sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher

Participe!


Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão, ambas com 16 anos. Praia de Serrambi, litoral sul de Pernambuco. Desapareceram depois de um passeio de barco. Seus corpos foram encontrados num canavial, dez dias depois, em adiantado estado de decomposição. Foram mortas a tiros.

Laís Bezerra, 9 anos. Limoeiro, interior de Pernambuco. Foi seqüestrada e abusada sexualmente. Teve seu corpo esquartejado e queimado.

Sabrina Hellen, 13 anos. Encontrada morta num matagal do Ibura, bairro da zona sul do Recife. Vítima de violência sexual. Morta por estrangulamento. Seu corpo foi queimado. Segundo seu pai, Sabrina foi morta porque era bonita.

Amanda Oliveira, 16 anos. Foi estuprada, amordaçada e espancada até a morte, no centro do Recife.

Esses são apenas alguns casos da violência perpetrada contra a mulher em meu estado. E eles não param: não há dia em que faltem manchetes sobre ocorrências desse tipo. São crianças, adolescentes e mulheres vítimas de violência sexual, que na maioria das vezes terminam sendo mortas para que não reconheçam seus agressores.

Como mulher e como mãe de uma menina, sinto-me angustiada e temerosa. Projeto-me na dor dessas mães que perderam suas filhas de forma tão brutal e muitas vezes me pergunto: e se fosse comigo? Melhor seria evitar esse tipo de pensamento, mas definitivamente não dá. O perigo está por toda parte. Não apenas nas favelas e bairros pobres da cidade - as mães das meninas de Serrambi choram abraçadas à mãe do Ibura. Essa dor não faz distinção de posses, ela foi socializada pela impunidade.

Por isso não me venham com essa história de que as causas do problema são a desigualdade social, a falta de educação e de emprego. Claro que tudo isso contribui, mas até determinado ponto. Enquanto não houver uma política efetiva de combate à violência contra a mulher e rigor no cumprimento das penalidades, o clima de impunidade vai propiciando o surgimento de mais e mais vítimas.

Espancou porque estava com ciúmes. Matou porque desconfiava que estava sendo traído. Estuprou porque sentiu atração pela vítima e a mesma não permitiu uma aproximação... Os motivos são banais. As vidas tiradas também. A mulher parece ser, nesses casos, um objeto qualquer que pode ser usado e jogado no lixo quando não apresenta mais serventia ou incomoda... A coisificação da mulher é o que subjaz a todos esses casos. Essa é razão pela qual elas são mortas em todas as camadas sociais.

Só sei de uma coisa: como está não dá para continuar. Uma hora essa bomba explode porque ninguém mais agüenta tanta violência, tanto desmando, tanto descaso, tanta incompetência, tanta demagogia travestida de consciência social...

Melhorar a qualidade de vida dos pobres ajuda? Claro. Investir na educação e tirar os menores da rua ajuda? Evidentemente. Gerar empregos e diminuir a desigualdade social ajuda? Sem dúvida. Que se invista no social e na educação, na geração de empregos também. Qualquer um que fosse contrário a essas medidas que visam à diminuição da violência seria um doido de pedra. Mas, infelizmente, sabemos que por mais esforços que se façam na consecução desses objetivos, eles precisam de um médio a longo prazo para dar frutos. Que não seja essa constatação um obstáculo ou uma desculpa para que se cruzem os braços ou para mais um adiamento dessas urgências, é sempre bom frisar. Porque o que se vê não só aqui em Pernambuco, mas no Brasil inteiro, é que a sociedade já não está mais disposta a esperar. Em paralelo, que se tomem medidas urgentes para acabar com a impunidade. Que as devidas providências não sejam apenas tomadas quando a filha, sobrinha ou neta de algum político ou celebridade seja a vítima.

Não sou jurista, mas entendo que se a lei não funciona e os crimes estão aumentando a cada dia que se passa, tem alguma coisa muito errada nessa engrenagem. Que tal acabar com a historinha das atenuantes, dos semi-abertos e começar a aplicar as penas na íntegra só para começo de conversa? Que tal tratar crimes de violência sexual sem essa distinção ridícula entre estupro e atentado violento ao pudor? Eu até que poderia propor aqui um monte de barbaridades contra esses monstros que praticam crimes como o que foi noticiado nessa mesma época, no ano passado, em Santa Catarina, no qual uma menina de um ano e meio foi estuprada e morta dentro de uma igreja evangélica, mas eu não estaria sendo sensata e racional. O calor da hora nunca é um bom conselheiro. E por falar nisso, alguém, que não seja um familiar dessa criança, lembra desse crime?

O que eu sei é que se nada de concreto for feito no sentido de uma política efetiva de combate à violência contra a mulher, a questão seguinte será saber qual de nós será a próxima vítima: eu? Você? Sua filha? Sua irmã? Sua neta? Sua sobrinha? Sua amiga? Sua vizinha?

7 comentários:

ATG disse...

Em algumas sociedades, só mesmo com a repressão é possível combater a violência e a elevada taxa de criminalidade! Infelizmente...

Beijos!

Anônimo disse...

Há aqui dois tipos de violência:
a urbana e a doméstica; e, claro, ambas precisam ser coibidas nos rigores da lei. Porém, o que me parece, é que essa última é alimentada pela própria mulher que muitas vezes não percebe(?) que tudo começa com "inofensivas" agressões verbais.
Tenho um caso na minha própria família onde ela é refém do próprio monstro, digo, marido, de tal maneira que até a empregada foi dispensada para não testemunhar nada. Inclusive ela mesma diz que "é tudo invenção dos vizinhos despeitados"
Detalhe: ela é inteligente,formada e tem um bom emprego.
E sabe o que é mais triste? Você ter que lidar com o fato de que somente ela pode mudar esse quadro!
Lamentável:(
Regina

Anônimo disse...

precisamos resgatar valores perdidos
acabar que essa enorme impunidade
e de poder publica
alem de muita vergonha na cara, e' claro

Unknown disse...

Parabéns Kenia!
beijos

Unknown disse...

Em tempo
:P
Os parabéns foi pelo texto, sabe com tanta coisa ainda contra a mulher principalmente no nosso estado não me apego a essas homenagens.
Uma grande homenagem seria a punição desses criminosos.

Agora a noite em todo local tinha homenagem, um dia de homenagens. Eu (abusada)prefiro a simplicidade da justiça todos os dias.

Scliar disse...

Indignação. Mas não basta. É preciso ação. Seu texto maravilhoso chama para isto e gostei de mais. Sempre fiquei revoltada, tambeem, com políticos e legisladores que só agem quando a a desgraça (doença, educação, violência ou seja la o que for) bate na sua porta. Então não devemos - não podemos- nos preocupar com o que ocorre no quintal alheio? Parabens, gostei de mais do texto. Bom fim de semana. Ethel SC
PS: Sobre o post do photoshop: tambem gostei! E postei la no meu blog uma resposta sobre isto. nao foi o da blogagem coletiva (neste falo das multiplas jornadas), mas sim sobre a questao de imagem da mulher. Tem um video que talvez voce conheça. Aqui o link direto para este post, que é mais antigo: http://womarket.blogspot.com/2007/12/eu-sou-assim.html

Kenia Mello disse...

Obrigada, Scliar. Seja bem-vinda. :)