segunda-feira, 28 de abril de 2008

O que eu quero? Sossego!

Num domingo desses, Paul precisou ir ao interior e eu fiquei com Mariana. Por volta de 11 da manhã, o interfone toca. É Francisco: Dona Kenia, Ana Smith está aqui querendo falar com seu marido.
- Ana quem, Francisco?
- Peraí que eu vou passar pra ela.
Uma moça com sotaque paranaense pergunta por Paul. Quando eu digo que ele não está, Mrs. Smith pergunta: Ele fala inglês? Respondo que sim. Ela pergunta se eu falo também. Respondo que sim. Ih, lá vem alguma representante de enciclopédia... Na mesma hora em que eu respondo, Mrs. Smith já começa a falar comigo em inglês. Ela diz que está oferecendo um material em inglês e gostaria de nos convidar para uma palestra na sede deles. Fudeu, é enciclopédia mesmo.

Só que no meio do trololó dela, escapa um religious group. Vamos parar, minha senhora. Já de cara, cortei o assunto dizendo que esse tipo de atividade não fazia parte das nossas agendas e, além do mais, sendo à noite, não teríamos com quem deixar nossa filha, piriri pororó caixinha de fósforo, mas agradecia de qualquer forma o convite. Ela se prontificou a deixar o tal material na portaria.

- Francisco, segura a jóia aí que estou indo buscar.

Sabem o que era o material da tal palestra? Dois livretos idênticos, nas versões português e inglês, adivinhem de quem? Testemunhas de Jeová! Eu devo merecer...

Religião é opção e aquele lero todo, mas usar técnicas (antigas, diga-se de passagem) de vendas para recolher ovelhas para o Senhor já é demais, né não? Depois perguntei a Francisco se a tal Smith tinha procurado outro morador e ele disse que não. Deduzi que ela deve ter usado a lista telefônica e como o sobrenome do meu marido é gringo, pensou: esse mané deve falar inglês.

Também na base da especulação, penso que essa turma está tentando mudar de alvo porque, no geral, o que é que vem à mente quando se fala das Testemunhas de Jeová? Radicalismo, ignorância (entre outras coisas, eles não permitem transfusões de sangue, mesmo que a vida de alguém dependa disso) e obsessão pelo fim do mundo. Que meda! Querem agora um rebanho mais esclarecido - grande merda falar inglês! - para dar uma guaribada na imagem da igreja. Faz sentido, não faz? E nem o meu interfone escapa! Isso, sim, é o fim do mundo!

Acho que a vida é dura demais, chega a ser cruel na maioria das vezes e poucos são os nossos refúgios nesse caos todo. Respeito quem busca consolo e força para os seus dramas pessoais, sofrimentos e dilemas na religião. Da mesma forma, respeito quem os busca na psicanálise, na arte, na vida profissional. Idem a quem se dedica a ONGs que cuidam de animais em extinção ou abandonados, de crianças carentes, idosos etc. e tal. Enfim, cada um administra seus problemas como dá. Porque viver, sim, não é coisa para amador. Mas o que eu acho um saco é essa invasão. Entrar na minha privacidade para me oferecer a salvação. E quem disse que eu quero salvação?

Viver é bem complicado e tem horas que sigo no piloto automático mesmo. Mas no geral, sou muito atenta, procuro estar inteira no que sinto, vivo e acredito. Particularmente, optei por viver baseada em coisas que considero verdadeiras. Sendo cidadã, procurando viver minha vida de maneira honesta, sem hipocrisias e superficialidades. Tentando diariamente o difícil exercício de colocar-me no lugar do outro e entender suas motivações. De perdoar o possível e tentar esquecer o que não dá para ser perdoado no momento. De estar constantemente testando e ampliando os meus limites de paciência, compaixão e tolerância. Também vivendo intensamente meus momentos de raiva, de indignação e de nojo com relação a certas coisas porque quem sublima isso adoece, apodrece por dentro. Resolvi também fazer uma faxina nas minhas relações pessoais, levando o que vale a pena e deixando para trás o que reiteradamente me fez mal. Não dou mais murro em ponta de faca. E a luta sempre continua, companheiro. Tem dias de sol e outros, não. E essas coisas me fazem acreditar que a minha busca não precisa estar atrelada à igreja alguma. Sigo assim e estou bem, obrigada.

10 comentários:

Apóstolo TDS disse...

hi hi, hi...

Um belo desabafo.... entendi

Anônimo disse...

E o meu marido, que recebe telefonema de tudo que é estudante estrangeiro...Eu gasto meu parco inglês, e eles gastam seu sofrido português...aiaiai...

Anônimo disse...

ja' operei muitos pacientes que eram Testemunhas de Jeova'
nao cirurgias eletivas
so' de urgencia, claro
e sempre me avisavam que nao queriam tomar sangue
claro que sempre que precisou foram transfundidos
que ninguem e' maluco de deixar o paciente morrer por falta de sangue
mas uma vez eu ia operar um velhinha com fratura do femur
ela e a filha passaram a semana inteira me falando do sangue
na vespera da cirurgia a paciente me chama e me diz no ouvido:
- dr., se precisar pode me dar sangue sim
nao quero morrer nao

Anônimo disse...

como já dizia Marx, A religião é o ópio da humanidade...

Bjos e []s

Ivette Góis

Kenia Mello disse...

Wanderley, seja bem-vindo! :)

Anônimo disse...

eu tenho uma vizinha chamada yuki. yuki onishi... os livretos para ela chegaram em japonês...

eu recebi visita logo que me mudei pra essa casa. eles falavam português. pelo que entendi, existem esquadrões da fé que saem periodicamente fazendo reconhecimento de área... como todas as casas têm os nomes dos moradores nas portas, eu imagino que seja fácil planejar as visitas seguintes. em português, italiano, hebreu, banto, persa...

eu, quando muito, uso uma cuequinha quando estou em casa - coisa minha... gosto de um pouquinho de vento na bacurinha - e foi assim que atendi a porta. o efeito foi surpreendente.

eles nunca mais me visitaram.

Kenia Mello disse...

Eis uma das vantagens de morar em casa, Augusto. Hehehe

Anônimo disse...

Pois é...
Sem perceber que a ética proposta nas relações saudáveis está bem distante do sectarismo religioso e da "igreja" enquanto instituição... assim caminha a humanidade.
bjos
Rê.

Anônimo disse...

1º antes de falar procure conhecer melhor, pessoalmente 2º existem outros tratamentos que não o sangue, como a elitropoetina, o eletrocauterio,entre outros, que já são usados em outros países e mesmo no Brasil existem médicos, bons que já o utilizam, o que acontece é que alguns médicos tem a mente pequena e não buscam outras formas de tratamento ou não se especializam, preferem usar o sangue que é mais barato e as vezes mais fácil, na opinião de alguns deles, mas um produto o qual não podem dar total garantia, não sabem se este não tem algo que pode surgir mais tarde, e não são apenas as Testemunhas de Jeová hoje em dia que buscam outros métodos que não o sangue, por isso não sejam como as demais pessoas que só observam o que está a frente do seu próprio nariz, seja você mesmo, não deixe que os outros façam a sua cabeça, antes de julgar conheça os fatos....

Kenia Mello disse...

O que eu sei, Anônimo, é que eu não quero seita de qualquer espécie batendo à minha porta com mentiras, falando em programa cultural quando, na verdade, está interessado em mais um seguidor pra suas falácias. Garanto que se chegassem a mim falando a verdade, pelo menos RESPEITO eu teria pela seita de vocês.
TCHAU!