quarta-feira, 4 de maio de 2011

Osama, Obama, onde estás?



Enquanto a aprovação a Barack Obama sobe nove pontos depois da morte de Osama bin Laden, fico pensando como a humanidade é incapaz de aprender com os próprios erros. E é a partir dessa reflexão que, no meu conceito, Obama caiu pra lá de nove pontos. Com a morte de Bin Laden, ao que parece, sem chance de defesa, à queima-roupa, os Estados Unidos perderam uma ótima oportunidade de se reafirmar como uma nação que merece respeito. Ao invés, preferiram se igualar na barbárie, na dissolução de todos os valores que apregoam e que lhes fazem uma democracia.

Em uma missão que desde o início foi encetada para o extermínio, o que fez o homem mais poderoso do mundo, Prêmio Nobel da Paz de 2009? Nivelou o seu país, o seu governo e a si próprio no mesmo patamar da selvageria e da insanidade provocadas pela cegueira da vingança. Muito pequeno pensar que essa atitude visou ao seu fortalecimento no processo de reeleição. Muito pequeno. O que sobra, então?



Obama perdeu uma grande oportunidade de quebrar a cadeia do ódio, desperdiçou a chance de deixar o seu nome na história não apenas como o primeiro negro a presidir os EUA, fato já consumado e escrito, mas como alguém que realmente entende o significado do prêmio que recebeu, dois anos atrás. Alguém que conseguiu enxergar na tríade Holocausto-judeus-palestinos, por exemplo, o quão cíclico e explosivo o sentimento de revanche, de ódio e de belicosidade pode ser. Que, a despeito de qualquer dor provocada, nada pode legitimar a perpetuação do ódio e da vingança, partam eles em qual direção partirem. Por que cito esse exemplo? Porque tivessem os judeus aprendido com seu própio sofrimento, não estariam impingindo o mesmo tipo de opressão ao povo palestino. Obama parece não ter aprendido com os exemplos, que são muitos.



Bin Laden não era um santo. Na galeria para onde Osama foi despachado, encontram-se os piores seres humanos que já pisaram na terra, não há dúvida quanto a isso. Além das muitas vidas ceifadas, incluindo as famílias que ficaram mutiladas pelo 11 de Setembro, Osama transformou o mundo em um lugar muito perigoso: antes, quando se falava em terrorismo, vinham à cabeça alguns países da América do Sul, IRA, ETA e só. Depois dos atentados de Bin Laden, o perigo mora aqui e em qualquer lugar. Um fanático, um louco, um ser humano execrável. Mas os Estados Unidos trataram de transformá-lo em um mártir. Se antes o mundo inteiro o odiava, hoje muitos começam a enxergar um rasgo da humanidade que o próprio Bin Laden jogou no lixo da História ao praticar atrocidades.



E aqui nem me detenho nas inúmeras contradições e situações nebulosas que envolvem a morte de Osama. Ora se diz que ele reagiu e estava armado, ora se diz que estava desarmado e na cama. Ora se diz que fez a mulher de escudo, ora se diz que a mulher sobreviveu. Onde está o corpo de Bin Laden? Ora se diz que foi enterrado no mar, de acordo com os rituais islâmicos. Quem pode acreditar nisso? Desde quando quem sai em uma missão, cujo único objetivo é a morte, está preocupado em respeitar um cadáver odiado? Se eu tenho essas dúvidas e não sou a única a tê-las, se eu desacredito da boa-fé norte-americana, se eu acho que essa história está mal contada e que muita maquiagem ainda vai ser colocada por cima, é por única e exclusiva culpa do próprio governo norte-americano. Tivessem-no capturado e levado a um tribunal para ser condenado à morte, que fosse, e aí fizessem uso de toda parafernália midiática e hollywoodiana de sempre, que fosse também, assim, e só assim, não estariam agora na mesma posição do bandido. E com a tremenda batata quente de ter de explicar o inexplicável. Perderam, cowboys.





7 comentários:

Anônimo disse...

Kenia,excelente o seu artigo!Botou pra fora o que eu não tinha ainda digerido sobre o assunto. É uma pena q a humanidade sempre dê passos para trás e que não aprenda com os próprios erros.

Bjos e []s

Ivette Góis

Anônimo disse...

parabéns pela lucidez e pelo excelente texto reflexivo.
Forte abraço, Jéssica Munhoz.

