos direitos das mulheres e minorias sexuais, preservação do meio ambiente ou patrimonio cultural, além de uma série interminável de avanços nos campos da ciência social e educação que um dia foram motivo de orgulho nesse continente, particularmente depois da segunda guerra mundial... não estão vinculados mas certamente sabem como posar como defensores de uma modo de vida que eles próprios, com suas táticas de demonização social, estão destruindo. Fitna, como seu autor, é realmente nitroglicerina pura: não tem o menor interesse em contribuir de forma construtiva no debate que o plurarismo cultural na/da Europa contemporânea impõe, não conhece ética ou moral, não respeita ou sequer conhece os princípios básicos de ideologia e comportamento que definem cidadania em uma sociedade democrática, mas está aqui, conosco, esperando o momento certo para nos explodir. CUIDADO AO MANEJAR, portanto.


Augusto Valença

Anônimo disse...

as cenas são muito fortes mesmo,chocantes eu diria.
Tenho sempre o pé meio atrás com fanáticos de direita,mas o que me assusta talvez mais ainda é o fanatismo religioso.Assassinar em nome de Deus,ter direito de vida e morte sobre as pessoas,matar inocentes etc é coisa muito séria.E tb acho q quem decide imigrar deve se adaptar às regras do país onde escolheu viver (e foi acolhido) e não impor seus dogmas e usufruir do q o estado oferece,assim é bom.
Acho mesmo q se não fossem essa cruzadas e o q é feito em nome da religião(poder, o mundo seria um lugar melhor.

Bjos e []s

Ivette Góis

Anônimo disse...

Enquanto as pessoas não respeitarem o direito do próximo vamos conviver com esse tipo de coisa.
Lamentável que as pessoas sejam tão fanaticas ao ponto de destruir o próximo com desculpas religiosas.
Lamentável...
Alessandra

João Eurico disse...

Augusto. vamos no ater ao conteúdo do filme. Não precisa atacar a fonte. Pode-se julgar pessoas mas o melhor é julgar atos e na hora de se discutir um assunto, de nada adianta atacar quem defende um argumento. Contra-argumente mas não insulte o opositor comparando-o a nazistas. Uma pessoa pode ter comportamentos condenáveis, pode não ter princípios mas também pode mostrar fatos e ter argumentos algumas vezes.

Voltando ao tema, o que acha de uma islamização de uma sociedade ? O Islam por si só não é pior ou melhor do que outras religiões porém, como todo fundamentalismo, é uma merda. Fundamentalismo islãmico ou fundamentalismo cristão é a mesma coisa. Você tem que concordar que a violência praticada em nome do Islam, apesar de tudo, é menor em termos absolutos do que as violências praticadas em nome do cristianismo ao longo da história ocidental. Mais ainda na história recente. Mais de 450 mil iraquianos foram mortos nas duas guerras do Iraque.

Embora esse fato mencionado não justifique o assassinato de quem quer que seja, temos que concordar que o etnocentrismo é uma praga que está latente em todas as sociedades. Do evangélico ao muçulmano, a capacidade de viver em sociedade plural e tolerante é artigo raro. Concordo com você que radicalizar e demonizar o oponente (como você condena e ao mesmo tempo faz) não vai resolver. Temos que encarar os fatos. A islamização da europa interessa a ninguem é a postura dos líderes muçulmanos é de internacionalização da revolução islâmica. Vc quer ser muçulmano ?

Anônimo disse...

Olá, o Wilders esta vehemente criticado por quase tudo e todos na prensa e midia holandeses: governo, partidos politicos, o público. Ele não deixa de atacar, provocar e polarizar os debates públicos.

Do outro lado, o que analistas já constatáram é que o filme não contém nenhum trecho de filme novo. Tudo que está lá já foi conhecido por especialistas e pelo mundo arabo e musulmano. Daí a expectativa que não vai explodir nada, mas que todos vão entender que ele não representa a sociedade holandesa. Mas claro que, como o brasileiro diria, quem fala o que não deve, escuta o que não quer...

