quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Trouxa não é apenas um embrulho de roupas...
O caso de Paula Oliveira é emblemático porque demonstra claramente o que a mídia, ávida por repercussão, pode fazer com a opinião pública. Ao divulgar uma notícia sem a devida apuração, ela, com seu poder de (de)formação de opinião, faz com que uma série de equívocos seja perpetrada.
Em primeiro lugar, realçando o sentimentalismo em detrimento da lucidez, ela joga um fato que tem uma grande carga de apelo emocional e cria um verdadeiro circo, onde questões como feminismo, xenofobia e doença mental se misturam num samba do crioulo doido (ai, esqueci dos politicamente corretos de plantão, gente!) e quando a verdade aparece, pega todo mundo com as calças na mão.
E faço a mea-culpa também. Apesar da minha desconfiança inicial, que não chegou nem a ser desconfiança porque o emocional tratou de varrê-la da minha cachola, deixei-me levar e, confesso de novo, mais tocada pelo ataque à uma grávida do que por qualquer outro aspecto possível da questão. Não escondo de ninguém que depois da maternidade, virei um coração ambulante nessas questões que envolvem os filhotes de todas as espécies. Ou seja, sou público-alvo neste aspecto como devo ser em tantos outros.
E da mesma forma que me tocou pelo viés de fêmea que sabe a dor e a delícia de ser o que é na arte do padecimento no paraíso, também conhecido como maternidade, a inflamação seguiu adiante na forma de ufanismo - sim, nosso país e povo, tão bons, são tratados como lixo no exterior, quando aqui tratamos tão bem os estrangeiros, somos um povo hospitaleiro por vocação (balela!) -; de militância feminista - como assim? Só porque se trata de uma mulher, ela está sendo desacreditada pelo discurso masculino e machista, no qual a voz da mulher é sempre... blablablá... -, e assim por diante, cada um alardeando seu admirável discurso, de acordo com as crenças e posicionamentos embasados em anos de teorias marxistas, freudianas e que tais, sem contar com uma série de outras espantosas possibilidades, que passavam por elucubradíssimas teorias da conspiração, mas que não chegam à constatação óbvia, mas nem por isso ululante, de que nós, que nos dizemos tão pós-qualquer coisa, tão qualificados a julgar e a entender tudo e todos, especialmente depois do auxílio luxuoso de São Google, somos, na verdade e pelo bem dela, um bando de idiotas teleguiados, que está perdendo, e não é aos poucos, a capacidade crítica.
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9 comentários:
Putz, acho que o remédio pra dormir tá amolecendo meu miolo... entendi nada....
Kênia, conheço a sua inteligência e me faz sentir à vontade aquí. Te confesso, é o meu primeiro e absolutamente único comentário que posto em algum blog sobre o caso. Lí coisas absurdas por aí, mas não me atreví a deixar comentário. Fiz um artigo no domingo, dia 15, e fiquei feliz com a sua presença lá. Confesso, me sentí sozinha com as minhas idéias. Com este post, só reconfirmei o seu equilíbrio. Beijos! LuMa
Querida, esse caso nos deixa sem coberturas para qualquer coisa no exterior de hoje em diante!
E o meu espanto é que a moça, como você mesma diz, é pós-pós-pós em Direito e tem um trabalho dos sonhos de muitos pobres advogados neste país. Como pode elocubrar um plano desses para lucrar infames 200 mil reais!
Com isso, constato que pessoas de bom nível intelectual também estão no mesmo patamar de um durango kid que rouba em nossas cidades para sobreviver!
Gentalha, gentalha, como dizia no Chaves!
bjs cariocas
é muito difícil manter o senso crítico com esse bombardeio de informações a q somos submetidos. Texto muito coerente e q dá o q pensar mesmo.Parabéns!
Bjos e []s
Ivette Góis
Em Portugal enfrentamos o mesmo problema: se uma mulher abre a boca para falar de violência masculina, as luzes centram-se nela. Se for o inverso, o que acontece diversas vezes por cá, a história é diferente e o homem ainda é acusado de falta de masculinidade e é humilhado.
Infelizmente, quer se queira, quer não, ainda existe separação pelo género: numas coisas os homens são beneficiados, noutras são as mulheres.
Felizmente que essa mulher foi descoberta e apanhada no seu próprio devaneio.
Beijos
Grana! Grana! Grana!
A mídia pega qualquer fato que possa ser transformado numa espécie de Reality show que toque nossos corações e confunda nossas mentes e fatura! Eu disse fatura!
Ela tentou empurrar literalmente com a barriga e, provando a velha e sábia máxima de que "as aparências enganam", esse caso abriu-nos os olhos não só em relação à mídia e às atitudes insanas da garota mas tb por vir à tona questões pelo que há por trás de todo um sistema europeu hipócrita e intolerante onde a xenofobia e o racismo nunca impediram de explorar e manipular os confusos e fascinados pela suposta vida perfeita "lá fora".
Tá certo que esse caso específico só queima a imagem do Brasil, mas ninguém é bobo pra não saber que esse vale-tudo por dinheiro é uma doença universal.
Lamentável... mas que nos sirva de lição em todos os seus aspectos.
Como diz a Ivette... caso que nos faz pensar.
De repente esse é o lado bom: nos faz pensar.
bj
R.
Gostei muito do seu texto, Kenia.
Eu, q sou muito crente (ainda e apesar de tudo) na humanidade, sinto dificuldade em aceitar certas atitudes.
Agora vem a desculpa da loucura. Eu pensava q loucura era, basicamente, a falta de logica, mas parece q esse crime foi muito bem (mal) arquitetado.
Beijos
200 mil euros ( cerca de 600 mil reais), é quanto a Suíça paga em caso de agressão a grávidas . E o noivo suíço, Marco Trepp, que foi viajar, mas havia confirmado a gravidez inexistente e suspeita-se que seja o autor das fotos? E agora vão tentar fazer dessa mulher uma vítima de qualquer maneira. Nem que seja por culpa do lúpus! Diz um ditado árabe: se você me engana a primeira vez, a culpa é sua; na segunda, é minha. Mas bom mesmo foi ver o nosso presidente provinciano vir à público fazer bravata contra o governo da Suíça. O mico do ano! Por que é que não fica roxo pelos milhares de brasileiros que são trucidados aqui mesmo por preconceito, pelo tráfico, pela bandidagem oficial? Não dá ibope? Não dá repercussão internacional pra tirar uma casquinha? Como eu havia dito lá no meu blog, isso não é assunto para um presidente sair comentando em rede nacional precipitadamente. Parece coisa de comadre que não tem o que fazer. Prego que nasce prego, morre prego, ainda que seja usando terno Armani às nossas custas.
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