quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Rastros



Queria não ser feita da matéria que sou
ou da qual me transformei
Queria não ter tantas defesas e senões
Queria quebrar a casca e mexer meus medos
Mas, não, termino deixando-os esquecidos, num torpor que amolece meus músculos e nervos.
E apesar desse esforço, todo meu corpo sente e todos os meus sentidos avisam
que eles acordarão, é questão de tempo e das horas que sempre vêm
E eu sei o quanto elas podem me dilacerar.
Queria, mas falta coragem ou mesmo atrevimento de me deixar escoar
De me reescrever com as velhas tintas minhas conhecidas.
De me deixar levar ao sabor dos ventos e do que sou, ser folha solta no mundo num fim de tarde qualquer.
Mas isso dói e eu me perco na dor, sempre me perdi, só que antes eu não temia
os precipícios, as desventuras e as pequenas felicidades, aquelas que fazem o corpo formigar de vida e sobressalto.
Hoje eu sigo domando o indócil que fui e ainda vive em mim, trancafiado.
Mas dias já houve
E eu não me esqueço deles.
Nem sempre fui assim...

13 comentários:

Beth/Lilás disse...

Ai, que lindooooo!
Voltando em grande estilo!
Você é bárbara! rss
bjs cariocas

Paola disse...

Essencia, só por conhecê-la é possível saber por onde passou.
Acho que sinto algo assim.
Curiosamente hoje ando escrevendo muito por "lugares" onde já estive.
Bjs

PAola

Anônimo disse...

É interessante como os nossos sentidos nos falam!
Mas é isso mesmo... muitas vezes nos entregamos a esse torpor que nos faz agarrar paredes que aprisionam, impedindo-nos de nos deixar ser essa FOLHA SOLTA que experimenta a vertigem da liberdade em toda sua amplidão e que, paradoxalmente, nos torna livres,calmos e seguros.
bj
R.

Anônimo disse...

Pois é kenia, o texto "Querido Diário" é meu, escrito nos tempos do ex-blog A Criatura e a Moça. No blog Autor Desconhecido - http://www.autordesconhecido.blogger.com.br/ - da querida amiga Vanessa Lampert, tem a história de como um post virou spam sem autoria e como ele voltou a ser meu! rs
Recentemente, coisas de alguns meses, um grupo de atores descobriu o texto e resolveu utilizá-lo como argumento de uma peça, junto com outros textos que tratavam do mesmo tema, então eu estou cercada de boas companhias - Rosana Hermann do blog Querido Leitor - queridoleitor.zip.net/ e Arnaldo Jabor.

Mudando de assunto, gostei muito da sua poesia, tantas coisas que também gostaria de não ser/ter, ou de apenas esquecer o que um dia não fui...

Anônimo disse...

vc sabe q gosto muito de tudo q vc escreve e mesmo vc tendo alguns medos (quem não tem?),seus textos conseguem ter uma clareza visceral e escancarada,dói em quem lê tb viu?
Mas é lindo!

Bjos e []s

Ivette Góis

Ciça Donner disse...

Entendo... entendo mais do que possas imaginar. E eu achei que estava imune a poesia

Anônimo disse...

Você consegue fazer com que eu sinta as suas emoções........
Volto a repetir te acho demais!!!!
Beijos

Giovanni Gouveia disse...

Tava com saudade dessa tua verve (nbsc)
Obrigado pela generosidade de nos brindar com um texto tão deliciosamente bem escrito.

alinize

Anônimo disse...

Kenia, que coisa linda! Você escreve com a alma na ponta dos dedos. :-)

Lucard disse...

Puta que pariuuuuuuuuu!
Depis de ter assistido a Shortbus hoje no cine da Fundação, apreciar esta obra acabou de fuder comigo (desculpem as palavras grandes!)
Me sinto sem mais mais palavras ou palavras grandes.
É pra f... a tab... de Xola!!!!!

Gerly disse...

Kenia, q profundo!
Gostei demais!

Bjoka!

Anônimo disse...

É... "Hoje eu sigo domando o indócil que fui e ainda vive em mim, trancafiado"...

O que comentar?

Em juridiquês eu diria que não tenho 'capacidade postulatória'...

Beijos da fã nº 2 (agora divinhe quem) hehehe

Anônimo disse...

Mas bah! Num bom gauchês: Segura este bagual guria!
Linfo parabéns!