terça-feira, 1 de julho de 2008

Cotas x meritocracia

o lado

Antes de expor minha opinião sobre as cotas para os negros nas universidades brasileiras, considero necessário assinalar a péssima qualidade do ensino público, tanto no nível fundamental quanto no médio. Com exceção de algumas ilhas de excelência, o que vemos é um verdadeiro sucateamento da escola pública, na qual a carência se dá nos mais diversos níveis: profissionais mal qualificados, infra-estrutura precária (um breve olhar nas escolas da Região Metropolitana da nossa cidade já é o suficiente para se ter uma boa idéia do que estou falando), falta de segurança e policiamento na própria escola e entorno, enfim, somados aos problemas de ordem educacional, estão outros, sérios e tão danosos quanto: os sociais.

Tornar a permanência das crianças na escola uma das condições para que as famílias recebam benefícios do governo foi uma boa iniciativa: melhor do que tê-las nas ruas, sem dúvida. Mas também considero essa freqüência, muitas vezes estimulada também pelo recebimento da merenda, um beco sem saída. As crianças vão para a escola, mas não aprendem. O que se cumpre da meta proposta se não há melhora no nível do ensino? Fica uma coisa pela outra, no final.

Levanto a questão da precariedade do ensino com o simples propósito de afirmar que quem padece com tal estado de coisas não é apenas o cidadão negro, mas o pobre, de maneira geral. Porque quem tem condições financeiras coloca os filhos em escola particular. Já se foi o tempo em que a escola pública era sinônimo de excelência. Nele, os filhos das famílias mais abastadas freqüentavam o ensino público, o diferencial era que, depois, os mesmos seguiam para a Europa para lapidar seus conhecimentos, ao passo que os outros, não tão abonados, caíam no serviço público.

Sou contrária às cotas para os negros nas universidades.
Ao invés de estabelecer como requisito um critério em si tão segregativo quanto o racial, o governo deveria se empenhar em melhorar efetivamente o ensino básico, de modo que apenas o mérito fosse a condição para o ingresso na universidade. Porque antes da cor da pele, o negro, na maioria dos casos, sofre por ser pobre, o que também não quer dizer que não haja branco, amarelo ou vermelho (como não sei a "cor" dos índios, vou pela alusão aos faroestes norte-americanos mesmo) nas mesmas condições. Sem contar com a complicação que é saber quem é negro no Brasil devido ao alto grau de miscigenação da nossa população - e isto é mais uma prova da imbecilidade desta política. Houve até um caso, com bastante repercussão, de dois irmãos gêmeos que pleiteavam vagas no sistema de cotas e apenas um deles conseguiu...

O exemplo de Ubirajara, o morador de rua que foi aprovado na maioria dos concursos que fez e que foi chamado para ingressar nos quadros do Banco do Brasil, é um exemplo do que é esmola e do que é mérito. Claro que ele é uma exceção, a maioria dos moradores de rua não tem o seu perfil e precisa, de fato, de outro tipo de ajuda
para vencer o alcoolismo, as drogas e o desamparo. Se ele vai ser discriminado no seu ambiente de trabalho? Talvez. Mas até onde posso alcançar, a pequenez se dará não pela desconfiança na sua capacidade intelectual, afinal, mesmo em condições adversas, o rapaz conseguiu mostrar inteligência, conhecimento e força de vontade.

O mesmo se pode dizer de alguém que ingressou numa universidade por causa da cor da pele? Claro que entre os cotistas há aqueles que, mesmo tendo freqüentado escolas precárias, procuraram aprofundar os estudos, preenchendo as lacunas em suas formações. Mas e os outros? Fatalmente ficarão para trás. Sei que há uma dívida social grande para com os negros no Brasil, mas a mesma também existe com relação à população que empobreceu no decorrer dos anos em que se brincava com a economia do país.

Enquanto o discurso da inclusão social persistir apenas maquiando onde mudanças efetivas, urgentes e ousadas são necessárias, distorções como essas só tendem a aumentar. Oportunidades iguais para todos, ensino de qualidade, aulas com começo, meio e fim, professores capacitados e escolas com o espaço físico que facilite o
processo de aprendizado dispensam cotas que fazem valer o indivíduo apenas pela cor da sua pele, numa prática que exacerba mais ainda o preconceito e a discriminação.



