sexta-feira, 17 de junho de 2011

Matando Maricota do coração







Mariana é simplesmente enlouquecida pelo programa De Wereld is Mooi (O mundo é bonito), sendo particularmente obcecada por K3 -- essas três bonitas de roupa branca com arco-íris: sabe todas as músicas e coreografias, tem o CD novo, cata vídeo delas no Youtube, uma loucura. As demais personagens que aparecem no cartaz aí de cima têm seus quadros dentro do programa e Maricota, antes de ir pra escola de manhã, grava tudo pra assistir no fim de semana.

Aí entramos nós com a surpresa: compramos os ingressos pro show de verão da turma, que vai ser em Rotterdam. Pequeno detalhe: ela só vai descobrir quando estiver no ginásio. Prometo levar a máquina pra registrar a cara dela. Sim, porque não basta a surpresa, precisa também ter um ataque cardíaco.

Um vídeozinho de K3 pra vocês sentirem o drama:




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Saúde na Holanda -- Primeiras impressões



Segunda-feira passada, tivemos nossa primeira experiência hospitalar aqui na Holanda. Foi o dia da consulta oftalmológica de Mariana.

Como falei anteriormente, primeiro passamos pelo nosso huisarts (médico da família), que fez o encaminhamento para o especialista. Mas isso ocorreu porque demos sorte com o nosso médico da família. Explico. Na consulta de Mariana, explicamos que, no Brasil, seu oftalmo sugeriu que os exames de vista fossem feitos anualmente e também relatamos o fato de que lá esses exames são realizados por médicos, ao contrário daqui: podem ser feitos por técnicos nas próprias óticas, mas também em hospitais, também por técnicos. Os médicos oftalmologistas só entram em ação em casos mais graves, cirurgias etc. Dr. G. nos explicou como as coisas funcionam aqui, mas solicitou que Mariana fosse examinada por um médico e que suas consultas fossem anuais.

E lá fomos nós para o OLVG, hospital de Amsterdam, bem perto da escola internacional de Mariana:




Os diversos setores de atendimento (o nosso foi o 3):



O hospital é imenso e essa é apenas uma das áreas de atendimento. Tudo muito organizado, limpo e com um excelente atendimento. Desde o setor de recepção até o momento da consulta, foi tudo muito tranquilo.

O exame foi feito por uma técnica e todos os procedimentos foram mais ou menos iguais aos do Brasil. A moça voltou a explicar que aqui o exame é feito por um técnico, mas como o nosso huisarts havia solicitado, viria uma médica fazer a avaliação dos resultados.

A sequência foi esta: exame inicial, dilatação de pupilas, espera, abuso de Mariana, mais exame, vinda da médica, que chegou, se apresentou, apertou nossas mãos, olhou os exames, disse mooi (bonito, mas nesse contexto é melhor ser lido como satisfatório :P), disse tot ziens (até mais) e partiu. Honestamente? Nem precisava a criatura ter vindo. A técnica fez tudo como deveria ser feito, inclusive, se comparado com o tempo das consultas no Brasil, foi até mais demorado.

Aí está outro ponto que preciso rever. No Brasil, as pessoas costumam mal avaliar os cursos técnicos por diversos motivos, um deles, claro, é a falta de qualidade do ensino, a qual não é primazia somente dos cursos técnicos, infelizmente. Aqui, pelo pouco que pude ver e ouvir das experiências alheias, os cursos técnicos são muito bons e não há preconceitos e picuinhas entre os profissionais de nível técnico e os de nível superior. As duas profissionais se trataram de igual para igual, inclusive enquanto a médica soltava os seus mooi, era a técnica quem repassava os resultados para nós. Ficou claro que a presença dela foi apenas porque houve solicitação formal. E o bom foi que as consultas de Mariana vão permanecer anuais.

Tem muitas coisas relativas ao sistema de saúde daqui que eu questiono e quando for oportuno, falarei sobre elas com o nosso médico. Mas acredito também que não dá para mudar de país e achar que o que se faz por aqui é completamente errado e destituído de lógica. Não se trata de aceitar tudo passivamente porque "tudo aqui é melhor", como muitos deslumbrados pensam só porque passaram a morar em um país de primeiro mundo. Mesmo porque a saúde no Brasil, para quem pode pagar, claro, não fica devendo nada para nenhum outro país do mundo. A questão é estar aberto às diferenças e procurar entender por que os procedimentos são diferentes. Se a coisa fosse tão ruim como muitos falam, os índices de saúde daqui seriam piores que os africanos. Então, o momento é de abertura e observação.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

A língua holandesa é... (complete como quiser)



Sábado passado, Mariana e eu ganhamos livros:






O primeiro, de Mariana, claro, são pequenas histórias para serem lidas na hora de dormir, por nós ou por ela, uma vez que o seu nível de entendimento da língua já permite a leitura de livrinhos infantis e gibis.

