quarta-feira, 20 de abril de 2011

A boa idade







Já falei aqui que adoro os velhinhos holandeses? Não? Pois é verdade. Eles são simpáticos, afáveis e adoram puxar conversa. Cumprimentam as pessoas, mesmo as desconhecidas, com alegria e cordialidade. Claro que há exceções e alguns são bem ranzinzas, mas a minha experiência com eles sempre foi muito positiva. Evidentemente, o fato de eu ter sido criada pelos meus avós maternos intensifica essa empatia, mas, cá pra nós, eles são muito fofos.

Se estou na parada do bonde ou do ônibus, é batata! Além do bom dia e do boa tarde (raramente os adultos jovens dão, infelizmente), sempre há o tempo bom ou ruim, a demora do bonde, enfim, qualquer pretexto vale para iniciar uma conversinha. No começo, eu torcia para que isso não acontecesse. Não porque eu não gostasse de conversar, mas porque eu me sentia super constrangida (ainda me sinto, mas menos) em dizer que não falava holandês e responder em inglês. Hoje em dia, digo que não falo muita coisa em holandês, mas que vou estudar blablablá e, o melhor, em holandês! Com todos os erros típicos de quem está aprendendo, sem me sentir envergonhada, porque simplesmente encontro neles encorajamento. A grande maioria diz que a língua é muito difícil mesmo e que eu já consigo me sair bem.

Ontem à tarde, na ida para a escola de Maricota, um senhorzinho chegou e, claro, o dia lindo foi o pretexto para a conversa enquanto esperávamos o 9. Ele disse que trabalhou muitos anos em uma multinacional, arriscou um obrigado e um até logo em português e disse que, apesar da nossa língua também ser difícil, o holandês não ficava atrás. E o povo, às vezes, também é bastante complicado, nas palavras dele. Ri e tive de concordar, de certa forma. Se ele soubesse o quanto brasileiro também capricha na complicação...

Ao contrário da nossa cultura patriarcal, a história por essas bandas de cá é diferente: os idosos são mais independentes no sentido de ter uma vida além da dos filhos. Aqui na Holanda, não é comum, como na maioria dos países latinos, que os idosos morem com seus filhos, que, por sua vez, já constituíram família. Eles moram sozinhos e fazem tudo (compras, trabalhos domésticos etc.) por conta própria, quando têm saúde para tal, e com a ajuda ocasional de parentes ou de alguém pago para esse fim, quando não conseguem mais.

Quando não têm mais condições de viver sozinhos, simplesmente vão para um asilo de idosos. Cheguei a conhecer um em que a tia de Paul morou: era muito bacana, quartos individuais, muita área verde, local para receber visitas, lanchonete, brinquedoteca para as crianças, acesso à net etc. Claro que existem instituições para todos os bolsos, de acordo com a quantia que o idoso pode pagar com a sua aposentadoria, mas nada tão ruim que lembre aquelas clínicas de repouso que nos horrorizam no Brasil.

Mas voltando aos velhinhos simpáticos que sempre encontro, hoje mesmo é uma festa para eles: além de o dia estar lindo, na quarta-feira a criançada só tem aula até o meio-dia, então, é muito comum ver as omas e os opas (vovós e vovôs) passeando com os netos em parques, fazendinhas etc.

Outra coisa interessante é a maneira como eles se comportam no transporte coletivo. Sempre que estou sentada e um deles está perto e em pé, ofereço o meu assento. Eles raramente aceitam, acredito que para mostrar que podem aguentar em pé, apesar da idade. Mas eu sigo oferecendo, claro.

Daí que não tem como não gostar e respeitar cada vez mais essas pessoas cheias de dignidade e simpatia, não? E o fato de puxar conversa também tem a ver com solidão, claro. Essa independência toda também tem um preço.

Uma das coisas que pretendo fazer tão logo esteja dominando relativamente bem o idioma é trabalho voluntário em algum asilo, aqui perto de casa tem um. Além de ajudar na prática do idioma, levo um pouco de companhia para essas pessoas e resgato algo dos meus velhinhos, dos quais sinto tanta saudade.




2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bacana isso. Pena q os idosos no Brasil sejam tão desrespeitados, muitas vezes abandonados e maltratados. Infelizmente a cultura do descartável tb chegou nos relacionamentos, admiro as sociedades q respeitam e procuram aprender com os seus velhos, como as orientais.

Bjos e []s

Ivette Góis

Kenia Mello disse...

Pura verdade, infelizmente.
Beijão.