quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pelas ruas que andei



Sempre que ando a pé pelo meu bairro ou pelo centro da cidade, tenho a impressão que nós, pedestres, somos as presas e os automóveis, os predadores. Parece que ao motorista o que interessa é seguir adiante e o pedestre é um mero detalhe, um empecilho que, além dos demais veículos, faz com que o seu objetivo, que é chegar a um determinado ponto, seja retardado.

E quando estou do outro lado, dentro do carro, percebo que o pedestre quase sempre tem uma relação de animosidade para com o motorista. Mesmo que este último esteja certo, os olhares de raiva e os xingamentos são constantes. É difícil mesmo encontrar cortesia e respeito de ambos os lados.

Aí é inevitável comparar a falta de respeito para com o pedestre que vejo aqui em Recife com o que já vi em algumas cidades brasileiras e do exterior: basta apenas que o transeunte ponha o pé na faixa a ele destinada para que os automóveis parem. E dessa comparação vem a tristeza de saber o quanto a nossa cidade, que é uma das que mais atrai turistas, especialmente nesta época do ano, está atrasada no que diz respeito à cidadania, ao respeito pelo semelhante e, sim, à educação doméstica.

Aqui as bicicletas andam na contramão, fora da faixa da direita, não respeitam os sinais de trânsito e quando você reclama porque quase foi atropelada por uma, a resposta que recebe foi a que tive que ouvir dia desses: Isso aqui é Brasil, moça. Será que o ciclista pensou que eu era de fora porque eu estava querendo o impossível dele? É péssima a sensação de remar contra a maré o tempo todo, de exigir que as coisas sejam feitas como deveriam e não como é mais fácil ou mais vantajoso para o esperto da vez. Como fazer uma pessoa dessas entender que está errada?

Esse ciclista, além de mal-educado, tem um sentimento bastante negativo com relação ao nosso país. Ao dizer que Isso aqui é Brasil, ele demonstra conformismo e a idéia de que aqui não tem jeito. Quantas vezes nos pegamos falando ou pensando o mesmo? Além, claro, da falta de vontade de mudar, de sair da posição de mais forte e dar a vez a quem está em desvantagem material, neste caso, eu, que era pedestre. E também talvez porque sabe que na próxima esquina ele é quem deve obedecer à lei da selva, e não do trânsito, quando tiver que enfrentar um automóvel ou uma motocicleta.

Tampouco o pedestre é a única vítima da história porque muitas vezes atravessa a rua com o sinal fechado, joga lixo no chão e, mesmo tendo passarelas e faixas à sua disposição, prefere fazer o caminho mais curto a ser otário e perder tempo. Aí, depois que ocorre um acidente no qual o motorista não tenha tido culpa, o que acontece? A população quer linchá-lo. E é neste momento que ele se torna culpado diante da lei: porque fugiu e não prestou socorro à vítima. Você esperaria para ser linchado?

E nisso as coisas fogem do controle mesmo. As leis, por mais bem-intencionadas que sejam, passam a não valer muito diante da distorção a qual nos acostumamos chamar de realidade. E isso cansa.

18 comentários:

DILERMArtins disse...

Mas bah, guria.
Já morei em cidade onde o turismo era uma das principais atividades, um pequena cidade é bom que se diga, mas dava gosto ver como a população entendia os benefícos de tratar bem os turistas. Numa capital, como o Recife, é claro que as dificuldades são grandes, mas entendo que as autoridades deveriam fazer campanhas incentivando a cortezia, ganhariam os turistas e os nativos! Como já falou um poeta maluco lá Rio de Jeneiro; Cortezia gera cortezia.

Kenia Mello disse...

Diler, eu falava especificamente com relação à educação no trânsito, onde, na minha opinião, pedestres, motoristas e ciclistas deveriam ser mais educados e corteses.

Mas, no geral, o pernambucano é um povo cortês, que trata muito bem os turistas - bem até demais em alguns casos... ;)

Beth/Lilás disse...

