domingo, 22 de março de 2009

Internet e autoria



Não resta dúvida de que a Internet é uma ferramenta e tanto para aqueles que buscam informações. Vejo a tremenda diferença qualitativa comparando a otimização do meu tempo de estudo hoje com a época da minha segunda graduação - não vou nem falar da primeira porque na metade dos anos 80 ainda não havia net no Brasil. Claro que nem todo conteúdo exposto na rede é confiável e toda informação deve ser checada antes de aceita como fidedigna. A questão da autoria, porém, é digna de muita atenção e preocupação porque virou lugar comum a apropriação indevida dos textos alheios, sem que haja sequer a preocupação em citar a fonte. Ou, muitas vezes, um texto é levianamente atribuído a um(a) autor(a) consagrado(a) sem que a autoria seja verdadeira. Para quem é familiarizado com os textos de determinado escritor(a), fica relativamente fácil perceber que certas características textuais não se adequam ao repertório autoral pretensamente alegado. No entanto, para a grande maioria, basta clicar no Forward e passar adiante uma informação equivocada. Portanto, todo cuidado deve ser tomado no sentido de conferir a informação a que temos acesso pelas mais diversas vias no espaço digital.

As observações feitas acima não são novidade para ninguém. No entanto, elas são apenas uma faceta do problema maior que envolve ética, respeito pela produção alheia e, por que não, subsistência. Num espaço altamente democrático como é a Internet, onde cada vez mais pessoas têm acesso às obras alheias, é imperioso que a produção intelectual seja respeitada. Da mesma forma que qualquer indivíduo recebe salário pelo trabalho que executa, por que o mesmo não deveria acontecer com alguém que produz conhecimento? É um equívoco pensar que, porque está na tela do computador, o texto alheio é direito de todos. Salvo o caso das obras que entram para o domínio público, mas que para isso obedecem a alguns critérios, como por exemplo, tempo decorrido da morte do(a) autor(a), a questão dos direitos autorais é bastante complicada.

Para melhor ilustrar essa questão, reproduzo aqui uma carta de Nita Freire, que fala sobre o desrespeito aos direitos autorais da obra de seu marido, o educador Paulo Freire:


Manifesto sobre o respeito aos direitos autorais


SOBRE OS DIREITOS AUTORAIS DOS ESCRITORES DE LIVROS

O intelectual que escrevia, fosse ele ou ela romancista, ensaísta ou poeta, desde longa data se sabia e se sentia assegurado dos direitos de usufruir de seu esforço, dedicação e competência profissional. De seu ato criativo. Tranquilamente sabia que lhe era garantido --- não apenas pela sociedade onde vivia, mas em todo o mundo --- o usufruto de seu trabalho, por si só respeitado. Era admirado enquanto tal, enquanto intelectual.

As sociedades se complexificam, o mundo tomou uma dimensão de “aldeia global”, na qual os bens materiais e culturais poderiam e deveriam ser distribuídos a todos e todas, em qualquer lugar que residissem as pessoas de todos os credos, idades e gênero, resguardados, obviamente, os direitos privados, pois se vivendo em sociedades capitalistas este é princípio fundante: o direito de posse e apropriação material e cultural, pelos cidadãos, de tudo aquilo que adquiriram legitimamente.

A economia se globalizou e o neoliberalismo tomou conta do mundo com sua falácia do “sou livre para ir e vir, sou dono do que é meu”, etc, etc. O direito privado nunca foi tão reivindicado e exaltado na história, com nos dias de hoje. As tecnologias de comunicação tiveram um aprimoramento a níveis nunca imagináveis ou imaginados. O fax, as câmeras digitais, o telefone celular e sobretudo a Internet abriram uma possibilidade impensável, anos atrás, de comunicação entre pessoas, povos e regiões as mais distantes.

Entretanto, como o modelo atual do capitalismo neoliberal só respeita os grandes conglomerados financeiros e econômicos, os sujeitos pessoais, os proclamados direitos privados, intencional e contraditoriamente, estão conhecendo as “criações” que representam esse novo estilo de vida: a ética do mercado. Isto é, a falta da prática dos valores morais e da ética, do respeito e da atenção para com os direitos alheios. Assim sendo, os sites, comunidades e páginas da internet, os orkuts, blogs de gente que vive de sugar o trabalho alheio coloca em suas telas o que lhe vem à cabeça, ou o que os possa projetar como expert, como sabichões familiarizado pela “lei de Gerson”, que infelizmente se expandiu pelo mundo, sobretudo, no Brasil.

