quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sobre tudo ou sobre nada




Às vezes penso que o Facebook tira minha vontade de escrever. Não que lá eu escreva demais. No entanto, o gosto por escrever se dilui, talvez pelo simples fato de lá haver mais feedback, sei lá. Além do mais, não tenho mais aquela energia que tinha de escrever aqui, nas velhas e boas listas de discussão do Yahoo e ainda manter um fluxo considerável de e-mails pessoais, estou cansada das virtualidades, acho. Também porque eu, pessoa prolixa que sou, muitas vezes não me contento em não ir fundo naquilo que escrevo e, ultimamente, a vida, muito mais que as palavras, as quais são a sua elaboração, tem me imposto esse ônus, aí eu penso: já deu por hoje, né? A verdade é que estou num momento mais para dentro, naquele processo de plantar para colher não sei quando e imprecisão não é palavra das mais palatáveis.

Ontem, faleceu uma tia minha, irmã do meu pai, de quem fui muito próxima quando criança e pré-adolescente. Faleceu na madrugada (horário do Brasil), depois de um tempo internada, oscilando entre saídas e voltas para a UTI. Uma morte já anunciada, mas mesmo assim sentida por todos nós. Aí voltam as lembranças, a impossibilidade de estar com a família. E eu compartilhei com a minha filha todas as boas lembranças porque ela conheceu a tia já vitimada pelo Alzheimer, desmemoriada, e eu quis lhe dizer que nem sempre ela havia sido assim. No final, Mariana achou uma pena não tê-la conhecido como eu. É sempre uma pena não viver. Ou viver demais.

Pelo fato de ter saído da tutela familiar aos 20 anos (fui morar em Belém e de lá, ganhei o mundo), perdi diversos familiares estando ausente e isso vai calejando um pouco, mas sempre fica a sensação de estar no meio do nada, deixando escapar entre os dedos os fios que formam essa teia invisível de sentimentos, que são a substância da qual somos feitos. De qualquer forma, seguimos acumulando não ausências, mas lembranças e reconciliações, a história que contaremos aos nossos filhos e eles, aos nossos netos. A vida em sua aterradora simplicidade.



6 comentários:

S. W disse...

Kenia meus sentimos pela sua perda.

Olha, eu sou suspeita de conversar sobre estar longe. Eu sempre fui muito apegada aos meus pais, nunca pensei que fosse sair realmente de casa, mas sai. O tempo vai passando e quer saber? O que nós levamos de bom são as pessoas que conhecemos e amamos durante a nossa vida. Eu não gosto nem de pensar que meus pais estão ficando velhinhos e quanta coisa boa não estavamos vivendo juntos, a vida é tão curta pra tanto tempo longe... ai como é dificil Kenia.

beijao

Ivette Góis disse...

Meus sentimentos pela sua tia, realmente estar com a família nessas horas faz a diferença, mas nem sempre é possível, acredito que o que fica é mesmo o que você falou: as boas lembranças! Que Deus a receba em sua glória.

Bjos e []s

Paula disse...

Sinto muito pela sua perda e entendo o seu sentimento. Vc tocou num ponto que é o grande dilema do expatriado e de quem vai morar longe da cidade de origem, no Brasil mesmo.
Infelizmente a vida é feita de escolhas e quase sempre nos leva a abdicarmos de uma coisa boa em prol de uma outra.
E é bem verdade que podemos estar perto sem estarmos. E uma vez longe, percebemos com mais clareza a importância de cada pessoa e aprendemos a valorizarmos ainda mais a aqueles que amamos e que fazem e fizeram parte de nossa história.
Como vc mesma falou, a sua tia assim como outras pessoas importantes estarão na sua memória e serão sempre parte do que vc é hoje.
Um beijo, Paula

Kenia Mello disse...

Simone, Ivette e Paula, obrigada a vocês. Beijos.

KS Nei disse...

Aterradora simplicidade. Isso mesmo. Abrir os olhos, piscar os olhos, fechar os olhos. Simples.

Falou e disse.

Sweet! disse...

Sinto falta do botão curtir toda hora, a viciada aqui. Bote um no Leite de Cobra.

Perdi meu vô querido hoje. Esse ano, perdi 3 pessoas queridas, da família, e, como tô longe, ainda que não tanto como vc, entendo perfeitamente o sentimento q vc descreve. De perda do contato com essa coisa básica que é a família. Bj.