sábado, 26 de março de 2011

Descondicionamentos








Semana passada, hora de pegar Mariana na escola, em Amsterdam. O bairro, próximo da Muiderpoort Station (uma parada de trem antes da Centraal Station), não é o que se pode chamar de agradável: é bastante sujinho e descuidado, bem diferente das ruas de Diemen. Não tivemos outra escolha porque Mariana, antes de entrar na escola regular, precisa frequentar, por um ano, a escola para crianças estrangeiras, na qual é ensinado o idioma, e a mais próxima da nossa casa é justamente essa. Falo mais sobre isso depois.

Voltando à questão deste post, daqui de casa para a escola, levo vinte minutos de transporte público. Geralmente pego um bonde e um ônibus quando o tempo está ruim, mas quando não, só o bonde e faço o resto do percurso a pé. Como a semana toda foi de sol, segui assim.

O fato aconteceu quando eu estava andando pelo túnel sob o viaduto da ferrovia da Muiderpoort Station. Nele há pistas de carro, ciclovias e calçadas nos dois sentidos e geralmente tem algum movimento, mas nada muito intenso. No momento em que entrei no túnel, o trânsito estava bem tranquilo, restringindo-se a algumas bicicletas no sentido contrário ao meu. Foi quando vi atrás de mim, a uma distância de menos de cinco metros, dois rapazes andando apressadamente. Nesse momento, meu coração disparou e eu congelei, reação instantânea de quem morou tantos anos em cidades grandes e violentas como Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Os rapazes, claro, passaram conversando normalmente e eu levei alguns minutos para recobrar a tranquilidade.

Ainda não perdi o hábito de andar olhando para trás, coisa que o pessoal daqui acha estranhíssima, mas, sei lá, não dá pra bancar a lesa, afinal, aqui tem batedor de carteira (especialmente nas ruas mais movimentadas do centro de Amsterdam), arrombamento de casas (no verão, a coisa piora) e muito roubo de bicicletas. Nada que se compare com o Brasil e isso dá muita tranquilidade, claro. No entanto, são anos e anos de condicionamento e de reflexos em prontidão, espero um dia encontrar a medida certa e relaxar um pouco.


4 comentários:

Fabio Barros disse...

Eu passei pelo mesmo quando passei 3 meses no Canadá. No inicio, ainda andava pela cidade com os mesmos habitos de Recife.

Acho que depois de uns 10 dias, desencanei...

Nessa época eu percebi o quanto o medo da violencia tolhe os nossos movimentos e a nossa presença no mundo.

Continua escrevendo, mulher! Essas cronicas holandesas estao otimas.

Luciana Farias disse...

Impressionante como esses hábitos ficam, não?

Beijocas!!!

Sabrina Vaz disse...

Todos tem uma história parecida! Nesses tempos não dá para andar nas ruas desatenta, principalmente as mulheres, que se expõe frágeis...

Eu também desconfio de todos, e fico sempre olhando para trás, mas o melhor remédio é andar clamando a Deus, para que nada de ruim aconteça, porque realmente, só Ele que pode fazer alguma coisa!

Beijinhos linda!
Sucesso


SV

Anônimo disse...

o condicionamento de uma vida inteira não some da noite pro dia,é aos poucos e sempre.

Bjos e []s

Ivette Góis