Assim, nós que ganhamos a vida com o nosso trabalho intelectual, cansativo e sério, mas que nos alegra e recompensa, ao mesmo tempo, nos deparamos com a violação de nossos direitos, estes que deveriam, dialeticamente, ser assegurados como decorrência de nossos deveres. A recompensa pecuniária faz parte de todo trabalho, não se pode esquecer e desrespeitar isto. Para os autores de livros esta vem sob a forma de direitos autorais, pois autores precisam para viver e continuar criando de receber o dinheiro para, no mínimo pagar todas as suas contas: impostos, tributos, comidas, aluguéis, etc, etc. Não se conhece na história invasões à quitandas porque as frutas apetecem a quem as ver ou a supermercados porque não quer pagar pelas mercadorias. Entre livros, frutas e mercadorias quaisquer há diferenças qualitativas, mas, não tenho dúvidas, que, esta comparação serve como exemplo.

Como viúva e sucessora da obra do educador PAULO FREIRE, por mais de uma vez venho tendo que “suportar” o desrespeito de pessoas, que estimulando, a impressão de livros deveriam ser conhecedoras da legislação autoral brasileira, assim de meus direitos como detentora de parte significativa da obra do maior educador brasileiro.

O trabalho dele vem sendo vilipendiado por sites que disponibilizam, criminosamente e por inteiro, seus livros mais importantes, cujos direitos, em sua maioria a mim pertencem. São sites de universidade pública federal do Brasil, que usam o dinheiro público para instigar a pirataria ou até de organização que tem o nome de meu marido, com a desculpa, desonesta e fraudulenta por si só, de que “todo mundo tem o direito de ler Paulo Freire”. Tem mesmo! Por isto sua obra está disponível nas livrarias de todo o país, e para os que não podem ou não querem pagar, nas bibliotecas públicas.

Assim, essa herança legal diante da legislação brasileira, recebida por mim para dela cuidar, fruto de uma vida inteira de Paulo, dedicada aos valores éticos e pedagógicos, vem sendo profanada pelos que, contraditoriamente se apossam antieticamente, no caso, de meus direitos. Venho dedicando horas, todos os dias de minha vida, desde que Paulo nos deixou, para fazer jus ao desejo dele: que eu e somente eu desse prosseguimento ao que ele pensou, refletiu e escreveu desde 1988. Os direitos autorais que recebo não “caem do céu” como as chuvas que nos molham, eles são o resultado de minha dedicação, séria e eficiente, de meu trabalho árduo para perpetuá-lo como o educador da libertação.

Há que se dar um basta nesses ilícitos que se praticam desrespeitando ao meu marido e a mim, e a tantos e tantos outros escritores. Qualquer citação, por pequena que seja, de qualquer obra de um autor precisa da autorização prévia dele ou de seus sucessores, que a Lei garante por até 70 anos, a partir da morte do autor.

Segue abaixo a reprodução da carta que colocou no ar, nove livros de meu marido, sem o menor despudor ou seriedade:



"Livros do Paulo Freire desbloqueados para impressão"


Meus car@s,
Segue em anexo várias preciosidades da obra de Paulo Freire desbloqueadas para impressão. Vejam que maravilha: são livros importantíssimos de um pensador brasileiro comprometido profundamente com as causas sociais – inovador, criativo, original (com importância histórica inédita). Não preciso nem falar tudo isso que o mundo todo há muito sabe disso, reconhecendo-o em todos os cantos e recantos. O importante é poder acessar esta obra, conforme anexos, divulgando-a o mais amplamente possível.



Às pessoas de boa fé, alerto, pensem e reflitam sobre os crimes que estão cometendo. Às de má fé, alerto, as Leis existem para punir os contraventores.

BASTA!!!

RESPEITO AOS DIREITOS AUTORAIS DOS ESCRITORES DE LIVROS.


Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire)
Jaboatão dos Guararapes, 03 de março de 2009.


25 comentários:

DILERMArtins disse...

Mas bah, guria.
É cruel!
Bom domingo pra vc.

Anônimo disse...

q saudade de vc,Kenia.Mas imagino o puxado...rsrsrs

Infelizmente o q a net tem de bom no sentido de facilitar o acesso ao conhecimento,como vc mesma disse,tem tb o outro lado: o desrespeito autoral.Muito sério o assunto do qual a profa. Nita Freire trata.
Violação de direito autoral é crime.

Bjos e []s

Ivette Góis

ATG disse...

Curiosidade: não percebo de que parte do "Ana Maria Araújo" se retira "Nita". O Freire ainda consigo lá chegar...

Beijos

Kenia Mello disse...

DJ, não tenho certeza, mas o Nita pode vir de Marianita (Ana Maria).
Mas posso perguntar a ela. :)
A propósito, você conhece a obra de Paulo Freire?
Beijos.

Ana R. disse...

Uso consciente. De tudo e de todos!
"Mantenham a mente aberta, assim como a capacidade de se preocupar com a humanidade e a consciência de fazer parte dela." - Dalai Lama

ATG disse...

Infelizmente não conheço a obra de Paulo Freire :(

Beijos

Anônimo disse...

É, Kenia, a questão dos direitos autorais na internet é pra lá de sério. O problema é que há mil subterfúgios nesta "terra de ninguém" virtual que fogem ao controle de legislações(se é que elas possam haver controle tbém, já que se trata de ética)mas tbém de bloqueios tecnológicos. A internet virou um mal necessário para tantos cientistas, pesquisadores e estudiosos que tbém dependem dele para a dvulgação, ainda que saibam do risco de terem seus trabalhos copiados, retalhados e dispersos. Ainda que a longo prazo, única solução é conscientizar as crianças. Pelo menos a ética de citar os autores e fontes, o que não ocorre hoje. A pirataria na internet se oficializou por sua conta, e no fundo, todos os usuários são cúmplices, não é mesmo?

Anônimo disse...

É bastante oportuno mesmo esse alerta e não apenas aos de má fé pra se ligarem em relação a penalidades e tal... mas principalmente aos bem intencionados distraídos e até mesmo desinformados.
Valeu pela riqueza de informação!
Ah! e eu tô ligada q vc e a Nita viraram amigas de infância :)
bj
R.

Beth/Lilás disse...

Esse negócio da Internet está ficando 'estreito', pois no outro dia uma amiga lá RGS teve várias fotos dela clonadas e descobriu também que os textos inclusive!
Mas, pergunto-lhes: o que fazer para evitar isso?
grande abraço carioca

Jonascity disse...

Olá Kenia!

Depois de ler a carta no observatório da imprensa, pesquisei um pouco e achei seu blog (adorei a idéia da colcha de retalhos). Desculpe entrar assim, mas eu não posso deixar de comentar algo aqui, com todo o respeito.
Eu vejo suas boas intenções, mas há um grande equívoco na idéia de direitos autorais que vc defende, e que caminha contra tudo o que a pedagogia de Paulo Freire nos ensina.

Em primeiro lugar, a existência de uma legislação não necessariamente nos obriga a segui-la. Há algum tempo a escravidão era lei, assim como hoje, o serviço militar é obrigatório. E ambos são igualmente repugnantes eticamente.

Em segundo, a questão é desenvolver formas mais justas e equilibradas de remunerar os autores (e estas existem) e que não dependam simplesmente do mercado.

Em terceiro, até quando a senhora Freire vai ficar recebendo dinheiro de toda a sociedade pelo trabalho realizado por seu falecido marido? E se ela vender esses direitos, tudo bem?
Reconheço a importância do seu trabalho para a divulgação do ideal freireano, mas daí receber dividendos por 70 anos não faz sentido! (é muito mais do que todo o tempo que o próprio autor levou para escrever sua obra!). Não dá para simplificar a discussão assim, citando uma lei descontextualizada e de forma irrefletida.