O problema deste debate é que sáo misturadas debates religiosos, sociais, politicos, e fundamentalistas.

É melhor ficar de cabeça fria, e não explodir. Mas é fato que a Holanda já deixou ser por muito tempo aquele país de tolerancia e convivencia de muitas minoridades (o que é visível, entre outros, nas politicas do Maurits de Nassau, na historia recifense).

Abraços, Olaf.

Augusto Valença disse...

Bom, na minha modesta opinião eu acredito que tanto o filme quanto a fonte precisam ser atacados. A Holanda possui dois milhões de muçulmanos, muitos dos quais participaram do processo de reconstrução desse país após a tragédia (inevitável?)da segunda guerra mundial... Gente que trabalha, paga impostos, frequenta escolas e universidades, conquista medalhas nos esportes em competições aqui e no exterior, tem animaizinhos de estimação em casa, assiste novelas na televisão, vai ao cinema, frequenta show de travestis, faz compras em supermercados e boutiques, come queijo... associar dois milhões de pessoas às atrocidades que esse filme sem mérito artístico ou intelectual de qualquer ordem exibe de forma tão manipulativa e tacanha é algo que realmente me insulta, o que com certeza contribui para o tom beligerante das coisas que digo ou escrevo. Mas eu não volto atrás em nenhuma delas: Geert Wilders gosta de se retratar como defensor das liberdades democráticas enquanto propõe mudanças de nível constitucional que implicam na destruição dessas mesmas liberdades. Se um político e seu partido não acreditam que todos devam ser iguais perante a lei, propõem a criação de prisões ao estilo de Guantánamo na Europa e campanham pela destruição ou proibição de livros (as queimas de livros em Babelplatz me vêm à mente nessas horas) eu não compreendo muito bem porque alguém me puxe as orelhas quando eu digo que Wilders (que acredita em Darwinismo Social, by the way) conhece o seu Goebbels. O partido de Wilders tem voz no parlamento, mas nunca trabalhou, eu repito, com grupos, entidades ou partidos historicamente associados ao movimento feminista ou homossexual, mas se paradeia como defensor dos direitos de mulheres e homossexuais; tampouco se opõe aos cortes orçamentários feitos pelo(s) governo(s) Balkenende nas áreas de cultura, educação e segurança social ocorridos nesses últimos oito anos, mas está pronto para culpar os seus bodes expiatórios favoritos pela corrupção da "nossa" cultura (!?!).
Quando até os pesos pesados da direita holandesa (Verdonk, Zalm, entre outros) começam a se distanciar de um político assim, é sinal de que a coisa está ficando realmente feia... Detalhe interessante: durante a segunda guerra, quando a Holanda foi invadida e os alemães assumiram controle do país, todos os jornais , à exceção de um, fecharam as portas ou optaram pela clandestinidade... De Telegraaf transformou-se assim no portavoz dos nazista durante os anos de ocupação; o mesmo De Telegraaf, ainda hoje um jornal de grande circulação, que agora abre suas páginas para Geert Wilders, o mesmo De Telegraaf que nunca simpatizou muito com Theo Van Gogh enquanto ele era vivo (Theo Van Gogh era um artista de estatura, alguém que estava aberto para e contribuindo de forma construtiva no debate político e cultural na Holanda), mas que se apropriou de sua memória e a está usando, desde o dia em ele foi assassinado, para fortalecer a agenda xenófoba de seus editores.

Mas quem sou eu para abrir a boca nessas horas, não é mesmo? Geert Wilders é o cara, Geert Wilders é quem tem os argumentos, quem mostra os fatos. Nossa civilização, baseada na equalidade, no estado de direito, no equilíbrio social, no cultivo e defesa dos ideais democráticos, está sendo atacada por hordas de bárbaros brandindo a cimitarra do obscurantismo e da violência com o único intuito de nos destruir. Precisamos armar o espírito, o coração, os dentes, a mente, e partir para o ataque o quanto antes, porque o mundo é realmente assim: um lugar dividido entre NÓS e ELES. Nós somos todos iguais a nós mesmos. Eles são todos iguais a eles mesmos. Que vença o mais forte.