O meu é sobre o Holocausto, temática sobre a qual já li muita coisa e da qual gosto bastante. No entanto, ler um livro desses é um grande desafio para mim. Hoje, honestamente, diria que seria um processo lento porque eu necessitaria de um dicionário para consulta constante e isso é meio desanimador. Já dei umas folheadas, consegui ler algumas páginas, mas diria que ainda é cedo para encará-lo sem perdas. Poderia fazer uma leitura superficial, entendendo o sentido geral, no entanto, deixaria de lado certas nuances que só o domínio razoável da língua me permitiria. Por isso, adivinha qual livro estou lendo? Aliás, quase sempre estou atacando a crescente biblioteca de livrinhos de Mariana.

Há quase três anos, quando conheci a viúva do educador Paulo Freire, Nita, conversamos sobre um assunto que, atualmente, sinto na pele. Na época, ela me falou de uma viagem que fez com Paulo ao Japão, onde ele receberia uma homenagem e faria um palestra. O assunto, dentre tantos que conversamos naquele dia, dizia respeito ao sentimento de estar em um lugar cuja língua nos é completamente estranha. Ela me falou sobre a sensação de se ver analfabeta, de não conseguir decodificar um sistema linguístico e, por conta disso, ficar à margem, em um mundo à parte, enxergando sem ver, digamos assim. Esse seria o tema do seu próximo livro. Porque, como educadora e tendo participado de toda a luta do marido no processo de letramento de adultos, esteve sempre na posição daquele que "ensina". Para um professor, acredito que essa experiência é fundamental. Com certeza, no dia em que eu voltar para uma sala de aula, serei uma professora melhor do que fui, por estar vivendo o "outro lado" hoje.

Guardadas as devidas proporções (ainda bem!), aqui na Holanda não me considero analfabeta: consigo ler textos simples, notícias de jornal, avisos importantes etc., mas não falo holandês. Claro que me preparar para o primeiro exame do processo de imigração me ajudou e muito. Nas primeiras vezes em que vim aqui como turista, precisava de ajuda no supermercado para desvendar coisas não muito óbvias, como as especificações dos produtos de limpeza, por exemplo. Hoje consigo me virar bem sozinha, embora haja dias em que eu prefira ter uma companhia que fale por mim, pense por mim, resolva por mim... Nesses dias, o caminho me parece extremamente longo. E é. A sensação de compreender a maioria das conversas e as coisas que me dizem, mas não conseguir me expressar é, para dizer pouco, frustrante.

Não estou aqui me queixando, pois sabia que seria assim desde o início. Sei também que a paciência não é um dos meus pontos fortes e estou tendo de rever essa minha característica a toda hora porque as coisas por aqui andam lentamente. Mas estou empenhada em aproveitar o desconto de 70% que a prefeitura da minha cidade me dá em cursos de holandês e aguardo, por estes dias, a resposta para o início do meu curso de NT2 (Nederlands als tweede taal - holandês como segunda língua). E vamos em frente.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

A primavera e Pavarotti



Pois é, daqui a pouco a primavera sai de cena e começa o verão, com seus dias mais longos e suas noites curtas, como aprendemos na escola. No entanto, por aqui ainda desfrutamos da beleza das flores (cof cof cof -- e das alergias provocadas pelo pólen), do canto dos pássaros e do colorido fantástico que esta época traz






Sou assumidamente uma pessoa urbana. Apesar de ter nascido numa cidade do interior de Pernambuco (Caruaru, aquela da feira famosa, do melhor São João do Mundo, do Mestre Vitalino, o qual transformou a cidade no maior centro de arte figurativa da América Latina e... chega!), passei a maior parte da minha vida adulta em cidades de grande porte (Recife, Belém, Rio de Janeiro e São Paulo), então, estar morando numa cidade de 24 mil e poucos habitantes, cercada dos confortos da vida moderna, mas com uma proximidade muito grande da natureza é uma situação nova para mim.

