sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A abelha e a batata






uma abelha sobre uma batata. quase morta, defeituosa. sem tentativa de voo, paralisada. não em maçãs ou uvas ou nectarinas, mas numa comezinha batata. inadequada. será uma abelha mesmo? lenta, indefesa. não reage ao meu olhar. desconfio da sua imobilidade. é uma abelha, alquebrada, mas abelha. preciso de batatas, seis, tamanho médio, boa textura. deslocada. volto àquela batata. a abelha continua como à minha espera. parada. e viva. palpitando, pulsando na sua quase morte de abelha vencida, operária. num movimento impreciso, de quase abelha, escorrega na superfície lisa da sua batata. será esmagada entre as outras. meu medo se impulsiona no gesto: estico o dedo para poupar-lhe a queda. ela me fere, seu último movimento. abelha.

3 comentários:

Anônimo disse...

qto de beleza vc consegue tirar do nosso cotidiano feijão-com-arroz!É vc e a abelha,a abelha e vc se confundindo,se metamorfoseando.É uma fatalidade inscrita na dignidade q quem só quer ser percebida como é...
Viajei demais?rsrsrs

Bjos e []s

Ivette Góis

Kenia Mello disse...

Viajou nada, Ivette. ;)
Beijos.

Dani (ela) disse...

me identifiquei.

dizem que sou meio Pollyana por ver as coisas assim.

outros teriam ou matado a moribunda só por ela estar ali assim... ou xingado 37 gerações de operárias.

jóia.