Respeito aos autores é uma coisa fundamental, (e copiar um texto pode ser ainda pior para aquele que copia) mas mesmo assim não podemos esquecer que o conhecimento é sempre socialmente construído, é sempre uma obra coletiva. E limitar a multiplicação do conhecimento numa sociedade que cada dia mais permite a sua livre reprodução é um erro absurdo que fere o ideal colaborativo freireano na sua base. Assim, a remuneração pelo trabalho dos artistas passa necessariamente por outro caminho, numa sociedade mais solidária.

Alguém citou o Dalai Lama nos comentários. Eis um de seus principais ensinamentos: despreendimento. Nesse sentido, a possibilidade de tornar públicos os direitos sobre as obras de Paulo Freire (e não de privatizá-los) é, além de uma iniciativa simples e que não demanda nenhum grande sacrifício, uma excelente oportunidade para uma verdadeira revolução política.

Muito cordialmente,
Jonas

Kenia Mello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kenia Mello disse...

Jonas, estive dando uma olhada no Observatório de Imprensa e viu seu comentário sobre o texto de Nita. Infelizmente, por falta de tempo - se você fosse freqüentador deste blog saberia da correria em que estou metida -, não poderei responder como eu gostaria às suas colocações. Mas direi algumas coisas, sim, não tem como deixar passar.

Pelo que você escreveu, dá a entender que a professora Nita Freire foi e é uma mulher que viveu à sombra de Paulo Freire, coisa que não procede. Basta que você faça uma breve consulta onde bem lhe aprouver e verá sua biografia, sua vida acadêmica, suas publicações, enfim, essas informações estão à disposição de qualquer pessoa.

Outra coisa que me chamou atenção foi você colocar a escravidão no mesmo patamar da lei dos direitos autorais para exemplificar o quanto uma lei pode ser injusta. Isso se chama manipulação do discurso e eu não caio nessa, Jonas. Não há como comparar uma lei que preserva e valoriza o trabalho intelectual com uma aberração do porte das leis escravagistas.

Ainda nessa questão da legislação, causou-me espécie ler que "(...)a existência de uma legislação não necessariamente nos obriga a segui-la. Ora, pergunto eu: a menos que eu queira ir para a cadeia, não posso, pura e simplesmente, agir como se estivesse à margem e/ou acima de tudo e de todos. Atitudes como essa são até compreensíveis em adolescentes, mas em indíviduos adultos, não. Existe injustiça? Claro, várias. Mas não é simplesmente pela insubordinação ao legalmente constituído que as coisas podem ser mudadas, não é assim que a banda toca.

Eu poderia me alongar mais sobre diversos pontos do seu texto, mas prefiro trazer do Observatório de Imprensa um outro comentário, que diz mais ou menos o que eu lhe diria:

O que tenho dito com freqüência é que as discussões éticas são atropeladas pela enorme velocidade do desenvolvimento tecnológico. O grande problema nesse caso é que a pirataria distribui muito democraticamente o conhecimento (isso se você tem acesso à tecnologia, o que por si só exclui a palavra democrático), porém, como o autor já não receberá mais por sua produção, não terá como sobreviver e, portanto, não poderá dar continuidade ao seu trabalho. A verdade, é que essas pessoas que estão exaltando essa pirataria benéfica estão mais é preocupadas com os livros, discos e filmes que "elas", individualmente poderão baixar, ler, ouvir e assistir. Estão pouco se lixando para o outro. Assumam, esse interesse que vocês estão defendendo não tem nada de público e comunitário. É particular e tão neoliberal quanto a estrutura que criticam. Acho que esses conceitos de propriedade intelectual precisam ser rediscutidos, mas isso não nos isenta do cumprimento das leis. Se é contra, lute para mudá-la, só assim haverá alguma possibilidade de respeito à liberdade, isto é, ao que delineia nossa liberdade diante da do outro e vice-versa. Para os engenheiros, o que achariam se seus projetos fossem copiados, vendidos e executados pela concorrência? Muito legal não é mesmo?? Afinal, prá que propriedade intelectual. Ah!, mas aí é sua né?

Jonascity disse...

Oi Kênia,

Fico feliz que possamos fazer um debate de alto nível, aberto e sem criar esteriótipos sobre aquele com quem discutimos.