Update: Bruno comentou:

Temos que ter cuidado com a Verdade. Depois que Marx descobriu a Ideologia, a verdade não é mais absoluta. Depois veio Freud e descobriu o Inconsciente, e ela, a verdade, depende de cada um de nós. O ensino médio e o fundamental públicos ficarão melhores apenas quando àqueles que usufruem deles forem dadas condições de melhorá-los. A classe média e alta brancas (já que elas não existem de outra cor) têm mostrado não serem o grupo mais indicado para cuidar desses problemas, o que a realidade confirma, visto que seus filhos não frequentam o ensino público. Isto serve para a saúde também. Quem é esse Governo que não muda essa situação? Esse
Governo somos nós mesmos que formamos a classe dominante atual: brancos em sua acachapante maioria.
Toda essa verdade meritocrática nos é muito conveniente. Será que não existem outras verdades além dessa tão superficial que nos favorece? Será que alguém que sofre discriminação desde criança, que percebe desde pequenino nos olhos de seus pais, esse sofrimento de discriminação, possui as mesmas condições para essa comparação meritocrática? E a que se resume essa comparação: fazer contas mais rápido, escrever sob um certo padrão, decorar fórmulas químicas.
Abraços.
Bruno


24 comentários:

Giovanni Gouveia disse...

A UNICAMP tem divulgado os numeros de sua politica afirmativa, que nao passa pelo simples coeficiente para negros, mas de um "bonus" na nota para aqueles egressos de escolas publicas, esses alunos tem tido rendimento academico melhor que aqueles nao egressos de escola publicas...
Falar de cotas, simplesmente pela cota, e cair num discurso vazio. Da mesma forma que seria vazio falar em acabar a fome apenas dando esmolas. Defendo uma politica de ação afirmativa, em que, aliado a um sistema de cotas haja investimento maciço para recuperação da escola de base, alguns elementos já estão sendo trilhados nesse sentido, mas mui ainda há para socorrer a escola, que, se num passado, não tão remoto, havia excelência de ensino, esse pecava por não ser universal, e, quando a Ditadura universalizou o ensino publico, acabou com a qualidade, ou seja, faz-se necessário uma escola (bem no jargao do Movimento Estudantil) publica, democrática e de qualidade
Ao mesmo tempo, tratar como coisa menor a afro-descendência talvez seja não enxergar o problema em si.
Claro que há brancos pobres, e negros em melhores condições, fugindo dos padrões tidos como normais, entretanto não se trata de regra, e, ainda que fosse regra, coloque um branco e um negro nas mesmas condições sócio educacionais, e veja quem, numa disputa de uma única vaga de emprego, quem consegue ser admitido...
bem, o espaço aqui e curto, mas esse debate eseta bem longe de ser esgotado, aqui ou na sociedade...

Kenia Mello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kenia Mello disse...

Mas, Bruno, será que as classes média e alta brancas colocam seus filhos nas escolas públicas por puro elitismo? Você acha que elas preferem pagar em dobro (a primeira parcela via impostos) só para não se misturar?
Já eu acho que se houvesse escola pública boa seria bom pra todo mundo, independente de classe social.

Giovanni Gouveia disse...

Outro elemento a ser discutido é a qualidade do ensino das particulares. Estudar "minha terra tem palmeiras onde anda o sabiá, seno a cosseno b, seno b cosseno a", e outras "bizuradas" por exemplo, pode fazer com que a molecada seja, apenas, TREINADA, para fazer um vestibular, mas, o conteúdo pedagógico vai ser tão ruim, ou pior, que o ensino da escola publica, ou mesmo o que faz a maioria dos cursinhos, que não reprova ninguém no terceiro ano que tenha passado (por sorte ou por mérito) no vestibular...

Beth/Lilás disse...