Kenia,
Sei bem o que vc está dizendo, pois há dois anos moro aqui numa cidade perto do mar, Icaraí, Niterói.
Vim de Petrópolis, acostumada a botar o pé nas faixas e os motoristas darem passagem. Aqui é como aí - lei do cão - e quando eu e meu marido paramos para dar passagem a alguém, principalmente senhoras, nos olham com cara de quem não está entendendo nossas intenções.
Por aqui, triciclos de entregas são muito comuns, pois é um bairro que tem atendimento domiciliar, isto é bom, mas os caras que trabalham nisso não tão aí para regras, então andam nas calçadas ou nas ruas em contra-mão.
Canso de ouvir buzina de madrugada de um ou outro vizinho de prédio na redondeza que para que o porteiro abra o portão eletrônico eles metem a mão na buzina. Um horror!

A impressão que tenho quando vou atravessar uma rua e vejo o motorista vindo é a seguinte: Corra que ele já te avistou! hehe

Cadê as campanhas do governo?
Porque não fazem como antigamente, com os jovens estudantes das escolas públicas que distribuiam panfletos educativos aos motoristas e aos transeuntes.

Quem está dando um recado, de leve, é a Glória Perez com aquele guardinha 'chifrudo' na novela Caminhos das Indias, já notou? Ele obriga as pessoas a atravessarem na faixa.

bjs cariocas

Giovanni Gouveia disse...

Deixei de andar de bicicleta pra não ser igualado a esse malas...
Tinha que ter placa de bicicleta pra multar esses felas.
Na faixa de pedestre, tem gente que ainda buzina se o pedestre estiver atravessando e "atrapalhando os carros".
Quanto a prestar socorro, se você ligar pro 192 (ambulância) ou 193 (bombeiros)você já "prestou socorro"...
Mas o que me irrita mesmo é o sinal lá na frente de casa, basta eu colocar o pé na calçada que o miserávi fecha...
terses

Beth/Lilás disse...

Kenia, querida,
Falei sobre vc lá no meu penúltimo post. Já viu?
bjs

Anônimo disse...

o problema maior e geral sempre passa pela educação (ou a falta dela...).

Ivette Góis

Giovanni Gouveia disse...

Esquecemo-nos de falar das buzinas...

salogics

Kaká disse...

Sabe, essa semana eu fui pegar ônibus aqui no Rio e duas vezes o motorista olhou na minha cara e fechou a porta e saiu quando eu estava uns 2 metros da porta. A primeira coisa que pensei foi que o Rio não tem condições de receber essa olímpiada de 2016, e o transporte público é só um dos motivos. Os ônibus não param no ponto, as vezes ne param para você descer, os motoristas estao sempre nervosos. E ainda tem aqueles que acham que podem entrar pela porta traseira, sem pagar e ninguém diz nada. Aí chega um alemão, ou inglês, lugares onde os ônibus todos tem horário no ponto, no maior respeito, e vai pegar um onibus carioca como? E atravessar a rua é uma aventura, porque o que passam direto no sinal vermelho.

Eu já estive nessa situação de ser linchada, um taxi atropelou um menino (e fugiu) e eu vinha na outra direção, parei para ajudar mas aí as pessoas acharam que eu tinha atropelado o menino e posso dizer que nunca fui tão xingada e empurrada na vida, até a irmã do garoto gritar que não fui eu deve ter passado uns 30 segundos, mas pareceu uma hora.

Como ciclista, eu acho a ciclovia aqui do Rio a melhor coisa que tem, adoro. Mas lá em Fortaleza é quase impossível dividir uma rua com um carro (e eu fiquei 1 ano sem carro só a pé e de bicicleta).

bjs

Ela é carioca disse...

