Vivendo na Holanda, readquiri um costume que me acompanhou a infância toda, mas que desapareceu na vida adulta: ir à feira. Cresci indo à feira com a minha vó, e não se tratava de qualquer feira, não: era a Feira de Caruaru, moral. A maior feira ao ar livre do mundo, dizem as lendas greco-romanas (ai, como estou espirituosa!). Pois bem, todo sábado cedinho, íamos eu, D. Nau e mais alguma outra pessoa, que podia ser meu avô ou uma das moças que trabalhava lá em casa.
Foto da Feira de Caruaru no tempo da minha narrativa (década de 70):

Imagem deste século:

Aqui, além das feiras grandes em Amsterdam, nas quais vamos mais pra assuntar e comprar besteira do que fazer o rancho propriamente dito, tem uma feira na nossa área, Diemen Centrum, todas as quartas e não é o dia todo, apenas na parte da manhã, o que nos limita bastante porque nesse horário, estou no curso e Paul, no trabalho. De modo que nos sobram os sábados de manhã, nos quais apenas as barracas de frutas e verduras, de pães e biscoitos e de queijos e ovos abrem.
Feira sempre é uma coisa legal, aquela muvuca básica, produtos bons e bonitos e, quase sempre, mais baratos do que nos supermercados. Coisas fresquinhas saídas das fazendas. Neste ponto, as feiras holandesas, não aquelas muvucosas das grandes cidades, mas as pequenas, que não são pra turista ver, são as melhores:
Devo confessar que fico apenas no apoio (leia-se segurando as sacolas), enquanto Paul vai pra fila e faz os pedidos nas barracas. Sim, porque depois do curso, já me sinto mais à vontade para não precisar a toda hora, quando falam comigo na rua, pedir desculpas em inglês e dizer que não falo holandês. Agora, já não me intimido e digo que se a pessoa falar mais devagar, eu posso entender. Mas na feira, meus caros e caras, a coisa muda de figura! Especialmente no trailer dos queijos e ovos: o boer (fazendeiro) é uma figuraça! Fala pelos cotovelos e, gente, com um sotaque que escapa do meu nível de entendimento. E ele é simpático, adora puxar papo com os fregueses, e não basta apenas escolher, pagar e pegar. Ele conversa, ri, faz piada, pergunta, responde antes de você conseguir piscar, ou seja, eu só não faço xixi nas calças quando estou nas proximidades porque fico de costas, evitando estabelecer contato visual com a criatura, olhando as outras coisas enquanto Paul pega queijo e ovos.


De acordo com a bur(R)ocracia holandesa, eu devo mais um exame de língua holandesa para o governo daqui a três anos, mas, vou falar, no dia em que eu conseguir falar com o homem do queijo, entender o que ele diz e ainda me fazer compreender, me dou por satisfeita.