Kenia,
Concordo em tudo que você disse e ainda acrescento que: alunos formados por faculdades do governo, deveriam dar sua participação ativa no progresso do Brasil, aqui ficando e ocupando cargos para o engrandecimento do país e não como hoje em dia está acontecendo que muitos estão indo para fora, levando o conhecimento aqui adquirido e pouco dando em contribuição ao muito que lhe foi dado gratuitamente. Só percebi isso noutro dia, numa festa quando um jovem que conheci desde pequeno, formado pelo ITA, bem sucedido e um lindo rapaz. Fiz-lhe a seguinte pergunta: E aí, vai casar ou pretende ir para fora?
Ao que ele me respondeu, dizendo que iria passar 2 anos na Amazônia para dar sua contribuição ao país primeiramente, depois pensaria o que fazer. Achei isto tão bacana, tão sensato e pensei sobre isto para o resto dos estudantes brasileiros.
Claro que o governo tinha que fazer a sua parte, aplicando um estudo excelente, pagando bem seus professores e não deixando os prédios universitários chegarem ao limite que estão hoje em todo o Brasil, completamente sucateados.
Mas...esperar o quê de um governo como este?
Não sei se falo aqui besteira, mas estas são as minhas percepções.
beijinhos cariocas

Giovanni Gouveia disse...

"Mas...esperar o quê de um governo como este?"

Eu sai da Universidade em 2002, seis meses antes deste governo, a Universidade já estava, há muito sucateada, isso também era culpa "de um governo como este"?

Ninguem sucateou mais a universidade do que o professor universitario que assumiu o Palácio do Planalto...

Beth/Lilás disse...

Calma, amigo!
Então, vou re-editar minha frase:
"Mas esperar o quê de governos como estes!"
Eu sei que todos até agora nada fizeram para melhorar esta situação, na verdade, desde que sou criancinha, ouço este jargão: "Brasil - o país do futuro"
O Futuro chegou e não vi nada de bom acontecendo ainda.
Terminando, digo que até hoje nos meus cinquenta e poucos anos, não vi nada ser feito para exterminar a situação caótica que vive o ensino brasileiro, tampouco todos os outros problemas que desde sempre acompanham a vida do brasileiro.
A verdade é que a cada ano parece que tudo piora!

Anônimo disse...

lí a pouco tempo na imprensa que a ciência provou que toda raça humana vem do continente africano, que por sua vez todos temos em nossa genética a raça negra. Seguindo essa linha de raciocínio entendo que o branco nasceu do negro, os amarelos e vermelhos também...
Continuando: se todos viemos da Africa e se todos somos negros na genética é imperioso que essa questão de cotas sejam revistas pois expressa pré conceito racial (leia-se: somos uma só raça, então porque do preconceito????).
Olhando a questão da pobreza creio que a humanidade sente essa necessidade, de alguma forma, de incluir o que no passado (e presente) se excluíu. Na teoria acho isso imprescindivel mas na prática vejo que não funciona... Mas se em nosso nosso mundo os negros são excluídos, e os pobres também (que não são exclusivamente negros) porque não ter cotas para homossexuais, candomblecistas, espiritas, evangélicos, gordos, loiras, nordestinos, feios, edentados, faxineiras e todos aqueles que de alguma forma se sentem excluídos?
Pense!!!! No final querem dar o peixe mas não ensinam a pescar pois o sistema educacional é todo na base do fingimento: um finge que estuda, outro finge que aprende, e todos empurrando com a barriga.
Quais leis serão inventadas pra colocar essa multidão que não sabe nem ler nem escrever mas que terão diploma universitário no mercado formal de trabalho?
Mais uma vez o pai e mãe que podem investir no estudo de base dos seus filhos darão oportunidades aos seus filhos melhores que os que nem boa alimentação puderam, e podem, ter...
Na minha época se a gente não estudasse não passava, agora tudo mudou, basta ir a escola que por frequencia todos aprendem (me permito rir: hehehehe!). E o fingimento continua....
Sanar um problema é atuar na base dele, é nessa ponta da vida que levamos toda a carga de motivação para crescer e encontrar nosso lugar ao sol...
Como disse o grande filósofo Pitágoras: EDUCAI AS CRIANÇAS PARA NÃO PUNIR OS ADULTOS.

Anônimo disse...

queria só saber se os q defendem as cotas gostariam de ser operado ou algum dos seus parentes,p. ex., por um neuro-cirurgião que entrou na faculdade de medicina via cota...
O preconceito só se acentua,na minha opinião.

Bjos e []s

Ivette Góis

Anônimo disse...

Concordo com vc Kenia, a educação deveria igualar as pessoas e não separá-las por cor ou nível social.

Giovanni Gouveia disse...

"queria só saber se os q defendem as cotas gostariam de ser operado ou algum dos seus parentes,p. ex., por um neuro-cirurgião que entrou na faculdade de medicina via cota...
O preconceito só se acentua,na minha opinião."