Kenia Mello disse...

Augusto, apenas a título de esclarecimento: você diz que os imigrantes muçulmanos ajudaram na reconstrução do país pós segunda guerra. Creio que eles começaram a chegar, em sua maioria da Turquia e do Marrocos, no fim da década de 70 e início da década de 80, quando o país já tinha passado, há muito, pelo processo de reconstruçâo.

Não estou defendendo o curta nem seu autor, o sujeito de fato tem a reputação de radical, mas apenas esclarecendo esse ponto.

Augusto Valença disse...

Minha nossa, até você Kenia?

O processo de reconstrução aqui na Holanda (ou no resto da Europa) não se encerrou depois dos quatro anos do Plano Marshall. Muita água precisou passar por debaixo de pontes as mais diversas para que tudo começasse a funcionar direito. Na verdade, antes mesmo da entrada do Plano marshall no cenário, e antecipando as dificuldades do período de reconstrução pós-guerra, governo, industrialistas e sindicatos entraram de acordo em um plano de expansão industrial e comercial no qual estava embutida a prevenção a uma escalada de preços e salários, evitando a espiral inflacionária. O plano funcionou com muita eficiência por mais de duas décadas, de modo que a Holanda conseguiu fortalecer sua economia e manter a inflação sob contrôle até a introdução de um novo sistema de taxação no finalzinho dos anos 60. A contratação de trabalhadores na Turquia e no Marrocos está vinculada à esse processo e começou, diferentemente do que você crê, já no início dos anos 60. A Holanda conheceu 3 (4, na análise de alguns, mas isso é uma outra, longuíssima história) grandes fluxos migratórios no século XX, a saber, o de nacionais retornando dos territórios extra-marítimos ao longo das décadas de 50, 60 e 70 (colônias têm essa mania de querer independência, não é? coisa mais incoveniente...), o de migrantes ditos econômicos provenientes da Turquia e do Marrocos ( e o de suas famílias, a partir de uma geração depois... eis o pivô da discussão a respeito do número de fluxos ser 3 ou 4, e de sua duração) e, finalmente, o de cidadãos de países membros da União Européia, que é o mais recente. Note-se que uma percentagem dos muçulmanos residentes na Holanda emigrou ou descende de emigrantes da Indonésia e, surpresa, do Suriname. Essa gente normalmente não é capa de revistas e nem sempre tem o privilégio de ver reconhecida a sua contribuição nos longos e tortuosos processos que dão forma ao que nós chamamos de história. Reconstruir a economia de um país não é só endireitar as pontes e edifícios que foram bombardeados de 1940 a 1945. É um processo lento, caro, doloroso e muitíssimo complexo. Os Holandeses certamente têm motivo para orgulhar-se do que foi feito por aqui na segunda metade do século XX e até do que ainda se faz hoje em dia, até porque, graças a deus, gente como Geert Wilders e seus eleitores são uma minoria, embora uma muito ativa e hábil em técnicas de intimidação e na manipulação de fatos, estatísticas e informação. Na Holanda as bibliotecas e bancos de dados funcionam e a história está lá, escrita, analisada, discutida, acessível para quem quer se aprofundar ou simplesmente evitar que o esquecimento ou a ignorancia favoreçam o trabalho desses semeadores de ódio.

E durma-se com um barulho desses.

Augusto Valença disse...

Uma última coisa, antes de calar a minha boca... dois milhões, na verdade é o número de estrangeiros, naturalizados ou não, residentes na Holanda. Os muçulmanos são pouco mais de um milhão. Só para dixar os pingos nos is certos.

E tenho dito.

Kenia Mello disse...

Augusto, pra você eu virei mais um membro do PVV? Nosso passado de militância estudantil no entorno do CAC, na UFPE, foi em vão? Confesso que não queimei sutiã porque isso já tinha sido feito bem antes e no nosso tempo acadêmico eu me dava ao luxo de não usá-lo, mas isso não significa que eu tenha, quase vinte anos depois, me instalado na outra banda, a podre.