Mas o problema é que sou realmente um bicho urbano, sabe como é? Habituada com barulho, muvuca, ônibus lotado, correria. E, sim, sou também uma criatura chata. Muito chata, às vezes. Então, estou tendo de me adaptar a algumas coisas nestes tempos de quase verão. Porque já estive aqui em dois outonos, três primaveras e um inverno. Verão, esse será o primeiro.

Meu primeiro calo está sendo a claridade, uma vez que tenho grande sensibilidade à luz e dormir num ambiente claro, nem pensar, não consigo. Botar um blecaute no quarto também nem pensar porque Paul tem agonia justamente com o contrário: dormir no escuro total. Equilibrismo em Cristo... Mas tudo bem, nosso horário de dormir, geralmente depois das 22h, resolve o problema. O danado é você se acostumar com o dia claro ainda sendo noite e ir desacelerando, se preparando pra dormir, senão no outro dia é aquela quebradeira, no entanto, sei que é questão de tempo para acostumar.

Então, voltando à beleza e à magia da primavera, temos acordado com o canto dos passarinhos, coisa mais linda e bucólica, especialmente se comparado com os sons que nos acordavam nos últimos anos em Recife: briga de bêbado, buzina, freadas etc. Nosso ex bairro é um dos mais barulhentos e movimentados da Veneza Brasileira, também conhecida como Hellcife.

E para completar toda essa beleza primaveril, também vamos dormir ao som dos passarinhos! Seria perfeito não fosse por um pequeno detalhe: no meio dos passarinhos nossos conhecidos, há um que possui desvio de personalidade: ele não se contenta com poucos acordes, não, minha gente, ele dá show. Faz floreios vocais, emenda uma melodia na outra, se acha o astro, o tenor, o cantor lírico!


No começo da primavera, cheguei a pensar que, com o tempo, ele arrumaria uma passarinha e seria feliz para sempre, aquela coisa do canto para atrair a fêmea, mas o quê? Nada! O bicho é exibido mesmo, gosta de fazer sucesso, já virou até motivo de piada aqui em casa. Mas de dia, porque de noite, adivinha quem está indo dormir com o ouvido na pia?



Definitivamente, sou um bicho urbano e chato... Só perco pro Pavarotti de penas...


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Wait a minute, mister postman



Uma das coisas que eu acho bem bacana aqui na Holanda (não sei se funciona da mesma forma em outros países) é que quando o correio faz alguma entrega e a pessoa a quem o pacote é destinado não está em casa, o vizinho pode receber. Nestes tempos de compras on-line e de muitas entregas, realmente é uma mão na roda.


Essa é a logomarca do correio holandês. Explosiva, hein?

Como ando passando muito tempo em casa, vez por outra o furgão do correio estaciona e o galego já toca direto no interfone daqui de casa -- folgado é brasileiro...


E geralmente é pra eu receber alguma encomenda da nossa vizinha de cima, uma criatura bem simpática, de uns 40 e bote força, a qual, como grande parte das holandesas de cabelo à moda boi lambeu e nessa faixa etária, se amarra num permanente


Coisa cafona, mas ela é muito boazinha e eu recebo a encomenda de bom grado. O carteiro deixa uma notificação na caixa de correspondência dela e a moça pega aqui sem maiores problemas. Acho bom assim porque além de facilitar a vida das pessoas, promove o contato entre os vizinhos -- no prédio, são três andares com dois apartamentos em cada, e o pessoal é bem tranquilo -- , depois falo as minhas impressões sobre eles.

Só que ontem o furgãozinho encostou, tocou o interfone, mas eu não atendi porque estava com preguiça de trocar o meu pijama da Margarida (Disney) só pra descer, assinar na maquininha e subir de novo com o pacote.


O pijama é exatamente igual a esse aí de cima, só que uns três números maior, presente de Paul, que acha que o conforto está acima de todas as coisas. Então, posso até não ter feito a minha boa ação do dia, mas poupei o moço do correio de levar um susto tendo ainda um dia de trabalho todo pela frente.

Ainda sobre o correio, outra coisa que acho legal é que, na sua caixinha do correio, você prega um adesivinho escrito ja e/ou nee (sim e não, respectivamente) para os muitos folhetos de promoção, propaganda e bônus que as empresas enviam. De acordo com a opção do morador, o moço (ou moça) faz as entregas ou não entrega nada, exceto a correspondência pessoal, se a criatura assim preferir. Eu detestava receber coisas que não queria no Brasil, essa praga da mala direta.


E, sim, o carteiro aqui da minha área gosta de assuntar a vida alheia. Era só o que me faltava...