Todos os estudos apontam que os estudantes que entraram "por cota" têm tido rendimento acadêmico superior àqueles que não foram "beneficiados" por esse instrumento.
E a resposta é sim, eu me submeteria a qualquer cirurgia realizada por alguém que foi admitido por cotas...

Anônimo disse...

segundo as pesquisas disso,segundo as pesquisas daquilo e nada de mostrar as fontes de tais pesquisas...rsrsrs
Q tal nos colaocar a par delas mas ñ através de pesquisas do governo q certamente tratarão tentar provar o quão certas estão...Q tal mostrar indicadores de excelência sobre os cotitas através de pesquisas isentas?rsrsrs

Bjos e []s

Giovanni Gouveia disse...

"segundo as pesquisas disso,segundo as pesquisas daquilo e nada de mostrar as fontes de tais pesquisas...rsrsrs
Q tal nos colaocar a par delas mas ñ através de pesquisas do governo q certamente tratarão tentar provar o quão certas estão...Q tal mostrar indicadores de excelência sobre os cotitas através de pesquisas isentas?rsrsrs"

Em se tratando de pesquisa social é impraticável, improvável e impossível se fazer uma pesquisa "isenta", toda e qualquer pesquisa no âmbito das humanidades tem algum tipo de comprometidmento do pesquisador, a começar pela escolha do tema da pesquisa. Entretanto tem alguns links aí embaixo:

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252007000200017&lng=pt&nrm=is

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252006000400003&script=sci_arttext&tlng=en

http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/848/84806103.pdf

Anônimo disse...

No final das contas o sistema adotado pelo governo de incluir cotas para negros acaba sendo tão discriminatório quanto os preconceitos que visa destruir, não são somente os negros (apesar de ter consciência do quanto foram mal-tratados pelo nosso país ao longo dos anos) que deveriam ter um sistema diferenciado para ajudá-los a ingressar na faculdade. O correto seria dispor todos os alunos de escolas públicas desse privilégio, pois não há apenas negros entre as classes menos abastadas, há brancos há indios. A iniciativa pode servir ponto de partida para um sistema a ser melhorado, e quanto ao comentáio da Ivete Góis o fato de ingressar na faculdade através da cota ou não não pode ser um termômetro para a competência do profissional que sairá da faculdade, acho um equívoco, pois todo mundo sabe que a formação do profissional no decorrer de sua vida acadêmica é que vai definir sua qualificação.

Anônimo disse...

Discriminação travestida
Cotas para negro e índio é discriminação racial e social
por Sylvia Romano

O artigo 13 da Constituição Federal de 1988 afirma que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, situação econômica ou condição social”. Ou seja, inclui-se nesse contexto a igualdade em oportunidades de trabalho.

Como se nota, a lei maior não deixa margem para ações discriminatórias travestidas de “ações afirmativas”. Mesmo que o texto constitucional não fosse tão preciso, estabelecer privilégios de um ou mais grupos sobre outros constitui absurdo na tradição jurídica brasileira, lição que se aprende no primeiro ano de universidade, quando mestres consagrados do Direito alertam os novatos contra a “desordem jurídica”.

A implementação de cotas para negros e índios não é apenas uma discriminação racial, mas principalmente social. Por meio do sistema, acaba-se aparentemente com o desfalque desses grupos “desfavorecidos” nas universidades públicas, mas cresce a discriminação social, econômica e mercadológica em relação a eles mesmos. Em outras palavras, apenas adiam-se os problemas. E tudo isso é feito em nome da justiça social.

Porém, essa é a solução errada para um problema maior, a pobreza, que atinge amplos setores da sociedade brasileira e, em especial, os negros e, mais recentemente, os nossos índios. São eles quem têm menos oportunidades de acesso a uma educação básica que lhes permita competir em igualdade de condições com os demais candidatos no vestibular. Portanto, a questão não é só que os negros e os índios sejam discriminados, mas também os pobres. Adotar cotas, pura e simplesmente, é degradar o nível das universidades públicas e não resolver séculos de discriminação econômica e racial.

A medida carrega, ainda, uma dificuldade prática típica do país. Salvo exceções, os brasileiros não se sentem especialmente distinguidos pela identificação étnica. Como pesquisas genéticas comprovam, não há raça branca, negra ou asiática. Existem apenas padrões comuns de hereditariedade humana.