Gostei da sua resposta, mas vamos aos pontos novamente.... :) (sem extender muito, pois sei que nem um de nós tem tanto tempo livre e que não vamos fazer um tratado definitivo aqui sobre a questão)

1) Eu realmente fui agressivo no comentário no texto do observatório e sinto muito. Me parece que vc conhece a Nita, se puder dizer isso a ela, não foi minha intenção ofendê-la, sinceramente. Eu poderia ter sido realmente mais polido. Contudo, minha reconhecida falta de respeito não tem nada a ver com os argumentos colocados em si. O fato dela ter uma produção ativa não tem nenhuma relação, a princípio, com os direitos sobre a obra de Paulo Freire (eu poderia dizer que com isso vc tenta manipular o discurso também). E mais, se ela tem seu trabalho, não necessita disso.

2) Sobre a escravidão, o exemplo pode não ser o melhor porque dá margens a críticas como a sua, mas se vc analisar melhor, vai ver que não há erro nenhum no argumento (tanto do ponto de vista lógico como sociológico). Eu não selecionei o exemplo por acaso e nem para manipular o discurso. Só quis dizer que não é porque é lei que é correto. Além disso, sociologicamente é possível compreender que a escravidão era algo perfeitamente natural e inquestionável na época, assim como certas questões hoje (e os direitos autorais são uma delas). Não há falha dentro da construção lógica do argumento. E não há nada que diga que no futuro, as leis de direitos autorais possam ser vistas como aberrações. Isso demonstra apenas que não é acoselhavel seguir as leis cegamente e nos lembra que esta mesmas não respondem necessaramente de forma democrática as necessidades e desejos da sociedade.

3)Não seguir a legislação não significa estar a margem e acima de todos. Gandhi foi preso, Marther Luther King foi preso, Malcom X foi preso, Jesus Cristo foi preso, David Thoureau foi preso, entre muitos outros que não seguiram legislações as quais acreditavam não serem justas. Ah... Paulo Freire também foi preso, né? (claro que o contexto é outro, pois a sua insubordinação foi contra uma ditadura). O fato é que não é simples isso que você chama de legalmente constituído, Kenia - principalmente num país como o Brasil. E sim, a insubordiação e a desobediência civil são formas legítimas de luta política de adultos.

4) Por fim, o texto que vc cita (ironicamente sem nem mesmo fazer as referências do autor!) não traz nada de novo e desvia o assunto culpabilizando os usuários de serviços que deveriam/poderiam ser livres. A minha crítica nunca foi aos artistas, que evidentemente tem que ser remunerados. Vc ignorou completamente a possibilidade de haver outros instrumentos de estímulo a produção literária, artística, etc... e negou a possibilidade de pensar uma sociedade solidária. Eu não estudei os dados a fundos, mas até onde sei, no sistema atual quem lucra mais são as editoras e gravadoras não os autores. Cada vez mais os músicos recebem pelos seus espetáculos e não pela venda de CDs. Muitos já começam a disponibilizar seus trabalhos livremente. No meio academico, os resultados de pesquisas financiadas pelo estado são de domínio público. Uma vez que o produto está pronto e foi remunerado, não há porque limitar sua distribuição, nem passar 70 anos pagando alguém por isso. Sobre os engenheiros, se pudermos começar a pensar uma sociedade que estimule que se compartilhe projetos ao invés de guardá-los a 7 chaves, façamos isso! O dinhero não é o única coisa que ativa a criativiade humana... Não é tarefa fácil, mas se não acreditarmos que seja possível é aí que não avançamos...

Cordialmente,
Jonas

Kenia Mello disse...

Jonas, em primeiro lugar, você pode dizer o que quiser do meu discurso, isso a mim não incomoda, afinal, cada um vê o que quer e o que se adapta mais facilmente em benefício do próprios pontos de vista, de modo que não estamos nós a inventar a roda.

