domingo, 15 de março de 2009

Nita Freire






Hoje à tarde, tive a feliz oportunidade de conhecer e conversar com a professora Nita Freire, viúva do nosso inesquecível educador Paulo Freire.

Uma pessoa extremamente simples, acolhedora e simpática, falou-me dos seus projetos, inclusive do livro que está escrevendo sobre a temática do analfabetismo, em que uma experiência sua de ida ao Japão com Paulo Freire, que estava representando a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, resultou na percepção do que é sentir-se analfabeta num mundo impregnado de signos desconhecidos.

A oportunidade de pôr-se no lugar de uma pessoa que não consegue ver o mundo deu à Nita - que gentilmente me pediu para não chamá-la de senhora -, a experiência de sentir-se excluída de um mundo que explode de informação, mas que, ao mesmo tempo, ainda nega, em pleno século XXI, o acesso a uma grande fatia da nossa população.

Nossa conversa girou em torno das suas muitas viagens com Paulo, seu casamento feliz e apaixonado, a descrição da pessoa generosa, simples e carinhosa que foi o seu marido e as dificuldades que enfrenta como guardiã do legado paulofreiriano. Senti-me privilegiada por poder conhecer de perto uma pessoa que lutou e ainda luta pela educação no nosso país.

Duas coisas que ela falou me tocaram profundamente. A primeira foi que estar casada com Paulo foi muito fácil devido à sua natureza serena e generosa. Difícil foi depois que ele morreu, pois teve de enfrentar muitas críticas à visão da educação que o seu marido defendia. Além da disvirtuação da proposta paulofreiriana, que em algumas ocasiões foi deturpada visando a fins meramente comerciais.

O outro ponto foi a observação feita por Nita de que a obra de Paulo é grande justamente porque, paradoxalmente, começando aqui em Recife, em pequenos núcleos de alfabetização, ganhou o Brasil e depois o mundo. Foi pequena primeiro para depois tornar-se universal. O que começou com um sentimento, com um insight desse grande pensador, que dizia, segundo palavras de Nita, que nunca havia dito nada de novo, transformou-se em algo cujo valor é inestimável para aqueles que pensam e vivem a educação como um direito de todos.

10 comentários:

Beth/Lilás disse...

Oh, mas realmente um grande privilégio o seu!
Nos dias de hoje em que a mediocridade impera neste país, cabeças inteligentes, formadoras de opinião e que ainda trabalham para conduzir o país à melhores níveis educacionais, merecem lugar de destaque e deveria existir na tv brasileira um espaço aberto a estas pessoas, para que outros como você, tivessem a oportunidade de ver e ouvir o muito que teem para contar.
Grande encontro, heim!
bjs cariocas

Anônimo disse...

Kenia,como pedagoga e apaixonada pelas idéias de Paulo Freire,sinto como se fose minha a emoção q tenho certeza q vc sentiu!

Bjos e []s

Ivette Góis

KS Nei disse...

Eita coisa louca!
Ontem tava falando com um amigo sobre o método Paulo Freire usado nas CEBs dos anos 80, junto ao Dom Paulo Arns, D. Helder Camara e Frei Boff.
Enfim, hoje tá aqui a moça que cuidava do moço...

Eita porra! Do Recife pro Japão num pensamento.

Ana R. disse...

De encontros assim saímos renovados e nascem idéias. Paulo Freire foi uma perda inestimável. Que sua obra deixe sementes de esperança hoje e sempre!

Anônimo disse...

Paulo Freire para a Educação é como Einstein para a Física. E não é todp dia q se tem uma oportunidade dessas, Kenia, tenho certeza q esse realmente foi um feliz encontro. :-)

Paola disse...

Ouvir Paulo Freire falar era um sopro de esperança, luz, eu estudei na PUC?SP num tempo em que ele deu várias palestras, estava sempre disposto a falar sobre sua experiência de educador.
Suas idéias, ao invés de serem criticadas, deveriam ser ampliadas, nosso país seria afetado positivamente.
A questão é que há muita gente, nesse ramo da educação, com pensamento restrito, não percebeu o valor das idéias, ficaram presos ao "ti-jo-lo", não entenderam o significado do " conhecimento prévio!"
beijo

Pola
Ele foi o Patrono da nossa turma de pedagogia.

Anônimo disse...

Eu que sou uma eterna apaixonada pelo ensino, imagino a alegria e renovada que dá num encontro desses!
Lembro que aos 18 anos, qdo passei em Odonto, na "segunda chamada", fiquei desocupada rsss um semestre inteiro, daí fui convidada pela prefeitura a participar desse programa de alfabetização de jovens e adultos que já àquela época utilizava-se de métodos avançados e extremamente eficazes. Afinal... essa era a idéia! Orgulho-me de ter sido uma das iniciantes/praticantes desse método inovador, revolucionário e que infelizmente foi desvirtuado em muito pouco tempo, principalmente porque carregava a idéia de ampla conscientização política.
Parabéns!
bj
R.

Marcelo Acha disse...

Infelizmente, hoje em dia, as ideias de Freire são reduzidas a meros enfoques político-ideológicos. Desta forma, é mais fácil tentar descredenciar a proposta de educação cidadã que o mestre nos deixou. Afinal, nada melhor que uma horda de analfabetos a ser dominada, tal qual uma boiada a ser levada para o matadouro. Sem educação o homem não é cidadão, é só mais um número nas contas dos interesses de ocasião. Parabéns a você que teve o prazer de conversar com a Nita, e pela visão que tem de sociedade.
Bjim

Anônimo disse...

Que privilégio o seu. Trocar idéias com ela não deve ser diferente ao de falar diretamente com Paulo Freire. No início deste ano saiu mais um livro sobre seus métodos, o "Narrando Paulo Freire - Per una Pedagogia del Dialogo", por um educador e pesquisador italiano, Paolo Vittoria. Beijos!

Giovanni Gouveia disse...

Eita, se o energúmeno do Reinaldo Azevedo (disconjuro bangalô treis veiz) descobrir isso tu tás...

franick