Sendo assim, como uma nação orgulhosamente formada por trinetos e trinetas de uma longa série de casamentos mistos pode determinar quem é de suposta minoria ou maioria? Só se copiarmos o terrível exemplo dos Estados Unidos, onde devido ao insistente descumprimento do preceito básico da igualdade, foram criadas regulamentações complicadas sobre o acesso ao trabalho, à escola, à habitação, ao financiamento bancário, à freqüência ao comércio e a tudo mais que se possa imaginar.

Os negros e os hispânicos conseguiram acesso aos cargos públicos e às universidades, mas a prosperidade de cada família discriminada depende mais do crescimento econômico do que de uma política confusa e aleatória. Basear-se no modismo acima trará prejuízos irreversíveis às nossas melhores universidades e benefícios mínimos para corrigir disparidades sociais que devem ser combatidas nas suas origens e, não, nos seus efeitos.

Hoje, o desafio imposto aos brasileiros é enfrentar o desemprego. Talvez se o governo passar realmente a se preocupar com a questão, ele possa realizar “ações afirmativas” quanto à desoneração tributária e trabalhista das pequenas empresas — principais empregadoras do país —; à reforma trabalhista, já que o atual modelo de relação de trabalho não funciona mais; à criação de uma alternativa para a informalidade no emprego; e a investimentos em um sistema educacional que prepare futuros empreendedores.

Essas são algumas maneiras de ampliar as oportunidades de trabalho para todos, igualmente, o que irá permitir que todo o povo brasileiro, sem nenhuma discriminação, possa disputar em pé de igualdade não só uma vaga nas universidades públicas, mas também um lugar digno e privilegiado na sociedade.

Revista Consultor Jurídico, 19 de julho de 2006

http://www.conjur.com.br/static/text/46446,1

Continuo achando que as cotas ao invés de unir,causam mais segregação e preconceito ainda.

Ivette Gois

João Eurico disse...

Concordo com o Alex. Cota é a discriminação reversa. Não resolve o problema e cria outro.
.
Aliás, diria que uma injustiça (estabelecer políticas discrecionárias) não corrige outra injustiça (o sistema educacional ruim).

Diria mais... Se o aluno despreparado da escola pública tirar notas ruins na faculdade, poderá apelar para uma política de cotas de notas ?

João Eurico disse...

Peraí, se o mérito do aluno que entrou por cotas serve para justificar sua presença na escola, como se afirma na pesquisa que demonstra que o mérito é válido !

Mas só se a origem for escola pública, né ?

Kenia Mello disse...

Pois é, o mérito só é levado em conta quando é conveniente...

João Eurico disse...

O Prêmio Einstein de relativização do argumento vai para Bruno. Esse papo de ter cuidado com a verdade é realmente interessante e merece um prêmio. Ficou para vc Bruno. Relativiza-se tudo né ? Inclusive o fato incontestável, afinal, os filósofos já chegaram a conclusão que sendo nós prisioneiros de nossos sentidos a verdade tem pouco a ver com a realidade. E indo por aí, a verdade pode ser relativizada, inclusive para justificar qualquer coisa. O próprio filósofo mencionado e a dialética são a demonstração de que qualquer absurdo pode ter argumentos convincentes portanto, o que importa não é se é justo ou não a cota para ingresso no ensino superior e sim o argumento bem escrito que relativiza a verdade e demonstra que ratos falos, vide o grande filósofo Walt Disney. Ou .. como diria Rogério Fachine, nao tem mulher que num resista a uma boa conversa mole ... ou como diz aquela piada que corre o mundo via email ... com suficiente pesquisa vc consegue provar qualquer coisa.

Não importa ! O que importa é a ideologia. Se é para colocar pessoas na faculdade sem que elas mereçam, tudo se justifica pela ideologia já que verdade não prova nada ! (putz, tamo ferrado) Principalmente quando é contra nosso argumento. Lógico que .. se um bom aluno tira notas, e é de origem pobre, aí sim podemos usar o argumento do mérito, né mesmo Bruno ?

João Eurico disse...

Gente, o negócio é o seguinte. Fim das escolas particulares !! Esse é o objetivo da cota para escolas públicas, em última análise.