Fiz esse post com o intuito de divulgar o barulho que esse curta está fazendo não só aí na Holanda, mas em outros países. E, sim, a notícia me chegou através do De Telegraaf porque no dia 27 nenhum jornal, TV ou mídia online aqui do Brasil falava sobre o assunto. O fato de eu postá-la não quer dizer que eu a tenha como a coisa mais certa de todas as coisas. O único elogio que teci foi ao livro de Ayaan, porque ela, sim, tem mais embasamento do que nós dois juntos pra falar das culturas em questão, do que é viver nesses dois mundos.

O que eu acho engraçado é essa divisão de mundo em esquerda e direita. E priu. Se você não aplaude Lula, por exemplo e só pra ficar em terras tupiniquins, automaticamente você é tucano ou DEMente. Se você exibe um vídeo de um cara de direita a título de debate, você vira de direita e contra os direitos das minorias. Ah, Augusto, esse seu "Minha nossa, até você Kenia?" me magoou. Quando eu dizia que isso era nitroglicerina pura eu não estava enganada. O que está rolando aqui é uma amostra microscópica do que essa divisão maniqueísta de mundo provoca.

É uma pena que a minha ignorância factual e histórica (mea-culpa!) tenha me colocado, aos seus olhos, numa posição que eu realmente não estou. E, sim, eu me importo com o que você pensa de mim.

João Eurico disse...

Augusto, novamente vc usa o raciocínio circular. Em momento nenhum nos seus dois posts vc discute o problema: islamização da sociedade. Vc ataca novamente o indivíduo e como você não tem argumentos, ataca também a imprensa que publicou o material. Argumento, vc ainda não mostrou. Tem algum ?

Eu poderia usar a sua mesma tática de detração do oponente quando você diz que é um nada. Mas não vou cair nessa armadilha.

Por acaso, não moro na Holanda nem sequer ouvi falar do deputado direitista. Não estou discutindo aqui os traumas sexuais/psicológicos do Geert Wilders. Estou discutindo o tema.

Quando você diz que 2 milhões de muçulmanos vivem na Holanda hoje em dia eu concordo com você que a maioria absoluta dos muçulmanos da Holanda são gente razoável, honesta e até mesmo tolerante. Assim como a maioria dos muçulmanos no mundo todo. Assim como a maioria dos judeus, dos cristãos, dos umbandistas, dos espíritas. No entanto, os fundamentalistas tem como objetivo o poder e irão buscá-los nas sociedades que estiverem mais sucetíveis a isso. Uma sociedade organizada deve sim se proteger. Quando uma lei estabelece um feriado religioso cedendo aos interesses de um grupo religioso isso sim é um problema. Se o grupo religioso é fundamentalista isso sim é um problema maior ainda. Se um grupo qualquer justifica atos de abuso contra quem é "diferente" o abuso é isso e não criar leis para evitar o abuso. O Nazista não é quem estabelece as leis contra abuso mas o que os comete em nome de religiões.

Anônimo disse...

O assunto abordado pelo post pode dar origem a discussões sobre diversos aspectos. O político, que inclui o conjunto de idéias, o caráter (qualquer que seja, não estou julgando ninguém), o projeto político, a vontade de aparece, etc do autor; o religioso, com a velha (e inútil, na minha opinião) batalha de provar que "o meu deus é melhor que o seu" e "minha vida é a certa, e portanto, todas as outras são erradas"; e o social, que discute os desdobramentos da imigração na europa.

Não vou me aventurar a discutir a parte política, pois não estou na Holanda para vivenciar a vida diária lá. Também não vou me aventurar a discutir a parte religiosa, pois, como coloquei entre parênteses acima, acho inútil esse tipo de batalha. Para mim, religiões são formas de ganhar poder se aproveitando de outras coisas, como fé e espiritualidade.

