quarta-feira, 2 de abril de 2008

Doutor Tutu

Um dia desses, quando fui levar minha filha na escola, encontrei a mãe de um coleguinha de classe, Vinícius.
Conversamos um pouco sobre os avanços das nossas crianças com o abecedário, os numerais e coisas desse tipo. E, inevitavelmente, falamos sobre as birras da faixa etária, os chiliques e a capacidade inata que eles têm de testar a nossa (quase) imorredoura paciência. Tive pena do esgotamento da moça: além de Vinícius, ela tem um bebê de pouco mais de um ano que, segundo ela, é bravo que só. Vinícius, pelo que vejo sempre, é um menino doce, simpático e carinhoso.

Num determinado momento, chamei Vinícius de Vini e perguntei se era esse o seu apelido. A mãe disse que era Vinícius mesmo. E emendou que o marido até tentava chamar o mais novo, Artur, de Tutu, mas ela não estimulava.

Muitas pessoas não gostam de apelido nos filhos. Conheço gente que detestaria o fato de ter quebrado a cabeça durante nove meses para achar um nome legal, sonoro, significativo e tal e, de repente, vê-lo reduzido a um monossílabo, quiçá um dissílabo. Não tiro a razão nem critico. A mãe dos meninos poderia ser uma pessoa desse tipo. Mas ela esclareceu: já pensou o menino quando ficar velho e o povo continuar chamando de Seu Tutu ou Doutor Tutu?

Não questionei o projeto da mãe, pois quem dentre nós não quer o melhor para os filhos? E o melhor, para algumas, muitas vezes inclui a pompa e a solenidade de um dr(a) antecedendo o nome do seu rebento. Mas isso é outro papo. O que realmente me chamou a atenção foi o fato de uma mãe jovem ter tanta pressa em tecer o porvir sem se preocupar com a duração de um momento que fatalmente se perderá: o tempo em que Tutu seria apenas uma doçura, um dengo, um cheiro daqueles que ficam na memória e que, vez por outra, voltam quando menos se espera, trazendo junto uma saudade avassaladora.

4 comentários:

Anônimo disse...

Depois eles crescem...Ah,depois...
Lindo texto na sua urgência de degustar aos poucos esse tempo precioso...

Bjos e []s

Ivette Góis

Anônimo disse...

E como crescem...
Não faz muito tempo, meu caçula tinha a idade da minha netinha.
E eu, então? Tinha 21 anos de idade um dia desses, eu juro! :)
Marina, como vc sabe, tem três anos, e eu chamo de mári, marilda, maricota, marinete... a lista é enorme!
Até por marícula ela atende morrendo de rir das minhas palhaçadas.
Pois é... legal tb - além dessa sua degustação colocada com tanta sensibilidade - é o presente desse bis.
Isso é que é felicidade na terra!
O mais, é só título, nome, sobrenome... e apelido.
bjão
Rê.

Anônimo disse...

odeio apelidos
mas em casa so' consigo chamar por:
Tavo,Bel, Mari e Paolinha
fazer o que?

Giovanni Gouveia disse...

Engraçado é como as pessoas de meu círculo (nbsc) social ficam procurando um "apilídio" (como se diz por essas bandas) para Danton, e como as pessoas, ainda, chamam-no de "Dánton"...
Nossas escolhas não são absolutas, mas, ao mesmo tempo, a identidade das pessoas começa pelo nome, salvo alguns casos em que o cognome transforma-se em identidade, tenho um amigo que sempre foi chamado de "lula biu" (luis severino), a história está repleta desses casos: Cazuza, Gilberto Passos Gil Moreira, Lula, Caramuru, entre outros, são exemplos disso...