Afinal, todo pai quer educação boa para seus filhos e está dispoto a sacrifícios. Antes das cotas o sacrifício era pagar a escola particular porque supostamente essa era melhor do que as escolas públicas. Depois das cotas agora o lance é colocar os filhos em escolas públicas pois assim terão mais chances de entrar numa faculdade, né verdade ? (opa ... cuidado com a verdade, como diria nosso filósofo relativista Bruno Einstein Costa).

O efeito a longo prazo será esse. O método preferencial para entrar na faculdade não será estudar, será frequentar (observe o não estudar) uma escola pública.

Que qualidade de escola teremos ? Será que a classe mérdia (ops), média, vai adotar a escola pública ? Existe uma possibilidade remota de melhora da escola pública afinal. Mas será ? Classe mérdia (caramba, num consigo) só quer saber do que fazer para a prole ingressar na faculdade, custe (ou não custe) a prestação que custar.

Existe um outro efeito a longo prazo que podemos esperar. Esse é bem mais provável. O fim da escola particular e a pasteurização do ensino. Hmmm, será esse o motivo que impele de fato os defensores das cotas ?? Talvez !! Uma homogeneização do sistema escolar a partir da estatizaçào. A abolição da escola particular, a garantia da doutrinação do pensamento e controle de corações e mentes desde uma etapa bem precoce da educaçào do "cidadão". Perdoem-me, eu estava comentando um filme de ficção sobre distopia a la 1984 e tais.

Anônimo disse...

é isso ai,João Eurico,a teoria da conspiração é ridicularizada pra desviar o foco da verdade Verdadeira.rsrsrs

Ivette Góis

Bruno costa disse...

João Eurico,
Acho que você me compreendeu mal. Nunca disse que tudo é relativo, apenas que a verdade não é absoluta;
O dinamismo da verdade é o que permite a sua evolução; e é apenas nesse dinamismo que conseguimos evoluir também. Mesmo nos escapando sempre, devemos sempre buscá-la; afinal, não é porque morreremos todos que devemos deixar de buscar uma boa forma de viver em sociedade.
Para isto é muito importante reconhecer a existência de diferentes perspectivas, e mais importante ainda: não confundir isso com o relativismo. Por outro lado, devemos ter cuidado com os sofismas; esses, sim, são absolutos e facilmente reconhecíveis.
Meu argumento foi nesse sentido, pena que não consegui passar a minha mensagem, mesmo utilizando os exemplos práticos da influência da falta de auto-estima do negro e da medida torta que hoje se utiliza para aferir o mérito. Queria seguir um pouco mais e dizer que o argumento das cotas colocarem o branco pobre contra o negro miserável mais me parece um temor que elas efetivem a união dos dois contra o branco rico, que atualmente possui quase 100% das cotas para si; basta ver os cursos de medicina, Engenharia de Produção e Comunicação das faculdades federais. Tais cursos de maior valor econômico são os que efetivamente permitem mobilidade social. No outro extremo, basta olhar a cor dos presídios e constatar que o negro sofre sim um maior preconceito do que o branco pobre. A minha tese
é que não conseguiremos transformar a sociedade enquanto não alçarmos aos postos decisórios todos os seus segmentos; a verdadeira democracia só se alcança com a efetiva democratização do poder. Assim foi com as mulheres e com os homossexuais num passado bem recente.
Abraços.
Bruno

Kenia Mello disse...

Bruno,
Você é professor da UFRJ (matemática), né? Você tem alunos cotistas? Caso positivo, dá uma palhinha da sua experiência em sala de aula pra gente.
Beijos.

Bruno costa disse...

Kenia,
A UFRJ não possui cotas ainda, apenas a UERJ. Os relatos de lá são os mesmos de qualquer lugar: alunos cotistas têm bom desempenho.
Mas veja como o preconceito baba de nossas bocas e escorre pelos nossos teclados: As cotas para negros são bem menores que as cotas sociais tão defendidas: As cotas sociais são de 50% das vagas. O projeto do Governo é que a porcentagem das cotas raciais (negros e índios) seja igual à porcentagem desses segmentos na sociedade; nada mais justo e democrático. Porém, ataca-se a política de cotas como se ela fosse permitir a invasão de negros incapazes universidade adentro, esquecendo-se que todos os alunos, cotistas e não-cotistas, têm que antes passar no vestibular; logo, esse argumento da incapacidade não subsiste a esse pequeno aprofundamento.
Abraços.
Bruno