Eu poderia fazer uma leitura feminista do seu comentário sobre a situação de Nita enquanto herdeira do legado de Paulo Freire - e nas entrelinhas fiz, só não tive disposição para evidenciá-la. Mas tocando nesse ponto, soou-me como uma depreciação e também desconhecimento das suas realizações intelectuais porque, de fato, era (e ainda é) o educador Paulo Freire a figura de "proa" em termos de produção intelectual, destaque etc. da
relação. Sabe aquele ditadinho paternalista que diz que atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher? (não vou citar a fonte porque é característica dos adágios serem estruturas cristalizadas na língua, portanto
usa quem quer e bem entender), foi essa a idéia que as suas colocações me passaram e baseada nisso, citei a biografia de Nita. Se ela tem condições materiais de administar sua vida com os seus recursos pessoais ou com os que advêm da obra do marido, creio que a nós dois não diz respeito entrarmos no mérito da questão.

Continuo achando que você quis descompensar a balança ao seu favor quando coloca no mesmo patamar uma lei que autorizava a escravização, a coisificação de seres humanos e uma lei que protege a produção intelectual de
alguém. Com isso, não quero dizer que devemos aceitar o estabelecido numa acomodação bovina. Da mesma forma que você, estou consciente de que as mudanças se dão também como conseqüência de atos de rebeldia. Mas não apenas.

Quanto ao fato de eu não ter citado o nome do autor do comentário, faço a mea-culpa. No entanto, não utilizei o texto alheio como se meu fosse, pus em itálico a citação e ainda indiquei a fonte. Mas o que mais me impressionou mesmo foi a sua presteza em pontuar a minha falha quando, para você, a produção intelectual alheia deve ser de todos e não apenas de que a produz. A isso se chama conveniência e oportunismo. Ser coerente com os seus pontos de vista seria o mínimo que eu poderia esperar de alguém que defende com tanta paixão seus ideais... Mas aí entra a lógica da colocação do rapaz lá do Observatório (vai, eu sei que você não liga para esses detalhes de autoria, né, Jonas?), que diz, em palavras outras mas de igual sentido, que quando se prova do próprio veneno, a coisa muda de figura. No fundo, no fundo é aquela história: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Mais autoritário, impossível.

Jonascity disse...

Kenia,

Vc está desviando o assunto mais uma vez e tomando tudo de maneira muito pessoal. Não é uma questão pessoal. Nao tem nada de machismo nem entre linhas. Eu tenho notado que essa discussão trás a tona outras questões mais amplas sobre nossas subjetividades, mas acredito ser importante haver um esforço para argumentar e não para agredir. Mais uma vez, me desculpe se em algum momento usei um tom agressivo. Eu tenho apenas uma pequena idéia do que as mulheres passam na nossa sociedade e sei que é muito difícil me colocar nessa posição sem sentir na pele.

Eu nunca disse que não deveríamos citar o nome dos autores e apenas pontuei seu erro, como estou bem aconstumado a fazer em monografias. Eu sei que vc não teve má intenção e q foi apenas distração, mas foi irônico.

Vc não percebe o absurdo da sua contra-argumentação? Me desqualifica, me chamando de machista, oportunista e autoritário(?!), sem fazer o mínimo de esforço pra olhar um outro lado das coisas e refletir sobre os argumentos pacificamente. Me parece uma fulga. Meus trabalhos estão livres, disponíveis na internet e eu só publico em revistas que tem acesso gratuito. Sei que não é muito, mas é essa a coerencia que vc pode me cobrar apenas, se é que eu precise me defender.

A nossa sociedade é injusta, mas existem pequenas coisas que podemos fazer todos os dias para torná-la melhor. Continuo dizendo que não acho justo a Nita ou quem quer que seja receber 'dividendos' por 70 anos pelo trabalho de alguém que já morreu. A única justificativa aceitável a meu ver seria a necessidade material, que não há.

Sendo uma pessoa pública com uma história respeitável, ela perde uma oportunidade de fazer um ato que poderia ser exemplar, inspirador e com um poder simbólico de grande alcance para a nossa sociedade.

Com toda a minha estima,
Jonas

(até onde vai o nosso fôlego? :)

Kenia Mello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kenia Mello disse...

Bem, Jonas, eu não disponho de fôlego, tempo e muito menos vontade de continuar essa discussão.