Na parte social, no entanto, acho que está o maior campo para discussão. Também não tentarei me aprofundar, pois mais uma vez não estou lá, mas posso citar algumas coisas.
Não tentarei me aprofundar pois, tendo como base apenas notícias (vindas de diversas fontes) não posso me arriscar a emitir uma opinião que possa ser parcial em virtude da omissão ou adulteração das informações que a formaram. Mas algumas coisas já podem ser ditas:

Acho que este conjunto de imagens (não o chamarei de filme) é uma tentativa, ainda que tosca, de chamar a atenção. O homem que a produziu pode ser maluco, mas não é idiota. Se ele tivesse tentado produzir algo com algum conteúdo artístico, com imagens próprias, aí sim o teriam acusado de forma veemente e imediata de estar forjando uma realidade. O uso quase que exclusivo de imagens já vistas pela maioria tira um pouco possibilidade de se acusá-lo desta operação.

Quanto à religião citada, concordo (inclusive neste momento utilizo as idéias do comentário de João Eurico) que em todas elas existem pessoas que estão dispostas a viver em paz, e que em todas elas existe fundamentalismo, e ainda que este fundamentalismo é reponsável na maioria das vezes por uma miríade de crimes cometidos em nome de alguma honra ou fé ou seja lá o que for.

No social porém, é que está a questão. Não tenho, mais uma vez, informações que me permitam entrar na discussão de quantas foram e quando foi a primeira onda imigratória. Defendo porém a idéia de que, se você está em um país, e por livre espontânea vontade (por motivo político, pessoal, ou, na maioria das vezes, financeiro) decide viver a vida em um outro país que abre suas portas para você, significa que você está aceitando o fato de que este local (para onde você vai) tem um conjunto de costumes e uma cultura e identidade próprias, e que você ao chegar lá deve contribuir para o bem estar da sociedade que o acolheu. Acho que o nome disso é cidadania.
Então, nada de errado em muçulmanos, ou hindus, ou budistas, ou o que seja, irem morar na Holanda. O país tem uma tradição de tolerância e aceitação que remonta muito tempo atrás (tolerância aliás de vez em quando criticada no resto do mundo). O que não dá é que uma vez chegando lá e recebendo ajuda da sociedade de lá para se estabelecerem, começarem a querer mudar a identidade do país e transformá-la na sua. Morem lá, construam mesquitas, comam a comida que lhes é familiar e tradicional, mas não queiram que as escolas ensinem árabe; não queiram que os holandeses, tradicionais amantes dos animais, aceitem o abate de animais segundo a regra árabe em que os animais "precisam saber que estão sendo mortos"; não queiram ir pra lá e se recusar a aprender holandês, com o objetivo de NÃO conseguir trabalho e assim ficarem bem ou mal sendo sustentados pelo sistema de previdência.
O que pensam muitos holandeses "nativos" então? Por que eu pago impostos tão altos se eles ficam nas mãos da previdência? Por que uma estação de trem tem que ser fechada devido aos ataques de gangues de adolescentes marroquinos? Por que a filha de alguém tem que estudar em outra cidade, tendo uma escola na rua de casa, devido ao fato de que a escola só tem alunos de famílias imigrantes que não aceitam a presença da menina "nativa"? Enfim, por que o povo que foi morar lá não pode viver como o povo que já estava lá?

Se eles são uma minoria? São sim. Mas aposto que, se alguma minoria chegasse ao nordeste do Brasil tentando impor o fim do carnaval, a proibição da feijoada, e a obrigação de se cobrir dos pés à cabeça no sol escaldante, muitos dos que hoje defendem as minorias iriam se insurgir.

Muita água ainda vai rolar, isso tenho certeza, e eu certamente não irei parar para escrever algo deste tamanho novamente. Mas muitas vezes o racismo (e não estou me referindo especificamente a este caso) está na direção oposta àquela em que parece estar.

Adalberto Martins

Augusto Valença disse...