S. W disse...

Kenia, como disse Condolessa Rice à CNN ontem no meu horário de almoço: O mundo está a salvo graças a América.

Mas quer saber o que eu acho? esse teatro todo é só mais um dos negócios entre a familia Obama e a familia "America".

Beijos

smsedi disse...

Acho que o Barack Obama finalmente se rendeu ao que todos queriam: guerreie, a qualquer custo, se preciso. Bom, isso acabou por alavancar a sua aprovação frente ao povo que significa que antes do ataque a Osama ele estava 10 pontos abaixo e hoje tem 46% de aprovação segundo pesquisas. Bom, ele saiu apaludido. A questão é: até quando?

Rydi disse...

Concordo em partes, análisei muito sobre isso e percebi que nós latino-americanos(as) somos apaixonados. Queremos preservar a vida, dar jeitinho nos problemas, ser pacíficos e etc, etc. Em parte é bom ser assim, em outra não. O Brasil é o país da impunidade justamente por sermos assim, ninguém leva a justiça à sério, os criminosos sabem que terão penas brandas e que ninguém pode tocá-los que logo tudo se torna crueldade e desrespeito aos direitos humanos, com isso eles deitam e rolam. Osama matou 3000 mil pessoas numa operação gigantesca que envolveu 3 aviões, causando danos irreparáveis e amendrotando o mundo. Se ele estivesse vivo, estariam acontecendo retaliações para todo lado. No meu ponto de vista os EUA fez certo, em auto-defesa ou não, pôs um ponto final nessa história. Eu acho que eles estão com o corpo, mas não vão dizer.

:)

Kenia Mello disse...

Rydi,já eu acho que a concordância com a posição dos EUA no episódio da morte de Bin Laden, essa, sim, é que é uma atitude emocional. Como falei ao longo do post, a noção de Justiça (com j maiúsculo mesmo) é o grande diferencial entre a barbárie e a civilização. Os EUA erraram e agora não sabem como se posicionar diante da opinião mundial, daí esse bombardeio de versões e essa tremenda cortina de fumaça, em um estado de legalidade, isso não aconteceria. Como falei anteriormente, a criatura não ers santa, era uma besta-fera, mas qualquer criminoso tem o direito de ser julgado e não ser executado sumariamente. Os Eu perderam uma oportunidade, talvez a última, de merecer o respeito do resto do mundo, apesar da sua história de desmandos, que é muito antiga.
E quanto à questão do Brasil, o problema é que as nossas leis têm muitas brechas e um monte de recursos para livrar criminosos em poucos anos de pena cumprida, por exemplo. Ainda existe, em determinadas regiões, a questão do coronelismo, imperando a lei da grana e do poder em detrimento da Lei. O buraco é mais embaixo. Preservar a vida e ser pacífico ainda são possíveis soluções para um mundo melhor e mais justo, mas não confunda isso com sentimentalismo e conivência com crimes hediondos como os praticados por Bin Laden. Seu julgamento nunca poderia culminar em perpétua, na minha oipinão, a pena de morte seria a única possível, mas ele deveria ter sido julgado. O que os Eu fizeram foi por em prática a Lei de Talião (1700 e bote força A.C.), se igualando a quem eles mataram.
:)

Rydi disse...

Oi Kenia, hoje que vi tua resposta. Eu entendo bem o teu ponto vista :), na realidade eu faço parte da parcela que já está intolerante. Será que se agirmos racionalmente e darmos a chance desse criminoso ser julgado não abre a brecha para que eventuais criminosos com as mesmas idéias surjam? Sei que o olho por olho, dente por dente é voltar ao passado, mas infelizmente nem sempre a "evolução" ajuda quando estamos lhe dando com pessoas (no caso oriente médio) que ainda vivem nesse passado. E a comparação que fiz com os criminosos brasileiros foi a mesma em relação à sermos tolerantes, na realidade a legislação está baseada na nossa tolerância, eles sabem disso e se aproveitam. Como disse, entendo bem o seu ponto de vista e até concordo com ele, mas nem todo ser humano evoluiu de maneira que venha assimilar "as leis" criadas pelo homem, o que eles veêm é "não fizeram nada com fulano, não fazer comigo também". Esse assunto é tema pra debate e ficaríamos o dia todo debatendo, outras pessoas também teriam outros pontos de vista e etc. Não é fácil chegar à uma única conclusão :)

abraços