Realmente cometi uma distração em não citar o nome do autor no meu texto - também estou acostumada com à feitura de monografias, apesar de não crer ser necessária, num blog, a utilização das regras da ABNT. À minha distração você deu o nome de erro. E se você se deu o direito de apontar meus erros, também posso fazer-lhe a seguinte observação: antes de publicar seus artigos em revistas, tenha também o cuidado de revisá-los de acordo com as normas da língua. Seu último comentário está cheio de erros, alguns deles crassos.

Jonascity disse...

Kênia,

A falta de alguns acentos não é grande problema frente à fuga de uma confrontação equilibrada de idéias. Eu só posso te desejar um pouco mais de compreensão, amor e maturidade.

Jonas

Kenia Mello disse...

Sobre a minha colocação, não estava me referindo à acentuação. Alguns exemplos: fulga ao invés de fuga, trás ao invés de traz (verbo), entre outros. Erros crassos vindos de quem publica trabalhos em revistas (?).

Se você acha que fui imatura, posso dizer o mesmo de você que, à guisa de ironia, usou um argumento contra o qual você frontalmente se posiciona. Sua prepotência intelectual pode, portanto, abrir espaço para a minha.

Sua posição sobre os direitos autorais permanece, a minha, idem. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Siga em paz.

P.S. Meu nome não tem acento.

Jonascity disse...

Sua posição é imatura por me agredir, por fugir do assunto e não argumentar e por continuar a mentir pra si mesma. Eu nunca usei argumento contrário ao qual me posiciono. Baste reler sinceramente.

A mimnha posição é imatura por insistir num diálogo com alguém que não está disposto à dialogar.

Imagina alguém que se diz leitor de paulo freire, educador de adultos, desqualificando idéias por conta da forma e não pelo conteúdo...

Continuo triste por não querer compartilhar para crescermos juntos...

João Eurico disse...

A questão do respeito ao direito autoral na internet é muito complexa e antiga. Existem vários problemas:
1 - A obra autoral é de fato do suposto autor mencionado ? Quem assina a obra é o autor ? Esse problema tem duas variante: o texto legítimo com autor fajuto e o texto fajuto com o autor legítimo. O que tem de piadinha de mau gosto atribuida Luiz Fernando Veríssimo não é brincadeira.

2 - Uma vez que o texto é mesmo do autor, como preservar o direito sobre a obra ? Como remunerar o autor ?

3 - O que fazer com as "citações" e o "plágio" ? Esse problema já existe nas mídias tradicionais e continua na mídia internética (?)

Francamente, acho que o modelo de remuneração pelo direito autoral relacionado a publicação está falido. Não existe solução viável com a tecnologia disponível hoje em dia. Já temos o precedente das músicas distribuidas em MP3 sem paga um tostão aos artistas. Os vídeos já estão sofrendo os mesmos efeitos e a obra escrita não sofre na mesma magnitude porque o povo lê pouco.

A solução tradicional de remunerar pela aquisição da cópia da obra já não funcionava na mídia tradicional (cds, vídeos e livros só dão dinheiro para as produtoras e pouca grana cai a mão do autor). No mundo internet aí é que não aparece mesmo. O próprio Itunes, depois de um certo sucesso inicial já demonstra sinais de queda de vendas. O que acontece com as músicas é o "Efeito Orloff" nas obras escritas. "Eu sou você amanhã", diz o cd encalhado na loja para o livro encalhado na estante.

Alguns autores já desencanaram e usam um modelo completamente diferente. O Grupo Ultraje a Rigor liberou geral as músicas do novo album em MP3 no site deles. O Mp3 agora é um veículo de divulgação do show ao vivo, que é remunerado pelo ingresso e sustenta a maioria dos artistas de música.

Mas e os autores de livros ? E a indústria editorial em geral ? Como é que fica ? Um show ao vivo de José Saramago deve ser um soporífero. Ninguém vai pagar para ouvir aquele velho chato, Prêmio Nobel Limão-Mais-Que-Azedo, unanimidade em Portugal. No entanto os livros dele são maravilhosos. Como remunerá-lo por essas obras magníficas ? Não sei.

João Eurico disse...

Esse coelho é comestível ?

Fiquei com fome.

João Eurico disse...

Ou, em outras palavras
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Kenia Mello disse...

Thanks pela tradução, JE. :)

Kenia Mello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.