Iiiihhhh é, ia falar sobre isso no meu último comment aqui e acabei esquecendo, fui ver o que tinha de errado mas todos estão conseguindo ler, deve ser problema com a fonte mesmo, que peninha. Mas já estou tratando de usar a boa e velha times rsrsrsrsrsrsr
Beijos!

Ela é carioca disse...

Mudei lá, depois me diz se conseguiu!

Anônimo disse...

Kenia, muito boa a maneira que você colocou a situação, todos são vítimas e culpados ao mesmo tempo.

Quando meus sogros estiveram em Recife há um ano atrás, ficaram impressionados com o trânsito caótico. Cê precisa ver meu sogro descrevendo a grande aventura que foi andar de ônibus de boa viagem até o Recife antigo.

Uma pena mesmo.

Anônimo disse...

um dia desses de manha cedo quando eu parei num sinal que tinha fechado,
um senhor me agradeceu e atravessou

Anônimo disse...

Como pedestre, em qualquer cidade brasileira utilizo o sorriso como arma. Qdo em raras ocasiões em que um carro pára para me dar precedência, ainda que eu esteja sobre a faixa de pedestres, faço questão de agradecê-lo, pois o motorista, sentindo-se lisonjeado e retribuído pela "cortesia", vai repetir este ato outras vezes. Num país onde a boçalidade de um cidadão é perdoada(e até premiada) desde que tenha dinheiro, demonstra bem a mentalidade dessa pessoa que pronunciou uma frase do gênero. Aliás, essa frase daria até uma tese(rs)! Creio que persista aquela velha mentalidade de que quem possui um carro pertença a uma classe social mais abonada, e os meros pedestres são subjugadas como estorvos na sua estrada...

Anônimo disse...

O que eu vejo é que a intolerância é tão inerente ao ser humano que ele consegue a proeza de esquecer que - dependendo do momento e das circunstâncias- ele tanto é pedestre como motorista.
E,no entanto,age como se tivesse duas identidades distintas, até porque, convenhamos, ele quer mesmo é ser bem servido.
Com relação aos ciclistas, acontece o mesmo, já que hoje em dia essa fatia tem aumentado consideravelmente em razão de adaptações a novas mudanças.
Os hábitos (maus :P) infelizmente continuam os mesmos...
Mas, pegando o exemplo do José Luís, o que não me deixa desanimar é perceber que a selva é de pedra... mas alguns corações, não.:)
bj
R.

anderson.head disse...

é. isso aqui é brasil (assim mesmo, com letra minúscula)!! espero poder deixar um Brasil para meus filhos, mas tá difícil, pois frases como essa são tão comuns...

sim, é uma selva de pedras, não de ignorâncias, que estamos vivendo!!

moro no rio de janeiro, capital e a coisa e tão ruim ou pior que aí! aqui, não tem vez!! não mesmo.

a única coisa que resolveira isso é a tolerância zero! mas não estamos preparados. quem deveria não ter a tolerância, já recebeu para ser tolerante e por aí vai... isso aqui é brasil!

um abraço.

Lucard disse...

Deixando de lado as ruas que você andou, mas sua máquina de lavar já andou pelas ruas em direção ao seu apartamento?????
OU vc ainda leva a trouxa de roupas pra lavar à beira do canal da Domingos Ferreira?????

Kenia Mello disse...

Esperança, meu bem, você tá boa? Porque lendo o blog eu sei que você não está. Se estivesse, saberia que a bunita chegou faz é tempo. :P

Anônimo disse...

Eu vivi essas duas situações.
Estávamos em Miami, fazendo compras e meu marido resolve ir numa loja do outro lado da rua. Meu filho de 6 anos saiu correndo atravessando uma avenida movimentadissima! Foi um furdunço de freiadas e xingamentos (a mim, claro) pq criança la é respeitadissima! Ele saiu ileso.
Tres anos depois, jogando bola em frente de casa, numa rua sem asfalto e com pouquissimo movimento de carros (praticamente apenas dos moradores), aparece um doido e o atropela!

Beijos