Kenia,

Eu às vezes sou mesmo impulsivo, você sabe, mas esse meu “até você” não foi escrito como julgamento. Eu sei que as pessoas, como o mundo, são de uma complexidade extraordinária, e que não dá para sair dividindo tudo de uma maneira arbitrária, misturando alhos com bugalhos no proverbial balaio dos gatos… Se você se sentiu magoada, mil perdões. A minha intenção não era essa. E longe de mim lhe acusar pelo fato de ter postado o filme do Wilders. Eu acredito que mesmo se o filme em si não tenha méritos, o debate em torno dele com certeza tem. Então tem mais é que mostrar, mesmo, e ver até que ponto as máscaras caem. Pessoalmente, eu estou ponderando se tenho realmente tempo e energia para tentar desenredar o emarenhado de mal entendidos, desinformação e má vontade que os meus comentários parecem estar provocando. Eu fico de boca aberta, na verdade, quando alguem afirma acreditar que em todas as religiões existe uma maioria de pessoas razoáveis, tolerantes, amantes da paz, para no mesmo fôlego defender um filme (ah, sim, vamos nos ater ao C-O-N-T-E-Ú-D-O do filme, que certamente surgiu do nada e não está servindo aos interesses de grupos políticos) que enfileira atrocidades cometidas por terroristas e fanáticos, misturadas à leitura de versos selecionados a dedo do Alcorão e atribui a culpa a toda uma comunidade. Me parece que o problema então, já que nós não estamos discutindo um filme com imagens de atrocidades cometidas por cristãos ao som de trechos selecionados da Bíblia, é realmente esse, o Islam sendo percebido como uma religião monolítica, intrinsecamente pior do que as outras, mais inclinada à violência, mais bárbara. Eu não vou me dar ao trabalho de defender religião alguma, até porque elas, todas elas, não precisam de minha ajuda, nem para seguir adiante, guiando espiritualmente pessoas que se sentem inclinadas a isso, nem para produzir seus fanáticos. Mas eu acho revoltante que alguém associe todo um grupo social à selvageria de atos que não podem ser explicados apenas através do chavão da moda, que é esse tal de de islamização da sociedade. O que está acontecendo é isso: você hoje em dia, como muçulmano, seja sunnista, sufista, ibadista, salafista ( as denominações são intermináveis, como no Cristianismo)está sendo associado, no discurso de politicos oportunistas e em filmes como Fitna, a corpos desmembrados e explosões, a pandemônio e execuções a sangue frio… e isso dentro de um contexto ( horror! Eu não páro de extrapolar O TEMA, esquecendo O FILME em favor do contexto!) onde os mesmos grupos que criaram o chavão continuam fazendo fortunas em seus negócios com governos de países teocratas ( a Holanda é um grande partner comercial da ditadura nigeriana, e a família real saudita é recebida por Beatrix e os capitães da indústria local com honras de estado), além de financiar jornais e programas que martelam ad nausea a mensagem da sociedade pacata sendo corrompida pelos preguiçosos, oportunistas e violentos estrangeiros vindos do oriente (médio, no momento; extremo, durante a época da chegada dos indonésios). Bom, se os operários da construção civil, as enfermeiras, telefonistas, caixas de supermercado, motoristas, seguranças de aeroportos (sim… eles trabalham em aeroportos, deus do céu!), militares nas forças armadas, todas três, guardas de transito, faxineiros, limpadores de vidraças, operários muçulmanos, a grande maioria deles nascida e criada aqui, cidadãos holandeses, portanto, estivessem realmente parados, vivendo do seguro desemprego, esse país não funcionaria mais um segundo.

Então ficamos assim, eu vejo que as estatísticas publicadas a partir de estudos sérios, financiadas por universidades de renome e minha experiência pessoal, além de um mínimo de bom senso, estão mostrando que tanto os muçulmanos (holandeses ou não) quanto os holandeses (cristãos ou não) que convivem e trabalham com eles estão satisfeitos e ainda não estão em pé de guerra, o que graças a deus demonstra que uma sociedade multicultural pode funcionar, quando as pessoas se empenham… e empenho existe, de todos os lados;
Fitna, o filme de Wilders e seus associados da extrema direita, alguns deles herdeiros da mesma facção que historicamente colaborou com os ocupantes alemães durante a segunda guerra e contribuiu, de forma direta ou indireta, no extermínio de judeus, homossexuais e ciganos, é uma obra manipulativa que se aproveita de e cria preconceitos com a intenção de aumentar seu ganho politico nas próximas eleições: é melhor não se iludir, o filme e seus criadores querem mostrar como verdade absoluta que Islam e fanatismo são indissociáveis… a mensagem é uma de divisão, e não está vindo de alguém predisposto a um debate construtivo, que favoreça a ninguém fora da esfera de influencia das próprias pessoas que a disseminam e, nesse sentido, não pode ser comparada ao que críticos sérios, como Ayaan Hirsi Ali e Theo Van Gogh produziram, tanto na forma quanto no conteúdo de suas obras…

