domingo, 10 de maio de 2009

Palavras






(Nunca fui feita de silêncios e se algum dia disse o contrário, enganei mais a mim do que a você, por algum propósito, mesquinho, ou por me querer sozinha, ao largo).


Palavras silenciosas, ditas, mal ditas, pensadas, caladas e proscritas.
Com palavras e mesmo na ausência delas, parafraseio o mundo
nomeio, mesmo que imprecisamente,
aquilo que sinto, vejo e desconfio.
E daquilo que desconheço a carne, a feitura e as urgências, vasculho entre as palavras que tenho,
um modo menos árido de lidar com as estranhezas.
Com palavras fujo da loucura, da incipiência, das longas horas, dos dias curtos, do que é do outro e me tira o sono
quando pretendo entendê-lo.
Palavras unidas a outras palavras, encadeadas, com pretensões de fazer sentido.
Ou palavras jogadas numa superfície qualquer, desde que plana.
Palavras como dados
E mesmo misturadas, confusas e desligadas,
sempre um fio se acha que as condense, que as faça frase, expressão de algum sentido ou de um desatino estudado.
Porque palavra é intenção. E intensidade. Para cima ou para baixo, monossilábica de pressas
ou desejante de um tempo maior que as faça eco.
Palavras são pretextos
textos e contexto
Mas sempre palavras, palavras, palavras
Eu, que sigo nomeando meu ao redor de quase certezas
Não acho às vezes palavra certa,
aquela uma, única, que preencha o escuro da minha mudez
E aí me perco, lanço ao mar tarrafa e esperas
E mais palavras vêm, generosas, intrometidas, desabusadas,
E mais eu me afogo no emaranhado das suas pernas, dos seus sexos, dos seus apelos, da sua parentença
Aí me calo, me fecho e levo-as todas
E na toca que é a armadilha do meu silêncio
Eu as trituro, disseco, devoro e descarto
E volto a ser eu
Um ser cheio de palavras
mas de muito pouca exatidão.

6 comentários:

Beth/Lilás disse...

Então, allgumas palavras pelo dia das mães - Feli dia das Mães!
beijo grande carioca

Anônimo disse...

belíssimo texto!As palavras como elas são!Fiquei sem.Vc tem.

Bjos e []s

Ivette Góis

João Eurico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Eurico disse...

Você coleciona palavra e as cria como se foram bichos de estimação. Ou mais.
Como se foram filhos. Cuidado ! As palavras, assim como os filhos, as criamos para o mundo. Elas tem vida própria e se propagam mais do que o nosso vão controle imagina/concebe. Uma palavra dita tem poder efêmero mas um monte de palavras escritas, mesmo que cyber-escritas (tem hífen ?), são mais perenes. Não tenha medo do que as suas palavras perenes possam causar aos outros ao longo do tempo. Mas a você mesma no futuro quando se deparar com as suas palavras, que terão dado a volta ao mundo, terão conhecido pessoas, vistos lugares, vivido experiências, causado mudanças e quando elas se reencontrarem com você seram as mesmas porém você terá mudando tanto que se estranhará ao ver-se escrita nas suas próprias palavras. Talvez nem se reconheça. Fui eu quem escreveu isso ? Permita-se surpreender-se com você mesma através do que você registrou de si com suas palavras.

Belíssimo texto esse seu.

Anônimo disse...

Menina do céu!
Voltou turbinada, heim?!
Bem vinda de vorta!
Parabéns pelo texto.
bj
R.

Gláucio Almeida disse...

Perfeito o texto!
Beijos