mas isso, me parece, não conta como argumento, não é?

Anônimo disse...

As certezas do fundamentalista não são diferentes das dos “ocidentais”: eles nos vêem como nós os vemos.
Eles consideram a produção da sociedade ocidental maligna, por ser destruidora dos costumes antigos e daquilo que é certo e verdadeiro.
Eles acham que acabar com a América e com boa parte do “mundo moderno” é uma obra de Deus.
Ora, seus oponentes pensam igualzinho em relação a eles.
Cada qual com seus próprios costumes. Suas próprias armas.
De um lado, o “fundamentalista” terá de fazer algo que seja moralmente digno e atentar de maneira horrenda contra todo sistema “americanizado”.
De outro lado - se desejar continuar a ser honrado – o representante legal do planeta “estabelecerá paz e liberdade” no Oriente médio, no Iraque, no Afeganistão, e no resto do mundo, pois é sua obrigação colocar ordem no caos, alienando seus próprios jovens e submetendo-os a holocaustos em nome de suas verdades absolutas.(fundamentalismo)
E assim... irônica e paradoxalmente a humanidade caminha para a auto-destruição em nome do que é certo e do que é errado.
Porém, o que me chama a atenção é o contraste de fotos colocadas “acidentalmente” em um mesmo plano: abaixo, a singeleza da alma desnudada da criança que deveríamos carregar em nós, certamente evitaria o despropósito do sangue derramado na cena acima.
So easy...
:( Rê


“Tudo começou na Árvore.
Tudo acabará sem árvore nenhuma.
Haverá, todavia, para aqueles que confiam, a Árvore da Vida”.

Liz / Falando de tudo! disse...

Tai uma assunto polêmico!!
Isso esta acontecendo aqui com as novas leis de Sarkosy que restrinje a entrada de estarangeiros e expulsa outros tantos que estao aqui ilegalmente...O problema é que alguns paises ricos "abriram as pernas" para paises pobres na intençao de "fazer caridade", e agora eles comoeçam a ver o quanto sai caro ao governo "sustentar" cada um deles, os quais a maioria acaba trazendo a familia inteira...pobres coitados, qual seria o destino dessa gente em seu pais que vive em guerra??

Anônimo disse...

Kenia,

Eu nao conhecia esse filme, e agradeço por ter me informado sobre isso. Eu sabia apenas sobre o Theo e sobre o livro mencionado. A sociedade holandesa terá de decidir sobre que valores preponderarão em seu meio...E isto nunca é fácil. Mas eu jamais concordarei com qualquer religião ou forma de religião que mutile meninas, retalhando seu clitóris, e jamais aceitarei que isso seja tolerável em nome de respeito à cultura diversa.

Kenia Mello disse...

Augusto, tudo certo, tudo bem.
O assunto é espinhoso, os ânimos se exaltam, os egos ficam abalados, mas as amizades, nunca.


Beijo.

Anônimo disse...

Oi, como holandes "nativo" eu li o debate polemico aqui. Toda a turbilhao vem com o pais em transicao, que precisa posicionar condicoes sociais e religiosas novas. Eh como um terremoto: da colisao, depois a situacao ganha um equilibrio novo. De vez em quando surge um corrente politica do ultra-direito. A Holanda viu isso acontecer 3 vezes em 15 anos. Wilders o terceiro. Vai passar. Pela capacidade de auto-limpeza do sistema auto-imuno da sociedade. E nem eh preciso 'atacar'. Boa noite, Olaf.